No Blog du Cuca de hoje, iremos entrevistar o índio Itacuca, que em tupi significa “pão doce coberto com açúcar feito sobre pedra”. Vamos descobrir o que pensa o homem indígena sobre as questões de propriedade e cultura que conflitam com o homem branco.
BLOG DO CUCA — De quem é o Brasil para o senhor?
ÍNDIO ITACUCA — “Senhor”, o caralho. Me chame de “Doutor Itacuca”.
BC — Desculpe, “… para o Doutor?”
ÍI — O Brasil é dos índios. Já estávamos aqui quando vocês chegaram.
BC — Com certeza que sim. O que o “doutor” acha que deve ser feito então?
ÍI— Queremos ter casa, comida, roupa lavada, um carro “bão” na garagem, Unimed, uma bolsa-índio para cada filho e devolução de nossas terras, na proporção de mil hectares para cada um de nós. Você sabe que índio é um povo nômade, vivemos da natureza, não sabe? Precisamos de espaço.
BC — Sei. Mas sendo assim, não seria correto que a cultura do homem branco não fosse misturada com a do índio? Por exemplo, as moderidades que o “doutor” citou não deveriam estar fora dessas exigências para que o índio pudesse ser, de fato e em sua plenitude, índio? Afinal, assim era quando os europeus aqui chegaram e assim estariam até hoje se não fosse a intervenção do homem branco.
ÍI — Você quer dizer devolver a televisão via satélite, a caminhonete cabine dupla, o calção do Flamengo e voltar para o mato?
BC — Exatamente.
ÍI — A gente é índio mas não é bobo.
BC — Pessoalmente, acho que o índio tem direito de ser índio (100% índio) e tem direito de ser cidadão (100% cidadão). Como cidadão ele terá seus direitos e deveres. Misturar é que fica estranho — ter só direitos e não ter deveres é o que todo mundo quer, mas não é justo com o restante do povo.
ÍI — O que não é justo é roubarem nossas terras, matarem nossas famílias em troca de espelhinhos. O homem branco tem que pagar.
BC — Mas isso faz centenas de anos. Os homens de hoje, em sua imensa maioria, não agem assim, têm vergonha dessa face de seu passado e gostariam de honrar as responsabilidades que herdaram. Porém, por outro lado, no Brasil, somos uma miscigenação. Eu mesmo também devo ter em meu sangue tanto índio como negro. Como saber quem é culpado e quem é vítima do passado? Não seria melhor a gente viver em paz, como semelhantes, já que não inventaram uma máquina do tempo com a qual pudéssemos reverter os erros de nossos ascendentes?
ÍI — Mim não falar sua língua. Mim com fome. Podemos pedir para iniciarem o rodízio?
BC — Claro, “doutor”.