A Quem Interessa Vender Vacina Contra a Meningite?

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Prefeitura de Pelotas
Há dois anos não são registrados casos de meningite meningocócica do tipo C em Pelotas. A notícia é boa. Mas os cuidados e a prevenção não podem ser deixados de lado – principalmente no inverno quando há mais chance de contágio.

Leia a notícia completa no site.

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Gostei do post tranquilizador da Prefeitura de Pelotas no Facebook. Está havendo um campanha popular alarmista (espontânea ou não, não sei) sobre a meningite no estado. Fui, então, investigar sobre assunto. O que está acontecendo, segundo os jornais, é um surto em um bairro de Cachoeirinha. Até a semana passada, houve 48 casos e 10 mortes, o que fez triplicar os casos gaúchos, mas só por causa desse bairro. A Secretaria de Saúde disse que no restante do RS o número de casos continua igual ao do ano passado. 83% do público-alvo desse bairro já foi vacinando e o governo não vai (até então) ampliar a campanha para outros locais pois não há necessidade e disse que vai recorrer se as Prefeituras exigirem na justiça. Ou seja, é importante ficar atento, mas sair enlouquecidamente pagando mais de mil reais para vacinar seu filho é meio desespero. Segundo um amigo do setor da saúde, é mais provável, na situação atual da doença, ser acometido pelos efeitos colaterais da vacina do que seu filho ser contaminado. Não sou médico, por isso, meu conselho, na situação atual é: informe-se com o seu pediatra, tenha seu próprio discernimento e fique atendo aos sintomas. Ah: e consulte a carteira de vacinação do seu filho: ele já pode ter sido vacinado e você nem lembra.

Pode acreditar: tem muita gente mais interessada em lhe vender uma imunização desnecessária por mais de mil reais do que com a saúde do seu filho. A indústria da saúde é assim. Sinto informar.

O Polêmico Comercial de O Boticário

gregorioO comercial para TV de O Boticário vem causando frisson nos últimos dias (ou seriam “últimas horas”?). Quem já assistiu e sabe da celeuma que se instaurou, pode pular para o próximo parágrafo. O filme publicitário é editado intercalando cenas de homens e mulheres comprando presentes, se arrumando em casa etc., como se aguardassem alguém. A construção do roteiro cria a expectativa de que haverá encontro dos casais no Dia dos Namorados. E realmente há. Mas o plot twist se dá na hora que percebemos que dois dos três casais são homossexuais, um masculino e um feminino. A trilha sonora é o instrumental da canção de Lulu Santos “Toda Forma de Amor”, mas a assinatura da campanha, apesar de graficamente usar cores inspiradas nas do arco-íris, não aborda o tema, dizendo “Entregue-se à tentação de Egeo” — a linha de produtos que está sendo vendida.

A iniciativa é linda! Em um mundo repleto de preconceitos de todos os tipos, é uma benção (se é que os detentores do direito de uso desta palavra me permitem “blasfemá-la”). Só que, claro, diversos ditos defensores da moral, dos bons costumes e da instituição familiar brasileira estão resmungando. E, por causa disso, recebendo tais “denúncias”, o CONAR (órgão de autorregulamentação da propaganda no país) precisa avaliar a situação e julgar se o comercial deve ou não ser retirado do ar. Não acredito que farão uma besteira tão grande.

Devido ao sucesso duplo da campanha (por seu próprio brilho e pelo buzz que o embate está causando nas mídias sociais), algumas pessoas levantam a hipótese de tudo ter sido planejado. Como publicitário, já me passou pela cabeça, várias vezes, criar propositalmente uma crise falsa e estúpida (como esta) contra algum trabalho meu, justamente para promovê-lo ainda mais e fazer o cliente posar de bonzinho. Ele sairia ainda mais fortalecido e com reputação de benfeitor injustiçado. Mas nunca levei a cabo por questões éticas óbvias. Sendo assim, é impossível não pensar na hipótese para o caso atual. O que me dissuade de acreditar nisso, não é genialidade da ideia, pois se até eu a tive, não deve ser tão brilhante assim. O que a torna improvável é o cliente aprovar a conspiração.

