Meu pai dizia isso e eu achava-o um chato! Mas já faz um tempo que o compreendi totalmente.
“EU PERGUNTO UMA COISA E AS PESSOAS RESPONDEM OUTRA.”
Eu falava para ele: “foi tu quem não fez a pergunta direito!”
Mas não é. Vou exemplificar com um caso simples. Veja:
— Vai ter lasanha hoje?
— Eu não gosto de lasanha.
Eu não perguntei se você gosta de lasanha. Eu até sei que você não gosta de lasanha. Eu só perguntei se vai ter. Este é um exemplo em que até se entende a resposta. A pessoa não fez lasanha porque não gosta.
Mas essa mania de responder outra coisa pode ser mais complexa:
— O contrato pode ter data retroativa?
— Já existe um contrato.
Como assim, “já existe um contrato”? Eu não perguntei isso e nunca assinei um contrato. Então, começam as divagações e se instaura uma conversa enorme que não vai direto ao ponto. Lá pelas tantas, com muita fuga de assunto, entendendo que havia um contrato implícito, verbal, que deve ser tomado como tal. Portanto, deve-se encarar o atual como uma alteração e tem que ser com data de agora.
Tenho gatilhos de compreensão que exigem uma resposta direta ao ponto para minha pergunta. Depois pode — e deve — vir a explicação, ou eu fico batendo biela: “Não, não pode ser com data retroativa porque já havia um contrato verbal anterior e ele vale do mesmo jeito.” Ou seja, responde o que eu perguntei e depois explica ou eu fico totalmente boiando no assunto. Até porque eu realmente preciso de uma explicação para as coisas complexas. Não aceito um “sim” ou um “não” sem explicação.
Outro dia a Silvia fez um sorvete em uma fôrma de bolo, daquelas que tem um cone no meio. À noite fui inaugurar o doce. A Alice disse: “Tem que desenformar”. “Mas por que tem que desenformar?” — pensei. “A Silvia disse que tem que desenformar!” “Mas vai ficar mais difícil de guardar de volta no congelador, as outras coisas vão encostar nele”. E meti o pegador de sorvete para nos servir. No outro dia a Silvia viu o “arrombamento” que fiz no prato e falou: “Mas não desenformaram?”. “Não. Achei mais prático assim.” “É que tem cobertura.”
Sou teimoso. Não aceito também apenas a resposta. Preciso da explicação :)