Dizem que as normas de segurança das aeronaves, presentes nos folhetos e explanadas pelos comissários de bordo, servem apenas para dar uma sensação de segurança; de que há um plano B em caso de acidente. As chances de sobrevivência por queda são algo entre zero e deus-me-livre. Mesmo assim, tenho uma sugestão sobre a mensagem “em caso de pouso na água, use o assento de sua poltrona para flutuar”.
Creio que lembrar a possibilidade de pouso n’água não transmite tranquilidade a ninguém. O melhor seria não falar da hipótese, apenas na possível solução, como “use o assento da poltrona para flutuar”. Porém, essa construção também não é a ideal.
Imagine a situação: aconteceu o tal pouso no mar, o avião não se dilacerou, não afundou, os passageiros não ficaram presos na cabine para morrerem afogados, você não bateu com a cabeça nem desmaiou, a saída de emergência conseguiu ser aberta e seu trajeto até ela não ficou obstruído por gente morta ou bagagens de mão. Você está na porta do avião, a água está numa temperatura caribenha e você vai encarar o mergulho quando lembra da mensagem. Você começa, então, desesperadamente, a procurar por um assento para “flutuar”. Passa um pedaço de isopor boiando, mas a mensagem era específica — “use o assento da poltrona para flutuar” — e você não aproveita a oportunidade. Passa um pedaço de madeira, um espaguete de hidroginástica, uma jangada de náufrago… Mas você está focado no assento. Foi a ordem do mantra repetido pela aeromoça, pelo encosto a sua frente e pelo folheto de instruções.
Minha sugestão é que a formulação da frase seja apenas “Lembre-se: o assento de sua poltrona flutua”. Assim, não se fala de acidente (“isola”) e nem se restringe sua possibilidade de não afogamento a um assento de poltrona. Mas como todos ficariam se questionando o motivo da afirmação solta, talvez seja necessário um complemento que explique (mas não tanto), como: “Lembre-se: o assento de sua poltrona flutua. Vai que…”