Só que as pessoas começam a conversar nas mídias sociais, a pensar (direito ou não) e chegam coletivamente à conclusão de que empresas que têm uma inciativa “corajosa” como essa devem ser valorizadas. Criam uma batalha entre a corrente retrógrada (que nem ousa se pronunciar no Facebook) e a superempresa que vai salvar o mundo do preconceito. E decidem que, mesmo sem gostar dos produtos da marca, consumi-los neste momento é uma forma de incentivo a tamanho ato exemplar de bravura. Artistas também começam a publicar seu apoio, como a foto postada no Instagram do ator Gregório Duvivier.

A campanha será exitosa. O Boticário venderá como nunca!

A partir de agora entra a parte o-que-tu-fumou? da minha abordagem, de onde pode sair, no máximo, um livro de ficção malsucedido. Outras empresas, surfarão na onda e darão representatividade cada vez maior às “minorias”. De repente essas “minorias” começarão a se sentir exploradas em excesso. Irão promover passeatas contra ao capitalismo selvagem que utiliza sua personalidade sem representá-las de fato. E todos sabem o que acontece quando há superexposição de algo, né? Deixa de ser cool e quem vale-se desse apelo sem legitimidade começa a ser mal visto, é repudiado no social media e tudo vira, de novo, o que era antes. Voltam a usar cachorrinhos e crianças na propaganda. Isso, sim, vai vender sempre.

Como Economizar Bateria do Iphone

bateriaNinguém vive mais sem smartphones. Parafraseando o que Woody Allen disse sobre computadores (algo mais ou menos assim): “eles vieram para resolver problemas que não existiam antes da invenção dos mesmos”. E é bem por aí. Se pensarmos que antigamente a bateria de um celular durava uma semana, agora, dê graças a Deus se chegar em casa com alguma depois de um dia fora.

Se você tem um iPhone, redigi uns macetes que, dependendo dos apps instalados e do seu perfil de uso, farão você economizar tempo de bateria que pode salvar o dia. Estas dicas servem para iOS 7 (a maioria) e para iOS 8 (todas).

Antes de seguir os passos abaixo, vá até “ajustes” / “uso” / “uso da bateria” e espere carregar a lista de aplicativos logo abaixo. Ela vai te mostrar quais deles estão consumindo mais energia, seja porque você realmente o usa muito, seja pelo fato de estar mal configurado, usando recursos sem necessidade. Você pode ver o consumo percentual de cada app nas últimas 24h e nos últimos 7 dias. Se encontrar um item que pouco usa listado com os mais sugadores de energia, dê mais atenção a ele nas dicas abaixo.

1. Na tela principal, na parte inferior dela, arraste o dedo de baixo para cima, de fora para dentro. Abrirá um painel de controle. Ajuste a luminosidade de tela para o nível mais baixo, que não fique desconfortável. .

2. Em “ajustes” / “tela e brilho”, ative o botão “brilho automático”. Assim, o ajuste do passo um sofrerá alterações dinâmicas, de acordo com a luz ambiente. Quando estiver no escuro, ele reduzirá a luz da tela, quando estiver ao sol, aumentará, em todas as nuanças intermediárias também. De acordo com a luz do ambiente a tela de adaptará conforme a necessidade de iluminação. Por exemplo, se você estiver no cinema e quiser responder a mensagem de alguém sem atrapalhar ninguém, ela ficará no mínimo ajustado, e você continuará enxergando perfeitamente.

3. Em “Ajustes” / “Notificações”, entre em cada aplicativo e configure se quer ou não quer receber notificações deles e de que tipo.

4. Em “Ajustes” / “Privacidade”, clique em “Serv. Localização”. Entre em cada aplicativo e ajuste quando deseja ou não que ele use sua localização GPS: “nunca”, “sempre” ou “durante o uso do aplicativo”. Dica: a imensa maioria dos aplicativos você irá marcar “nunca”.

5. Em “Ajustes” / “Geral” / “acessibilidade”, procure “reduzir movimento” e ative. Trata-se de um efeito de consome muita bateria desnecessariamente.

6. Em “Ajustes” / “Geral” / “Atualizações em 2º Plano”, deixe ativo apenas nos apps que deseja que recebam atualização enquanto você não os está usando. Dica: a grande maioria ficará desativada; por exemplo,WhatsApp ficará ativado, mas YouTube não, pois não é necessário.

