Abra sua câmera na aula

Pensem no professor que abre a sala de aula on-line e vê os alunos entrando: imagens pretas com um círculo no meio e as inicias vão pipocando.

— Quem seria mesmo o AP, o CK, o MN, o JE?

Fazem a chamada e, depois, tirando o CDF que interage (quando há um), ministram a disciplina para o vazio. Não sabem se os alunos apenas deram entrada e desapareceram, não têm feedbacks sobre a compreensão da turma, não recebem um sorriso de canto de boca perante uma brincadeira, nem uma expressão de não compreensão a qual ele poderia ajudar a resolver. É uma aula solitária dada em frente a um abismo de incertezas. É quase como se gravasse um vídeo e reprisasse para todas as turmas. Acho que ninguém espera isso da educação.

Esta semana fui convidado para um bate-papo na disciplina de redação publicitária da Comunicação Social da UCPel. Só eu e a professora em vídeo. Todos os demais eram telas pretas. Pelo menos, alguns escreviam no chat. Outros nem deveriam estar escutando. Suponho que entraram apenas para ganhar presença.

Perguntei para as minhas filhas por que faziam isso. As respostas foram:

— Ah, a gente está feia, de pijama, tomando café.

— Não quero aparecer assim pra toda turma.

Mas aqui em casa mudou. Hoje a Malu abriu a câmera na aula de literatura. Em seguida uma colega também abriu e, logo, todos estavam de câmera ligada e o professor emocionado.

A partir de amanhã, acordarão meia hora antes para tomar seu café, se arrumar e assistirem as aulas sentadas à mesa. É o mínimo de respeito que um professor merece receber.

#AbraCameraNaAula

Veja se o Corona está parado neste andar

Não. Não irei falar aqui do perigo dos elevadores como local de transmissão do COVID-19. Você já vai entender onde quero chegar.

Quase 81 mil pessoas foram diagnosticadas com o vírus na China, um país de 1,4 bilhões de habitantes. Isso é menos que 0,00006% da população. Dizem que os diagnósticos representam apenas 15% dos casos. Ou seja, 540 mil infectados que 85% deles nem sintomas devem ter tido. Isso representa menos de 0,0004% do país oriental. É claro que os comedores de lámem parecem ter sido exemplarmente eficientes na contenção da epidemia, pelo que vimos nas notícias.

Antes de chegar ao elevador, quero fazer aqui uma pausa no raciocínio para propor um ponto secundário de reflexão.

Gostaria que um infectologista respondesse para eu aprender algo. Por que se considera controlada a epidemia por lá se ainda restam 1,39946 bilhões de pessoas passíveis de infecção? Não basta uma — e há pessoas ainda doentes — para começar tudo de novo? Ou as indústrias chinesas todas estão se voltando para a produção de álcool gel e WD-40 e vão barrar a praga de vez? Kkkk. É uma pergunta séria, apesar da brincadeira.

Mas vamos voltar ao viés original e descobrir onde o elevador entra na história.

Eu havia falado em 0,0004% da população atingida. Mas, além desse percentual reapresentar gente de carne e osso e esse número ser suficiente pra sobrecarregar o sistema de saúde, será que devemos realmente tratar o ser humano como uma percentagem? Uma vida é uma vida, e não importa a quantos zeros após da vírgula ela se encontra. Não é mesmo?

E é aí que traço o paralelo proposto no início.

Sabe a plaquinha aquela que muita gente pergunta por que existe fora da porta do elevador? Por que ser lei afixar a mensagem “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar. Lei número tal.”? Lembra? Pois então, quantas pessoas morrem caindo no poço porque a porta abre sem o elevador estar ali? Quantas leem e se livram da queda? Bom, aí vai a resposta que eu sempre dei a mim mesmo: se for para salvar uma vida, uma única que seja, terá valido a pena termos milhões de plaquinhas como essas espalhadas em todos os andares de todos os prédios pelo mundo.

E ainda, de quebra, estamos ativando a produção da indústria de sinalização, gerando empregos e fazendo girar a economia para fabricá-las.