Meu afilhado tinha um naná. Alguns chamam de naninha. Era uma fralda com cheiro de baba, imprescindível para dormir, tomar mamadeira e secar o choro. Nunca entendi. O Charlie Brown tem o cobertor. Acho que era mais ou menos a mesma coisa. Não lembro de eu ter algo assim. Minha mãe nunca falou a respeito.
Pois a Malu, minha filha de três anos e meio, não tem nada disso. Sempre se mostrou bem madura com relação a bebezices. Chupeta a gente só ofereceu porque a avó insistiu muito, dizendo que ajudava a acalmar. Foi bom. Principalmente, porque antes de fazer um ano de idade (pelo que me lembro) ela disse que não queria mais e deixou de lado. Enjoou, vai ver. “Que maravilha” — pensei. “Segura. Dona de si.” E eu que não consigo nem largar o meu Toddy matinal?
Mas outro dia me dei conta que ela tem o seu naná improvisado. Trata-se do cabelo da gente. Sempre quando vai tomar sua dedê (mamadeira, para os íntimos), ela precisa fazer um tipo de cafuné em cabelo alheio. Sua lista de preferências começa pelo da mãe. Se não estiver disponível pode ser o da Raquel. Em última opção, é claro, vem o meu — que já é escasso na frente e eu só deixo puxar dos lados ou atrás. Fico me retorcendo para que ela pegue no lugar permitido. A guria fica em êxtase, como se tivesse fazendo uso de uma droga qualquer. O olhinho fica metade fechado, a respiração tranquila. Ela tem controle total da quantidade da dose que precisa — neste caso, é medida pelo tempo e não pelo volume de leite. Quanto mais ela quer ficar “se chapando” mais lento torna o fluxo.
Talvez o naná da minha filha seja mais problemático do que os convencionais, porque faz parte do nosso corpo. Imagina a gente dirigindo, tendo que se curvar de modo com que ela consiga puxar nossos cabelos do banco de trás do carro? Tenho que dar um fim nisso antes que seja tarde, ou arranjar uma peruca para ela levar dependurada.
Mas é um carinho muito gostoso. Acho que é melhor ficar velhinho e continuar sentindo a mãozinha dela no meu cabelo (ou careca) enquanto toma uma xícara de café com leite (ou Toddy).
Eu tinha um primo que só dormira se fizesse cafuné em sobrancelha alheia…