7. Nos apps que trouxerem opção de mudar os temas da interface, prefira aqueles com fundo escuro e letras claras. Quanto menos luz for emitida pela tela, menos energia é consumida.

8. Se seu dispositivo é 4G e seu plano de telefonia também, mas você estiver em uma região sem cobertura 4G ou não vê necessidade de uma conexão mais rápida, vá em “Ajustes” / “Celular” e, em “Voz e Dados”, selecione a opção 3G. Assim, o celular não ficará procurando pela rede 4G toda vez que ela não estiver presente e consumirá menos recursos. Não esqueça de voltar ao 4G quando precisar.

9. Com o iOS 8, veio um aplicativo chamado “Saúde”. Ele fica constantemente marcando quantos passos você dá e calculando a distância que anda por dia. Se você não usa isso, pode ir em “Ajustes” / “Geral” / “Privacidade” / “Movimento e Preparo Físico” e desabilitar o aplicativo Saúde ou, até mesmo, a função inteira de rastreamento de preparo físico. Outros aplicativos como o Waze também se valem deste recurso, não me pergunte para quê.

Com essas dicas, você vai economizar muita bateria do seu iPhone.

O Xalalá que a Sky está passando em seus Clientes

tv-retro_audienciadatv[1]ATUALIZAÇÃO. Depois que escrevi este post, fiz queixa na ANATEL. Foi numa sexta-feira. Na segunda seguinte, a Sky entrou em contato comigo e resolveu a situação. Aconselho a todos, no primeiro sinal de desrespeito, procurar a agência reguladora. Não teria perdido tantos meses, quando perdi se tivesse feito assim.

Frequentemente, as operadores de serviços de telecomunicações reduzem os valores de seus planos e aumentam a qualidade dos serviços. Porém, não avisam os clientes que há uma nova possibilidade melhor e mais econômica. Acontece em telefonia, internet e também com TV por assinatura. É comum.

Estou desde janeiro tentando pagar menos 40 reais por meu pacote da Sky. Eles oferecem um pacote idêntico em canais ao que assino porém com equipamentos melhores e mais barato. A resposta deles desde então é que o sistema está passando por uma atualização. Sempre prometem que o ajuste estará pronto no final do mês, quando poderão efetuar a migração. Já se passaram 3 finais de meses e nada. Hoje, resolvi entrar com processo na Anatel, mas para isso precisava de um número de protocolo de atendimento na Sky, sobre a minha solicitação. Então, acessei o chat e a refiz. Vocês não vão acreditar no que aconteceu. Conforme eu suspeitava, a Sky só tem sistema para mudar de plano se o valor for aumentado não reduzido. Aí você me responde: isso é falta de sistema ou falta de honestidade?

Olhem a conversa (troquei os nomes de pessoas e protocolo para proteger os inocentes, alguns nem tanto):

 

Fulana Debochada — 14:17:13
Olá Sr.CUCA, seja bem vindo a Central de Vendas ao assinante SKY! Em que posso ajudá-lo?

(nota do editor: que entusiasmo!)

CUCA — 14:17:18
olá Fulana

CUCA — 14:18:03
Existe um plano ofertado por vocês no site que é similar ao que eu assino. mas é mais barato e os equipamentos são melhores. É um plano que foi atualizado.

Fulana Debochada — 14:18:30
Este chat é um canal especializado em vendas.
Para redução de valores, peço, por gentileza, que entre em contato com a equipe especialista em adequação de produtos através do telefone 10611, visando uma solução mais rápida e eficaz.

CUCA — 14:18:39
o que eu assino é o COMBO SKY CB NEW SKY HDTV MIX HBO MAX 11, e custa 243,60. Possui um aparelho HD que grava e dois aparelhos simples, não HD

CUCA — 14:18:53
eu quero trocar de plano

CUCA — 14:19:02
não quero caridade

CUCA — 14:19:28
quero comprar um plano mais novo

CUCA — 14:19:31
O que eu quero migrar é o HDTV FULL HBO MAX que está ofertado no seu site por 204,90, que tem um aparelho que grava HD e dois aprelhos HD que não gravam

Fulana Debochada — 14:19:45
Aqui só fazemos aumento de pacote, para diminuir seu pacote e valores faça o procedimento informado.

