Fui ver Paul McCartney em Porto Alegre no último dia 13 e cheguei a uma conclusão: algumas coisas precisam mudar com a produção dos shows internacionais no Brasil. Somos tradados como animais. Sempre, nessas situações, me transporto para a Roma antiga em um espetáculo de gladiadores. O pior é que as arenas romanas, por sua arquitetura, proviam uma experiência bem melhor de visualização.
Cheguei uma hora e meia antes do show. A fila, que começava ao lado direito da frente do estádio, corria pra esquerda, ia para trás, e ainda dava curvas por lá. Quando eram 21h, com pontualidade britânica, Paul começou a tocar. A gente ainda estava na rua. Pararam de revistar para aumentar o fluxo e, estimo, umas 10 mil pessoas entraram livres, sem respeitar as normas de segurança. Aconteceu a mesma coisa no Roger Waters há alguns anos e deve acontecer em todo megaevento mal organizado em terras latino-americanas. Trocando em miúdos, por uma questão de localização dentro do estádio, não fazia diferença alguma chegar uma hora e meia antes ou pontualmente às 21h. Eu estaria exatamente onde fiquei. Não conseguiria ver o palco do mesmo jeito. Assisti pela TV, ou seja, pelo telão. É isso que o valor do meu ingresso compra? Menos mal que estava lá pela música e não pela imagem. Na real, era pelos dois.
Não sei se o cachê dos artistas para o Brasil é maior do que para o primeiro mundo — certamente os custos de transporte de equipe e equipamentos sim — mas justifica o ingresso mais simples para o show do Paul McCartney no País custar 3,5 vezes mais caro do que o mais barato no show que fez, uma semana antes, em Nova York? Aqui o valor iniciava em R$350. Em NY, US$30. Um amigo meu foi, chegou 20 minutos antes do horário marcado, sentou em cadeiras numeradas, extremamente confortáveis, com visibilidade perfeita. Pagou US$90. Eu paguei R$400 (mais taxa do site) para não conseguir ver o palco e ter que ficar olhando pelo telão com chuva na cabeça. A lotação no Barclays Center, em NY, é de 19 mil pessoas. A do show no Beira-Rio, 49,5 mil. Aí, ainda tem essa papagaiada toda de desconto para estudante, para idoso, para sei lá o quê. Sabe quem paga por isso, né? Não é o governo, não é o produtor e não é o artista: sou eu, que subsidio no valor da inteira!
Será que falta dinheiro para atender as pessoas com competência e agilidade? Será que nomes como Paul McCartney e U2 não deveriam exigir uma infraestrutura mínima para atender os fãs quando se aventuram por países subdesenvolvidos? Afinal, são tão defensores das boas causas…
Tirando todos os problemas de “entrega de produto”, é claro que o show foi demais, a performance foi sublime, o set list muito bom e não me arrependo de ter ido. Paul é um grande artista que, ao alto de seus 75 anos, mostra por que fez parte da maior banda de todos os tempos. Só fico muito triste com a falta de consideração e profissionalismo a que precisamos ser submetidos, mesmo quando pagamos caro por um evento de nível internacional aqui no Brasil.