Mesmo quem não gosta de ler manuais de aparelhos eletrônicos sabe que não se coloca ovos no micro-ondas. As moléculas de água expandem e fazem o alimento hermético explodir. Eu também sei e, por isso, nunca experimentei, a não ser com ovos mexidos. Mas outro dia me deu aquela coceirinha. Eu sou o tipo de pessoa que não aguenta ver uma espinha sem cutucar, uma picada de mosquito sem fazer fendas em cruz e em “X” com a unha, uma casquinha de ferida sem arrancar, uma cutícula esfarrapada sem morder. Sim, sou do tipo ansioso.
Cozinhei três ovos, de forma convencional, no fogão. Apressado, retirei da água antes de ficarem completamente duros. Precisava com a gema bem cozida. Como já tinha descascado, tive uma brilhante ideia: “Trinta segundinhos de micro-ondas não serão suficientes para causar qualquer dano”. Ousei. “Pi, pi, pi, pi.” Deu certo! Não explodiram! Mas ainda não estavam no ponto que queria. “Só mais trinta não dá nada.” Quando faltavam apenas 5 segundos — “puuuff” — um foi pelos ares, ou melhor, por dentro do forno. “Imbecil!” Retirei com cuidado. Quando larguei sobre a mesa, o segundo se destruiu sujando toda a cozinha. Ainda bem que não estava mole, o estrago seria maior. Sobrou um. Como uma espinha, uma picada de mosquito, uma casquinha de ferida, uma cutícula rebelde, aquele ovo latejante me chamava. Peguei uma faca e espetei.
“Puuuuuuuuuuuufffffffff”.
Saldo: ovos espalhados pelas paredes e um dedo queimado.