Fulana Debochada — 14:20:07
Este chat é um canal especializado em vendas.
Para redução de valores, peço, por gentileza, que entre em contato com a equipe especialista em adequação de produtos através do telefone 10611, visando uma solução mais rápida e eficaz.

CUCA — 14:20:08
você não entendeu. eu quero um plano melhor e não pior

CUCA — 14:20:24
o meu plano é de 2011. eu quero um plano atualizado. com equipamentos melhores

Fulana Debochada — 14:21:03
Melhor para o senhor que quer um mais barato, como já informei aqui só fazemos aumento de pacote e automaticamente valores.

CUCA — 14:21:06
é upgrade de plano

Fulana Debochada — 14:21:11
E os planos de 2015 não estão disponiveis.

CUCA — 14:21:16
ah, entendi. aqui é so para eu pagar mais. para eu pagar menos não é aqui?

Fulana Debochada — 14:21:28
Isso mesmo.

CUCA — 14:21:31
eu quero os de 2013

Fulana Debochada — 14:22:07
O senhor quer aumentar o valor do seu pacote Daniel?

CUCA — 14:22:15
o problema é que o “sistema” está fora do ar para reduzir o preço

Fulana Debochada — 14:22:33
Eu não faço redução de preço.

CUCA — 14:22:37
eu quero trocar meu plano de 2011, defasado, pelo plano de 2013

Fulana Debochada — 14:23:48
Se custa menos Daniel eu não troco, o senhor entendeu o que falei, que aqui é só pra aumento?

CUCA — 14:24:00
tu tá de sacanagem. eu tento isso desde janeiro e vocês me dizem que o sistema não está funcionando para troca de plano. agora, você me diz que o sistema só funciona para aumento de valor?

CUCA — 14:24:35
isso é sério?

Fulana Debochada — 14:24:37
Não estou de sacanagem, estou trabalhando, o senhor que não quer entender a informação.

Neste momento, apareceu uma mensagem dela dizendo que o chat seria finalizado por falta de diálogo e fechou. Ainda bem que eu copiei o texto antes. Agora, é ANATEL!

O Discurso

SONY DSC— Ela pediu que você falasse amanhã? O Pato te adorava.
— Ã… Tá… Diz pra Dona Neusa que ela pode contar comigo.

Não sei o que estava sendo pior. A notícia fulminante, mas nem tão surpreendente, da morte do meu amigo Graciel — o Pato — ou o pedido de sua mãe para que eu falasse no funeral. Eu escrevia bem. Talvez ela tenha lembrado de mim porque eu e o Pato fazíamos um fanzine de motocross na adolescência. Eu redigia as matérias e o Pato diagramava. Será que leu o texto sobre o Rally da Colônia? Aquele ficou bom! O problema é que sempre tive certa fobia de me manifestar em público e agora deram-me a incumbência de ser arauto de algum tipo de consolo aos familiares e conhecidos de meu amigo de infância. Só tinha visto discursos fúnebres em filmes. Nunca presenciei.

Todo mundo sabia que o Pato não chegaria aos 40. Mas 24 certamente era cedo demais. Bebida, direção, drogas. Todo fim de semana era assim. Quinta, sexta, sábado. Às vezes até quarta. Eu havia parado de sair com ele justamente por causa disso. Conversas e conselhos não faltaram. Cansei de ser o chato. Todo mundo cansou. Pato era de bom coração, mas não aparentava. Só por isso eu ainda mantinha contato. Só que ele sempre teve essa ânsia autodestrutiva, essa coisa da diversão acima de tudo, sem importar o que custasse. Pato já caíra de moto três vezes, sendo que em uma ficou na cama, todo quebrado, por dois meses. Já fora levado algemado para a delegacia por porte de ecstasy e expulso do colégio por atear fogo nas cortinas da sala de aula. É claro que ele sempre tinha um isqueiro. No final, a gente não nem mais se via muito pessoalmente, nem nos aniversários dos amigos em comum. Ele nunca ia. Nosso último papo foi no Facebook. Me convidou para atravessar os Andes de moto. Nem morto!

