Dobrei na minha rua e, a uns 400 metros de casa, a Stela chamou minha atenção:
— Olha! Não é o Luke?!
Luke é nosso cachorro. Um golden retriever de quatro anos. Estava se cheirando com um vira-latas. Tinha fugido quase chegou na estrada! Passei a direção para a Stela e desci do carro:
— Luke! Luke! O que tu tá fazendo aqui?! Vem cá! — Me olhou mas não veio. — Luke, vem! Vamos pra casa! — E ele obedeceu.
Foi me acompanhando na frente (ou eu acompanhando ele, não sei). Parava em algumas plantas para marcar território. Cheirava outros cachorros que latiam nos portões. Algumas vezes tive que pegar pelo cangote e puxar para ele vir. Não está acostumado a andar na rua. Achei estranho que estava babando demais.
Quando chegamos em casa, minha filha, já sabendo da história:
— Pai! Pai! Mas o Luke tá em casa!
Aquele cachorro era igual ao Luke — mas idêntico! Ele me obedeceu, arrastei pelo couro e trouxe para dentro do meu pátio, mas não era o Luke! Eu sequestrei o bichinho de alguém! Realmente, havia estranhado que não senti a coleira quando peguei pelo pescoço. Mas as semelhanças, tanto físicas quanto de temperamento, do jeito de andar etc., eram as mesmas. Só podia ser do mesmo canil.
Imediatamente, mandei mensagem para a Roberta, dona do canil, perguntando se sabia de algum outro golden que morasse perto da gente. Em 30 minutos a dona entrou em contato para ir buscar o fujão. Mandei fotos e rimos da situação.
A raça é pacata, vai com todo mundo. Uma personalidade, realmente, amável, tanto que o sósia permitiu que eu ralhasse com ele, puxasse pelo cangote, tirasse ele da frente da sua casa e o trancasse na minha!
Mas a situação não foi só pitoresca. Serviu para a reflexão: não reconheci meu próprio cachorro, mas tenho certeza que ele me reconheceria entre milhares de pessoas bastante parecidas comigo. Acho que não estou sendo um bom amigo.
(Na foto, o sósia, molhado da chuva e o Luke, se refrescando no verão.)