Imagine que você tem uma ideia genial mas não tem acesso a um sócio que ajude a colocá-la em prática no nível global que vislumbra. Como faria? Se lançasse de forma acanhada, apenas em sua cidade, com os recursos financeiros e tecnológicos acessíveis, logo apareceria alguém maior, uma grande empresa internacional, que, se não quisesse comprá-la, poderia realizá-la de forma aprimorada, com maior divulgação e te deixaria chupando dedo.
Há alguns meses, uma sacada bacana foi destaque em diversos blogs sobre tecnologia, comunicação e mercado imobiliário. Gabriel Kolisch – 21 anos, estagiário da agência de publicidade F/Nazca – e Isabella Pipitone – 22 anos, redatora da agência Casa (do Grupo JWT) – tinham o hábito de pesquisar apartamentos em São Paulo. Aproveitando o hobby, criaram um conceito que, se não 100% inédito em sua função, sem dúvida, aparentava ser extremamente elaborado em sua estratégia.
Projetaram o Google Rent, um serviço no qual, através do Google Street View, o usuário encontraria imóveis para alugar ou vender nas proximidades de onde está, simplesmente deslocando-se pelas ruas.
Incentivados pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, onde estudam, inscreveram a ideia em um festival. Trata-se do Future Lions, de Cannes, que premia anualmente as melhores ideias de estudantes de comunicação social do mundo todo. O briefing pedia o desenvolvimento de algo que não pudesse ser feito 5 anos atrás. Porém, para participar, era necessário criar um vídeo explicativo, publicá-lo e enviar o link. E é aí que, a meu ver, começava a desenhar-se o grande diferencial.
Tornando público o conceito no Vimeo e Youtube e evocando o Google no nome do projeto, os publicitários garantiram o “registro” da ideia na data de publicação do vídeo e a atenção da maior empresa online do mundo. Pelo destaque que teve, certamente, os “donos” do Vale do Silício já viram e, se tiverem interesse, serão praticamente coibidos a procurar a dupla de criadores.
Três dos quatro vencedores do Future Lions 2011 também usaram marcas famosas em seus projetos, mas a meu ver, sem possibilidade de um desdobramento comercial tão bom quanto o do Google Rent. Aqui estão (note a similaridade da primeira que também é de um estudante da ESPM São Paulo):
- Netflix Places: ao passar próximo a onde foi gravado algum take de um filme que você gosta, o aplicativo de iPhone avisa e até mostra a cena em questão. Você pode bater fotos e compartilhar com os amigos;
- 1-800 Flowers: transforma em uma flor cada cumprimento de aniversário que te enviam pelo Facebook. Ao final do dia, o aniversariante recebe em casa um buquê com todas elas;
- WWF Powernap: ao afastar-se com seu celular, o seu computador entra em modo de espera. O aplicativo visa reduzir o consumo de energia das máquinas nos momentos em que ninguém as está usando.
Isabela me disse que a estratégia não foi proposital; que a publicação do vídeo de forma aberta foi imposição do regulamento do festival e que a escolha do Google foi inspiração óbvia. Já eu, admiro-os justamente por isso, acaso ou não. Os jovens, que já tiveram trabalhos publicados no Anuário de Criação de São Paulo, não venceram o Future Lions, mas se fosse jurado, meu voto seria deles.