Peguei meu caderno especial, para ocasiões especiais, para textos especiais. Pensei no que escrever. Não havia muito para falar sobre sua vontade de viver; não era exemplo para ninguém. Não dava para discorrer sobre como enxergava a vida; não seria inspiracional. Não podia falar da falta que faria; mesmo os mais próximos haviam se afastado. Pato não tinha nenhum talento a ser cultuado. Mal desenhava uma casinha com chaminé. Não sabia assobiar. Até no poker era um desastre. Eu não tinha o que dizer de Graciel Alves de Lima. Nadinha. Amizade que não se explica. O texto mais importante da minha vida, o tempo passando rápido e eu com writer’s block. Que chique!

O dia amanheceu nublado. Parece que em velório é sempre assim. Pelo menos nos que fui. Pouca gente apareceu. Dona Neusa consternada, a irmã blasé, o tio que só deve ter ido porque precisavam de um homem forte para ajudar a segurar o caixão. Não mais que 10 pessoas, incluindo o pessoal do cemitério. Meia hora depois que cheguei decidiram finalizar o velório e proceder ao enterro. Melhor assim. Claro que segurei o caixão, junto com o Xandão, o tio Murci e alguém de uniforme azul por perto. Pato estava bem magro, quatro deram conta tranquilamente. Antes de o colocarmos no cubículo em que passaria a eternidade, Dona Neusa fez questão de lembrar da incumbência que me dera.

— Creio que o Tom, amigo de Graciel desde os três anos de idade, tenha preparado algumas palavras para este momento.

Assenti. Fitei todos rapidamente. Seus semblantes eram uma mistura de vamos-logo-com-isso e incredulidade. “O que alguém teria a dizer sobre aquele jovem?” Coloquei a mão no bolso da calça, tirei a caderneta, cocei a nuca. Abri na página marcada. Com os olhos ainda baixos, fiz o que tinha que ser feito. Em voz baixa, mas audível, proferi tudo que era necessário:

— Eu te disse, Graciel.

Inserimos o caixão. O cara de azul lacrou com cimento e fomos almoçar. Já eram quase 12h.

Novo Restaurante Natureba

ovo quebrado

Juro que não fico escutando conversa alheia. Mas não tive como evitar.

Estava com a Alice em um restaurante novo, pseudossofisticado, meio lanchonete, do tipo saudável-fitness que traz no cardápio as propriedades nutricionais dos alimentos; do tipo que o dono acha que basta abrir as portas e está tudo certo. Treinamento de funcionários pra quê? Ainda mais quando o local tem um proposta específica, que é atender um público que busca um tipo de alimentação, digamos, chatinha de vender, pra que treinar seu pessoal, não é mesmo? Sabe funcionário que não entende que ele representa a empresa (ou deveria representar) e não que são duas coisas diferentes?

Entra um brutamontes, malhado (ou gordo, não identifiquei). Senta na mesa atrás da gente, olha o cardápio e conversa, com voz grossa, de macho, com o garçom.

— Quantos ovos vem neste omelete?
— Puxa, acho que uns dois.
— Dá pra fazer ele com mais duas claras?
— Hmmm… Vou ter que ver na cozinha.

(…)

— Infelizmente, não, senhor?
—Por quê?
— Não sei bem. Me disseram que não podem porque não sabem como cobrar…
— Mas tinha que poder, não?
— Eu acho que, sim. Tinha. Mas…
— No concorrente de vocês ali dobrando (falou o nome do lugar), eles fazem.
— Pois é. Tinham que fazer aqui, mas os donos não disseram nada pra gente sobre isso.
— E lá eles nem cobram a mais. Eu peço com seis ovos e não ficam me cobrando o ovo.
— Pois é.
— “Ovo”! Vão me cobrar um ovo? Não, né?
— É. Não… Um ovo…
— Porque assim… O cara às vezes tem que perder peso rápido, pra uma luta. E aí tem que comer o troço certo. E aí o restaurante tem que fazer.
— É… É… Imagina…
— Deveria ter as calorias aqui, não?
— Sim, eu já falei pra eles… Mas os nutricionistas ainda não calcularam.
— Mas tinha que ter.
— Mas tem as corzinhas no cardápio, dizendo se é proteína, carboidrato, o senhor viu?
— O vermelho é proteína?
— É.

