Minha mulher, Stela — italiana pura de pai e mãe — tem direito a solicitar sua cidadania nesse país. Por ser algo bem complicado e demorado de agilizar, nunca foi atrás. Porém, surgiu uma oportunidade. O tio dela encaminhou toda a papelada, que inclui certidões de nascimento e casamento de toda sua ascendência. Portanto, o caminho está aberto, basta dar entrada como “portador de título” (brincadeira). Ou seja, se já há alguém da família que requisitou, é só informar o número do processo e tudo sai mais rápido.
A segunda boa notícia é que como o esse tio é o irmão da mãe e não do pai, a possibilidade de cidadania é ampliada pra mim, “o marido”. Logo eu, um reles mistureba de português, francês e sabe-se-lá-o-quê-mais (inclusive italiano). Fiquei pensando nas vantagens de ter um passaporte da Comunidade Europeia, mas me ocorreu algo perturbador: ao se tornar cidadão de um país qualquer, imagino que se adquire não só os direitos de seus compatriotas como também os deveres. E aí a coisa começa a pegar. Quais seriam os deveres de um italiano?
Imagino a lista:
– é proibido cortar o macarrão;
– só é permitido fazer pizza Margherita, com mussarela de búfala, molho de tomate e manjericão;
– é preciso aprender truco jogando, e tendo as regras explicadas durante o próprio jogo, por um italiano ou descendente puro, que não admite substituir os termos técnicos e nomes de jogadas e macetes por outros mais didáticos — tipo aprender a falar japonês com um japonês que só fala japonês;
– há de se tomar vinho caseiro em toda refeição, em uma quantidade que projete a soneca pós-refeição;
– polenta pré-pronta nem pensar — tem que ser feita no muque com apenas farinha de milho, água e sal;
– deve-se receber italianos, membros distantes da família, uma vez por ano, durante 3 semanas, em nossa casa no Brasil — país que eles adoram porque tudo é mais barato — e levá-los para fazer compras em Ciudad Del Leste, Paraguay.