A Semana Farroupilha passou e, além do cheiro de bosta no ar, me deixou “matutando” a respeito desse “orgulho gaúcho” que permeia nosso Estado. Não vou nem entrar em detalhes sobre aspectos obscuros do tradicionalismo gaúcho e da exaltação de uma guerra perdida (como muitos falam) pois nem tenho conhecimento histórico para tanto. Mas essa de bradar aos quatro ventos o tal (novamente) “orgulho gaúcho”, seja em forma de grito de torcida, em jingle no rádio, em adesivo de carro, em comercial de televisão, em discussão de bar e até em hino, sempre me pareceu uma coisa esquisita.
Eu não tenho orgulho de nenhuma qualidade minha que não seja um adjetivo de valor. Por isso, ser alto, ser gordo, ser branco, negro, ser homem, ser mulher, ser homossexual, heterossexual, não deveria ser motivo de orgulho nem de “desorgulho” para ninguém. Porém, ser inteligente, ser bom, ser ético, ser justo, ser competente, isso sim pode ser encarado com orgulho.
Quando alguém diz que tem orgulho de ser gaúcho, já traz na própria sentença um sentimento de superioridade que me causa náuseas. Eu sou gaúcho e não tenho nenhum problema com isso. Como não teria se fosse paulista, paranaense ou piauiense. Mas também não tenho nenhum motivo para me considerar superior aos outros.
Certa vez uma empresa da cidade realizou um encontro de vendedores de todo país. Os levou para um CTG. A ideia foi brilhante. É sempre curioso vermos a cultura de outros estados. A nossa tradição, com dança, música e costumes, apesar de montada por Paixão Cortes, é bonita de se ver. Só que ninguém esperava que a prenda prodígio de menos de 10 anos declamasse um poema tão ufanista que me fez ter vergonha das pessoas com quem eu dividia a mesa. Ela dizia coisas como “… povo como o nosso não há…”, “… ninguém é tão bom quanto a gente…”, e por aí vai. E vai além: basta lembrar dos versos do hino rio-grandense: “Povo que não tem virtudes, acaba por ser escravo”.
Esse negócio pra mim soa meio fascista. Como devem se sentir então os canadenses, os suíços, os noruegueses — pessoas que vivem em sociedades-exemplos, das quais teriam muito mais motivos para se orgulharem do que nós da nossa?
cuca Finalmente um gaucho compartilha da mesma visao que tenho sobre o ‘gauchismo’. A gauchada perde a nocao de que esse tal orgulho -que pode fazer algum sentido por ai- fica ridiculo e vergonhoso quando sai das fronteiras do RS. A forcacao do sotaque quando encontra outro gaucho, os brados de que ‘em porto eh tudo melhor’, entre outras gauchices, se tornam motivo de piada fora do territorio gauderio, onde os caras acham que, por onde forem, ja tem um ‘superbonus’ so por serem gauchos.
concordo, mas discordo de ti. é que nem o ‘sou brasileiro e nao desisto nunca’, entre outras representações sociais. têm peso, não dá pra desmerecer. nao é gaúcho adverbio, sujeito, ou substantivo; é um gaúcho impregnado de símbolos que agregam valor e vira adjetivo. É uma boa análise, mas há controvérsias.
Hitler devia pensar a mesma coisa.
eu tava em sao paulo quando alguem me perguntou “nao foi Dia do Gaucho esses dias?” eu nao sabia responder. pro resto do brasil a gente eh argentino/uruguaio
Eu só acho que deviam forçar tudo que é cavaleiro por aí a limpar a sujeira que seus cavalos fazem e restaurar a grama que destroem (vide Dom Joaquim pós-feriado).
Por que? Alguma identificação radicalista?
quer que eu escreva um texto pra ti? :P
(comentários racistas e sem argumentação serão sempre reprovados neste blog).
Bom saber que nem tem gaúchos que pensam assim…
Ótima reflexão. Faço das tuas as minhas palavras… Não acho que ser gaúcho seja nenhum tipo de adjetivo. Também não acho que sejamos “melhores” que ninguém ou simplemente porque nacemos numa determinada região do mundo somos “seres superiores”.