(…)

— Tá, me diz como é essa tapioca. Nunca comi tapioca.
— Ah, é com farinha de tapioca e…
— Tá, mais é boa?
— É… É boa.
— Tu já comeu? Gostou?
— É boa, sim.
— Tá.
— O senhor vai querer?
— Me traz o omelete de vocês mesmo, porque eu tô morrendo de fome, depois eu vejo essa tapioca.

(…)

— Senhor, seu omelete e seu suco…
— Pode mandar fazer a tapioca.
— Tá bem. Mas pode deixar, eu vou falar com os donos, para resolverem essas coisas que estão erradas… Não pode ser assim.
— É.
— Tá errado.
— (arrut)

Sim, o cliente acabou soltando um arroto que todo lugar ouviu. Claro que nem se desculpou.

 

SAC Praia Vermelha

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Hoje fomos à Praia Vermelha, encravada entre Ouvidor e Rosa, ainda no município de Garopaba, SC. O lugar possui 480 metros de areia e é pouco conhecido pelos turistas, devido a seu acesso restrito a trilhas nos morros, tanto do lado de quem vem do Rosa, como do Ouvidor. É uma caminhada de cerca de meia hora, com trajeto bem sinalizado e cuidado, degraus e pontes bem construídos, inclusive com lixeiras, digamos, periódicas. A família Gerdau é dona de toda a área (há quatro casas) e enfrentou embates judiciais a partir da década de 90, pois mantinha fechado o acesso à praia. Reza a lei que praia é um bem público e deve ser garantido o trânsito livre a quem quer que seja. Os pescadores locais entraram com uma ação para garantir seu direito e, de quebra, o meu, de visitar um local tão incrível. Pelo que entendi estudando a respeito, os Johannpeter (pronuncia-se “Gerdau”) foram obrigados judicialmente a não só dar acesso como mantê-lo aberto e estruturado. Um pescador da família responsável pela ação nos disse que quem mantinha as trilhas eram quatro entidades locais, incluindo a tal associação. Não sei.

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Mas nosso amigo Beto, que nos levou lá, prometeu uma praia deserta e um quiosque onde poderíamos fazer nossa farofada e proteger-nos do sol. Chegamos às 10:30 da manhã, com a intenção de passar o dia. A trilha longa e o calor impossibilitavam que fôssemos carregados de cadeiras e guarda-sóis, mas o oásis ao final seria a recompensa. Quando avistamos aquele pedaço de paraíso, percebi que o termo “deserta”, hoje em dia, tem outro significado. Nos quase 500 metros de extensão, apenas umas 30 pessoas se banhavam no mar. Ninguém na faixa de areia, devido ao sol extremo. Avistamos o quiosque muito bem feito pelos moradores — único local com sombra — mas estava ocupado. Provavelmente, pensamos, tratava-se da família que passava temporada em uma das casas do lugar, pois estavam com certa infraestrutura de cadeiras, caixa térmica etc. Arranjamos um local mais adiante, um pouco dentro da mata, onde as árvores proviam certo conforto. Tomamos banho de mar mas, na hora de fazer nosso lanche, percebemos que só restavam duas pessoas no quiosque. Nosso amigo Beto resolveu checar. Foi até lá, com a cara-de-pau que eu gostaria de ter, e perguntou:

— Podemos compartilhar a sombra? Aquelas árvores soltam umas sementes e é desconfortável sentar ali.
— Claro que sim — respondeu o cidadão. Já estamos mesmo de saída.

Enquanto o Beto foi nos chamar, o casal pegou o rumo de casa subindo o morro. Deixaram umas 6 cadeiras — que, claro, não sentamos —, raquete de frescobol, brinquedos de praia e toda a tralha que usaram. Quando nos instalamos, logo apareceu um empregado chamado João Antônio, muito simpático, com walkie-talkie na cintura, que foi recolher os apetrechos deixados.

— Podem ficar à vontade. A praia é pública. Este quiosque foi feito pela família, mas está aqui para todo mundo usar.

Depois que o João saiu, encantados com seu bom-humor, presteza e com o que a família, a justiça e a associação dos pescadores estavam nos propiciando, soltamos a imaginação.

— Poderíamos os escrever para o SAC da Praia Vermelha e sugerir umas melhorias.

