Não planejei nascer. Não escolhi a cidade, o país, o sexo, os pais, a família. Não escolhi meu signo, nem a década. Fui crescendo sem escolher onde morava, em que escolas estudava. Os amigos que tive apareceram na minha frente. Os lugares que fui e as festas que frequentei é que me escolheram. A faculdade que fiz, decidi em 15 segundos, na última hora, pedindo requerimento depois de passar nas minhas três primeiras opções. Fui catapultado para dentro do meu negócio nem bem sei como. Conheci minha mulher porque ela estava ali, vinda de um outro estado, parada na minha frente. Nunca iria casar. Casei. Não moraria em uma casa. Moro. Gasto meu dinheiro em coisas que eu não queria gastar. Tenho filhas que eu não planejei. Amo-as como nunca pensei amar.
As poucas escolhas que faço na vida, como a marca do meu sabonete e o momento certo de cortar o cabelo, servem apenas para dar a sensação que mando em alguma coisa; que sou dono do meu próprio nariz.
Estamos numa porra de ilha do Lost, num joguinho babaca dos deuses, que disputam em um tabuleiro com dados e cartas marcadas.
Não escolherei o dia da minha morte, mas tenho certeza que será no momento em que achar que poderia começar a mandar em alguma coisa.