Todo mundo tem alguém com quem conversa. Alguém dentro de si com quem troca ideia, pondera as coisas, mantém um diálogo intenso e constante. Durante algum tempo chamei isso de consciência.
Mesmo tendo estudado em colégio católico, sempre me considerei ateu. Mas o tempo passa e gente vê tanta coisa na vida — vislumbra realidades, pessoas com as mais diversas crenças, energias que movem o mundo, sente coisas que nunca sentiu, vai ficando velho e com medo de morrer — que passa a considerar a hipótese de que algo maior existe. Também dá para chamar isso de cagaço. Não é bem aquilo que nos incutiram na escola e nem o que tentam nos vender diariamente pelas ruas e televisão. Eu, pelo menos, comecei a criar minhas próprias crenças energéticas e espirituais. Algo para me confortar. Não é nenhuma doutrina. Não daria para escrever em um livro, muito menos neste post. Nem sei se consigo discuti-las com alguém, pois são tão etéreas e pessoais que eu não teria vontade. É um emaranhado de sensações e sentimentos que às vezes faz sentido, outras não, e que vou moldando diariamente. Muita gente pensa assim; tem sua própria forma de ver e explicar as coisas.
Outro dia parei para pensar se esse meu deus tinha forma, se tinha voz, onde ele passava os dias; se ele era físico, uma energia, um suspiro ou uma canção. Descobri que sei exatamente como o meu deus se parece. Fiquei bastante surpreso e decepcionado comigo mesmo. Quando converso com o meu deus, vejo um velhinho, gordo, barbudo, de cabelos brancos, que mora em uma nuvem e fica sentado em um trono grande de madeira. O meu deus é o mais babaca e lugar-comum que podia existir. Ou seja, provável ser a imagem de mim mesmo.