Para: Serviço de Atendimento ao Consumidor da Praia Vermelha

Garopaba, 12 de janeiro de 2014

Vimos por meio desta elogiar a hospitalidade e simpatia com que fomos recebidos nesta tão fabulosa praia. Com a intenção de contribuir com a melhoria dos serviços prestados, gostaríamos de fazer algumas sugestões.

Fazem-se necessários bancos. O quiosque possui duas prateleiras muito bem feitas, mas sentar é importante. Pode ser coisa simples, feitos de tábua mesmo; bem praia. Não precisa de muito conforto.

Percebemos que o João Antônio, seu criado, trajava um uniforme escrito “Verão 2013”. Tá desatualizado. Sei que a gente acaba deixando estes detalhes sempre pra depois, mas já faz dois anos. Convém dar um update. De repente até mudar a cor, para parecer mesmo que mudou. Essas coisas demostram capricho. É só um toque. #ficadica

Ele também nos mostrou o burrificador de vinagre que sempre leva com os apetrechos para tratar queimaduras de água-viva. Que louco! Não sabíamos dessa versatilidade do ácido acético. Aprendemos com ele! Só que levou embora. Tenho medo que me pelo de encostar num bicho desses. Seria tão legal deixar um frasco sempre à disposição no quiosque, né? Claro, que precisaria também ter um cartazinho com instruções, porque, assim como nós, muita gente não conhece este macete. Mas isso é bem fácil de providenciar. Só não esqueçam de plastificar, pois a maresia é terrível.

Percebemos também que o 3G não pega. Essas operadoras são de lascar! Prover internet wi-fi seria um diferencial significativo. Avaliem, avaliem…

Já pensaram em puxar um ponto de água de uma das casas? Uma bica de água doce seria providencial.

Sem querer extrapolar, penso que as dimensões do lugar sextavado não permite a distância ideal entre os pilares para a colocação de redes de descanso. Se ele fosse maior ou em forma de pentágono, já dava. Não cogitam reformá-lo?

Sem mais para o momento, agradecemos o tempo que passamos na Praia Vermelha.”

O polêmico artigo de Paulo Sant’Ana

santana_3[1]O mais recente artigo de Paulo Sant’Ana para a Zero Hora está sendo objeto de alvoroço nas redes sociais. Leia aqui.

O que espanta nem é o artigo, mas a ânsia das pessoas em demonstrarem sua opinião sobre ele. Não é novidade no meio on line: a tal democracia digital mostra o quanto seria melhor muita gente permanecer calada. Provavelmente, eu também. Ninguém se dignou — diante da perplexidade ao ler palavras aparentemente chocantes — a refletir sobre o que realmente o colunista pretendia transmitir. É muito mais fácil sair esbravejando em defesa de uma causa que o fará mais popular, trará mais “curtidas”, aumentará seu “klout” (não, “klout” não é “pau”) e levará você pro Céu (talvez não o de Paulo Sant’Ana). Difícil é ter o bom senso, a responsabilidade, a inteligência, a crença no ser humano e, mais que tudo, a boa-vontade de tentar encontrar uma segunda interpretação para o que nos é apresentado.

Não estou defendendo Paulo Sant’Ana. Apenas dizendo que tenho dúvidas do que ele quis dizer. A visão mais simplória nos leva a crer que ele foi racista, xenofóbico etc., mesmo apenas relatando o que se vê em Punta del Leste. Uma segunda possibilidade, que ele está demonstrando uma situação plastificada de um mundo à parte ao que a maioria de nos vive, se valendo da ironia e acidez que um bom escritor há de ter. Sant’Ana pode estar velho, caduco — vai acontecer com todos nós — mas talvez sua maior insanidade neste momento não foi a de pensar e escrever merda, mas a de correr o risco de ser incompreendido por uma horda descontrolada de facebookers. É uma possibilidade.

Todo texto merece uma segunda interpretação. Principalmente quando ele te peita a fazer isso.

