Nota do editor
Faz tempo que escrevi isto e minha opinião mudou bastante. Mas não irei apagar nem alterar por uma questão histórica de meu amadurecimento.
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Quem acreditaria que os americanos elegeriam um presidente negro tão cedo? Ou seria “tão tarde”? Afinal, já quebramos a barreira futurista dos anos 2000, a qual a ficção usava para datar suas previsões. Aquele tempo longínquo chegou.
Obama ganhou as eleições porque não apelou para o discurso racial. Ele não se vendeu como um candidato negro. Era apenas um candidato. Foi uma campanha sem ranço. Isso prova uma teoria antiga minha. Sempre acreditei que levantar a bandeira das causas raciais era o primeiro passo para o racismo. Fico extremamente feliz, e até presunçoso, que isso tenha se provado na maior esfera possível — a presidência “do mundo”.
Cada vez que alguém aparece na TV falando sobre discriminação — ou elevando o mérito de quem conquistou algo “mesmo fazendo parte de alguma ‘minoria'” — o preconceito se alimenta. Em certa entrevista, o ator Milton Gonçalves disse que só o convidavam para programas, entrevistas ou aparições públicas quando o assunto continha abordagens étnicas ou de relacionamento social inter-racial. Nunca era solicitado para falar sobre seu ofício de ator ou sobre qualquer outro tema corriqueiro, daqueles que os veículos de comunicação adoram obter o testemunho fútil de celebridades. Na novela “A Favorita”, da Rede Globo, ele representa um político corrupto, mas a questão racial nem é mencionada. Geralmente, haveria certo pudor em colocar um negro em um papel de vilão, com medo de julgamentos do tipo “só colocam negros como ladrões, assassinos etc”. Trata-se de uma vitória pessoal de Milton e de toda sociedade (note que não falei “sociedade negra”, “afro-descendente” ou “afro-americana” — ô, terminhos ridículos). Isso se chama evolução e fico feliz que as pessoas estejam percebendo e agindo de forma mais positiva com relação a esta questão. Estamos em plena Semana da Consciência Negra. A pessoa que a inventou deveria estar presa. Imaginem uma semana da consciência branca. Impraticável. Então, o inverso também.
Não devemos, em uma questão historicamente tão conflituosa, exaltar nossas diferenças. Somos todos iguais. Só é preciso que acreditemos nisso e não promovamos a dúvida. A prova é o Obama. Talvez eu nem devesse ter escrito isto, afinal, minha teoria é justamente a de que expor pensamentos desse tipo só cria distinções que não existem. Ah, agora já foi.
Matéria da Piauí deste mês: “Se você quer promover um funcionário , e tem que optar entre um branco heterossexual e uma negra lésbica, e esta última for uma funcionária melhor, o racismo, o machismo e a homofobia recomendam a escolha do branco heterossexual. Mas o capitalismo prefere a negra lésbica. (por Walter Benn Michaels, crítico literário e ensaista