Me sinto estranho parado em uma esquina; esperando por alguém. Não consigo deixar de imaginar que podem questionar o que faço ali; quais minhas intenções. Pego o telefone, finjo alguma consulta. Respiro fundo, demonstrando insatisfação com o atraso de alguém. Movimento-me do meio-fio à parede, inquieto. Afinal, parado, causaria muita desconfiança — não tenho más intenções.
E mudar de sentido enquanto caminho? Seja por um esquecimento de algo que precise voltar e buscar, seja por engano de trajetória mesmo, acabo levando a mão à cabeça pra simular um lapso qualquer. Afinal, quem em sã consciência não tem certeza para onde vai? O que vão pensar?
Também me sinto estranho almoçando sozinho em um restaurante. Não acho tristes pessoas que fazem, afinal é meio-dia e todos comem entre um turno e outro de trabalho. Mas, não sei por quê, deduzo que pensem isso de mim. Prefiro buscar comida a comer fora, mesmo que dê mais trabalho ou leve mais tempo. Na pior das hipóteses, nem almoço. Sentar sozinho, nem em lanchonete.
Por muito tempo também nutria ressalvas em andar com fones de ouvido. Quando adolescente, os walkmans (ou o plural seria “walkmen“?) reinavam, mas poucos os tinham. Não havia essa adesão ao escudo sócio-musical que esses dispositivos portáteis propiciam. Quem usava acabava chamando mais atenção do que se isolando. Deve vir daí meu bloqueio. Prefiro sempre a discrição. Talvez seja um dos motivos pelos quais hoje optei pelos in ear. Recentemente, comprei uns externos muito bons. Ainda estou tomando coragem para usá-los na rua. Me sinto ridículo. No mínimo, estranho.
Mas estranho mesmo, nesses casos, é me importar tanto com o que pensam de mim. Pois, para outros assuntos, na maioria das vezes, estou me lixando. O que você pensa disso?