Ação entre Amigos

açaoTodo final de ano, na empresa, recebo ligação do Sargento Palhares da “Poliça” (troquei o nome da pessoa e da corporação para proteger inocentes — no caso, eu). Quando o telefone toca dizendo “Bom dia, aqui é o Sargento Palhares da “Poliça”, gostaria de falar com o Senhor Daniel”, a secretária já sabe que não é pra transferir. Só que este ano, depois de algumas despistadas e tentativas frustradas de me encontrar, a sagacidade do oficial falou mais alto. Apresentou-se só pelo primeiro nome: “Gostaria de falar com o Sr. Daniel. Aqui é o Marcelo”. No momento em que atendi e escutei o bom-dia da imponente voz acostumada a mover um batalhão, não tive dúvidas e esbravejei internamente: “Malditos! Conseguiram de novo!” Não que eu seja um fugitivo, tenha culpa no cartório ou na delegacia. A questão não é essa. Trata-se, apenas de um pressentimento que irei entrar pelo cano outra vez. Explico melhor:

— Daniel, bom dia!
— Bom dia. Quem fala?
— Aqui é o Sargento Palhares. Marcelo Palhares. Estou entrando em contato pois tenho um convite do Comandante Magalhães — (mudei o nome novamente).
— Pois não.
— Como o senhor sabe, estamos reformando nossa sede, ampliando a estrutura para melhor atender à comunidade. É uma obra que custará X mil reais. Já temos Y mil e precisamos finalizar. Como o senhor vem colaborando com a gente há alguns anos, estamos ligando mais um vez.
— Pois não. O que seria?
— Então… Estamos promovendo uma rifa de uma motocicleta. Cada cartela contém três números. São três chances de ganhar.

Essa parte do “três chances de ganhar” me soa particularmente engraçada.

— Quanto é?
— Então… O Comandante pediu para separar três cartelas para o senhor. Sendo assim, seriam nove chances de ganhar.
— Nove? Olha!
— Isso mesmo!
— Quanto é?
— Seriam, no caso, 200 reais.
— Não entendi o valor. Pode repetir?
— No caso, seriam 200 reais.
— As três cartelas?
— No caso, uma só. As três seriam 600 reais.
— Quanto?
— No caso, 600 reais, senhor.
— Olha… “No caso”, acho que posso contribuir com uma cartela só.
— Muito obrigado, senhor. Será muito útil para a corporação. Quando posso passar para receber?

Eu sempre achei que rifa fosse ilegal. Mas se é a polícia que está fazendo, já sei que não é. E, afinal, quem sou eu para não atender um pedido desse calibre?

Arte ou Mesmice?

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Com frequência, reclamo. Vejo outras pessoas reclamando também quando artistas cultuados, dos quais são fãs, lançam um trabalho medíocre — “não consegue mais ser como era antes”; “os primeiros discos é que eram bons!” Tenho certeza que isso atormenta também o mercado fonográfico, pois os lançamentos nem sempre correspondem às expectavas dos fãs. As bandas ficam tentando ser parecidas com o que foram, mas sem ser iguais; inovadoras, mas sem sair do lugar. Tudo para não fugir à marca que criaram e ao público que cativaram. Mas é aí que começam os problemas.

Quem, senão a arte, tem o papel de justamente quebrar as expectativas? No momento em que a expectativa tem forma, cor, timbre, postura e discurso pré-estabelecidos, a arte deixa de existir e assume o marketing tão somente. E o marketing burro, restrito, sem alcance. Pois se fosse inteligente apostaria em sua reinvenção.

O baterista do Motörhead falou sobre a dificuldade de compor atualmente: “Nós temos um enquadramento bem estreito para trabalhar e compor novas canções que soem como as antigas, mas que sejam novas. Isso é muito, muito difícil. Fica como se você já tivesse ouvido aquilo antes e você, provavelmente, já ouviu. Sabe quando você adiciona cor em uma imagem em preto e branco e ela ainda permanece preto e branca? É muito difícil”.

A demanda criada precisa ser preenchida exatamente como exige? Claro que não. Um artista pode evoluir, ter novas vontades, desafios, necessidades de expressão. Os discos que mais cultuo são aqueles que quebraram fórmulas anteriores. A mesmice cansa. Se é para ficar na mesma, prefiro o original. Aliás, “fórmula” é um conceito que me desagrada profundamente.

Mas é necessário talento para se reinventar. Minha banda preferida tem uns 10 discos, gosto só de quatro. É a vida. A ideia é: conheça coisas novas e pare de cobrar que os artistas de sempre estejam à disposição para saciar seus desejos doentios por mesmice.

A propósito: o que você achou do novo disco do Pink Floyd?