Não sei o que é festa de formatura conjunta nem colação de grau. Não que nunca tenha ido nas de amigos nem tampouco não tenha me formado. Falo da experiência de ser “anfitrião” nesses eventos coletivos. Na do segundo grau (ensino médio, hoje) estava viajando. Na da faculdade, vou contar a história.
Cursei Comunicação Social — Habilitação Publicidade e Propaganda, na UCPel. Entrei em 1992, mas acabei me perdendo de minha turma. Não, não rodei. Na verdade, até rodei em uma, mas a disciplina acabou sendo tirada do currículo e não precisei refazê-la. O que ocorreu é que, na ânsia de frequentar matérias mais legais e práticas, acabei antecipando umas e deixando para depois outras que não deveria. Só faltavam dois semestres do tempo regulamentar (quatro anos) mas ainda cinco cadeiras para cursar em sequência. Eram pré-requisito umas das outras. O coordenador do curso não deu mole e acabei entrando pelo cano. Fiquei muitos períodos fazendo apenas uma disciplina… Na real, não lembro bem — ”Não sei. Só sei que foi assim.”
Ao frigir dos ovos, acabei me formando só em 1998 e, sem colegas muito chegados, não estava na pilha da cerimônia da colação de grau e da festa conjunta. Acabei na formatura interna e fazendo uma festa só para mim — o tradicional “coquetel”.
Na minha cabeça, colação interna era uma sala de aula adaptada, com um representante da reitoria sentado à mesa do professor. Receberia o diploma, apertaria uma ou duas mãos e estava feito o carreto. Pois que, na data marcada — um dia de semana à tarde —, estava trabalhando quando alguém me perguntou: “Cuca, e a tua formatura?”. Estava atrasado. Nem tanto, mas para meus padrões virginianos, sim. Saí em disparada.
Era no teatro do Colégio São José, onde nunca havia estado até então. Não imaginava que se tratava, de fato, de um “teatro”. Vislumbrava um estrado e algumas cadeiras escolares na plateia. Mas era um teatro mesmo. Quase com “th” — “theatro”.
Não precisa dizer que cheguei como saí do trabalho, em um dia bem informal na agência. Estava de calça de moletom, daquelas bem folgadas e coloridas. Coisa que nem me vejo usando, mas eu era “xóvem e xóvem é outro papo”. Na chegada ao local, já senti que teria problemas. Só dava gente engravatada, em plena terça-feira (ou o que o valha), em um horário improvável como 15h30, e marcando uns 30 graus. Fui entrando pelo corredor em meio às cadeiras. Eram plumas e paletós de um lado, cheiro de naftalina do outro, maquiagens nos trinques. Todos me olhando e achando que eu fosse o “rapaz do som”. Aliás, nem quem está a serviço em uma formatura se vestiria como eu. São profissionais o suficiente para saber que a forma com que vão vestidos influencia na experiência dos convidados.
Avistei uma plaquinha escrito “formandos”, que reservava assentos nas primeiras filas, e me dirigi para lá. Sentei o mais depressa possível para passar menos tempo em pé. Vergonha em pé é sempre pior que vergonha sentado. Uma senhora com sangue nos olhos, daquelas que gostam de fazer justiça com as próprias mãos, cutucou meu ombro e, com voz afiada, atacou: “Esses lugares são exclusivos para formandos”. Vesti minha cara blasé e, como um estilista de moda trajando modelito tendência para 2030, respondi: “Eu sei”.
Era uma solenidade para diversos cursos ao mesmo tempo. Toda universidade que decidiu não colar grau com suas turmas naquele semestre estava ali. E mais eu, claro, de abrigo roxo.
Na hora que chamaram meu nome, respirei fundo, fingi determinação, pisei os quatro ou cinco degraus para subir ao palco, apertei com vigor umas seis mãos, peguei meu diploma, virei para a foto, fiz um X e fui embora direto. Ah! Essa foto eu queria ter!
Quando cheguei de volta na agência — afinal o dia estava corrido e a tarde ainda na metade — a Dani e a Gigi me deram o recado:
— Tua mãe ligou.
— E o que vocês disseram?
— Que tu tinhas ido te formar.