O segundo turno foi inventado justamente para que as pessoas escolhessem seu melhor candidato no primeiro, podendo definir entre os mais votados no segundo. Parece boa a lógica, só que na prática dá errado.
Dá errado porque o ambiente polarizado e as pesquisas convencem as pessoas de que devem usar o critério do segundo turno já no primeiro. Com isso, elas deixam de votar em quem realmente gostariam de eleger, para escolher entre os dois primeiros nas pesquisas. É o tal do “voto útil”. Uma dissonância cognitiva coletiva que conseguiu colocar na final do processo eleitoral para a presidência do Brasil em 2022, os dois candidatos com maior rejeição entre todos. Se isso não é uma estupidez, não sei o que é.
Como gosto de bolar estratégias e mecânicas de funcionamento das coisas, venho pensando em vários formatos de processos eleitorais que poderiam resolver esse e outros problemas. Todos têm pontos negativos e, até mesmo, inviabilizadores. Alguns contêm boas doses de humor e ironia, apesar de não os tornarem ruins na essência. Vou citá-los abaixo para acompanharem o raciocínio.
MODELO INVERSO
O eleitor deveria escolher alguns candidatos que, definitivamente, não quer como governante.
Pontos positivos: é fácil de entender e já descarta os com as maiores rejeições do segundo turno.
Um dos pontos negativos é que pode gerar confusão: “é pra escolher o que eu gosto ou que eu não gosto?” Outro, é que pode ganhar um candidato que não fede nem cheira, mas certamente seria melhor do que dois que cheirassem mal: o sujo e o mal-lavado.
MODELOS ORDENADOS
Existem várias possibilidades aqui, mas juntei em um tópico só. O eleitor poderia posicionar em ordem de preferência. A pontuação de cada um seria inversa a de sua colocação. Outra opção seria distribuição de pontos. Ex.: você tem 10 pontos para distribuir por, pelo menos, três candidatos e nenhum deles poderia ganhar mais do que seis…
Pontos positivos seriam, obviamente, a classificação por preferência. Imagina que um hipotético candidato fascista de direita teria maior pontuação de quem acredita que ele não é fascista (ou que acredita, vai saber). O candidato fascista de esquerda idem. Mas o segundo melhor candidato para ambos os lados talvez ganhasse mais pontos do que os líderes dos extremos.
Ponto negativo, obviamente, é a complexidade. Povo mal sabe apertar meia dúzia de botões coloridos, imagina distribuir pontos. Talvez a solução fosse descobrir uma interface quase infantil para isso: ligar as colunas, arrastar e soltar em um pódio, sei lá…
MODELO BBB
Precisa explicar? A cada semana haveria um debate e uma eliminação. O candidato que sobrasse seria o eleito. Não precisa ter prova do líder, de resistência, big phone, ou mesmo sortear carros aos candidatos. Mas seria legal ter um candidato-celebridade, como o Alexandre Frota. Brincadeira. E não deveria permitir outra forma de campanha tradicional. Seriam só os debates.
Como pontos positivos teríamos a chance de visibilidade dos mais desconhecidos, devido ao grande número de semanas, e um formato mais baseado em propostas. O custo baixíssimo da campanha para os cofres públicos também seria favorável, assim como a compreensão das regras do jogo, por se basearem em um programa de bastante sucesso na televisão brasileira.
O ponto negativo é que, talvez implicaria na mesma questão do voto útil — talvez o raciocínio fosse de ir eliminando todos os demais que não fossem os líderes de pesquisa. Outro ponto negativo é o incômodo e o custo de se ter que votar 15 vezes, sei lá. Seria ótimo que pudesse ser feito por aplicativo, mas traria outros problemas. Poderiam limitar o número de candidatos em cinco através de uma eleição prévia, quem sabe?
MODELO SEGUNDO TURNO TRIPLO
Talvez esta seja a melhor opção. Vão três para o segundo turno ao invés de dois. Sabendo disso de antemão, o eleitor teria mais coragem de não usar a lógica (ou ilógica) o “voto útil” no primeiro turno, pois teria uma segunda chance de consertar um mal maior. Assim, o candidato que talvez seja o menos rejeitado pela maioria poderia demonstrar a real força que tem e chegar na final empoderado e com chances mais reais.
É. Eu acho que essa é a melhor mesmo. E você?