Perigo Constante

“Não deixa o portão abrir até o fim porque, depois, ele não fecha.”
“Cuidado com o espelho.”
“Vem carro.”
“Olha a moto.”
“Pode ir.”
“Vai para a direita para os mais rápidos passarem.”
“Dá sinal.”
“Não freia no meio da rua assim!”
“Sabia que tu ultrapassando pela direita, se o cara da esquerda te fechar, a culpa é tua? Não pode ultrapassar pela direita!”
“Vai mais rápido.”
“Vai mais devagar.”
“Este quebra-molas é mais baixo na esquerda. Por lá dá pra passar mais rápido.”
“Olha a bicicleta.”
“Aquele cachorro quer atravessar. Vai atravessar. Tá atravessando. Para!”
“Faz a rótula te mantendo na tua pista.”
“Desliga o pisca.”
“Muda de pista porque tu vais dobrar em seguida.”
“Não fecha o cara.”

Tudo isso eu pensei na ida pro trabalho, mas não disse pra minha mulher. Estou uma semana “de castigo”, andando de carona, pois minha carteira venceu e eu só percebi mais de um mês depois. Ainda não chegou a nova. Até lá, infarto.

Criança Esperança

Eu não sou jornalista. Este blog não é jornalístico. Então, me permito conjecturar.
Ano passado, circularam e-mails acusando a Globo de fazer, no Criança Esperança, cortesia com chapéu alheio. A mensagem eletrônica sugeria que a emissora recebia o dinheiro dos telespectadores, doava à UNESCO e usava o valor para abater do Imposto de Renda. Ou seja, a caridade do brasileiro estaria sendo usada para pagar parte das obrigações fiscais da empresa. Agora, na edição de 2008, todos os programas e comerciais que divulgam os telefones para doações frizam que o montante vai direto para a conta da Unicef e que não pode ser abatido de impostos. Com certeza, trata-se de uma resposta sutil àquelas acusações. Porém, não fica claro de quem é o imposto que estão falando – se do nosso ou do deles. Mas é claro que a Rede Globo não daria ponto-sem-nó. É aqui começa minha conjectura. O fato do dinheiro ir direto à UNESCO não afasta a possibilidade da TV não estar usando a campanha para obter facilidades fiscias. Se eu fosse dono da empresa, disponibilizaria espaços ociosos em minha grade comercial para divulgar o projeto e contabilizaria-os como doação. Será que não é isso que fazem? Estariam “vendendo produtos encalhados” ao mesmo tempo que fazem o bem para as criancinhas carentes e para sua própria saúde fiscal. Eles devem estar bem assessorados contábil e juridicamente. Não vejo problema nenhum nisso. Quem quiser que faça algo semelhante e não ajudará só a si, mas a quem precisa também.

Jorge Drexler em Porto Alegre

Apesar do show ter sido sensacional não me inspirei para escrever nada. Tem coisas que basta ver, presenciar e deu. Porém, não posso deixar passar batido um espetáculo como o do uruguaio Jorge Drexler, domingo, 20 de julho, no Teatro do Bourbon Country, Porto Alegre. Então vou me puxar.Depois de uma indiada sem sucesso para comprar os ingressos para o, então, único dia de apresentação (dia 21), a organização do evento resolveu abrir sessão extra um dia antes. Lá foi nossa solícita estagiária de Porto Alegre, Marina, tentar garantir novamente nossa presença no show. Levou mãe e namorado (pois só era permitida a venda de 2 ingressos por pessoa – precisávamos de 6) e, como estratégia, foi uma hora antes para a fila. Resultado: 100% de sucesso.

O estilo do show é o mesmo do mais recente lançamento do cantor, “Cara B” – um duplo que traz 31 registros ao vivo. Drexler usa programações junto com seu violão, que intercala, vezes, com uma guitarra semi-acústica com distorção. Em momentos, ele grava vozes e harmonias ao vivo para se repetirem ao infinito, como base para o que vai tocar. Tudo muito espontâneo, rápido e com bastante efeito performático. Aliás, a perfomance visual é show à parte. Não pelo excesso, mas pela simplicidade. A luz é muito bem feita, cheia de sacadas também. E o espetáculo corre assim, com pequenas surpresinhas a cada música, incluindo a participação de seus técnicos de som em algumas delas, tocando teremim, serrote e um seqüenciador com som arcaico e visualmente interessante.

Ele é muito carismático e se comunicou com a platéia em um bom português, cheio de bom-humor. Houve a participação de Vitor Ramil (parceiro na canção “12 Segundos de Oscuridad”), em 3 músicas do set list e mais uma no bis. O ponto mais engraçado da participação foi quando, no meio de uma música, Vitor disse “vai, Jorge” e Jorge foi. Era a hora do solo e o uruguaio, entrou em um solo improvável daqueles que a gente não sabe se é simplesmente estranho ou fora da escala. Mas era fora da escala… Quando acaba a música, ele diz: “é o primeiro solo da minha vida”. Percebeu-se. Mas o fato só serviu para deixar o show mais animado. Jorge sugere que a audiência troque as palmas por estalos de dedos, criando um clima muito mais sutil e delicado.

Me impressionou também o fato de que as pessoas cantavam junto apenas as músicas antigas e pareciam não conhecerem as novas do disco lançado em 2006, homônimo à canção em parceria com Vitor Ramil. Apesar de ser um ótimo compositor, gosto muito mais das canções recentes e achei que todos concordariam comigo. A impressão que ficou é que muita gente gosta de Drexler como expoente de uma música latina mais tradicional – como se o vissem como uma espécie de herdeiro de Mercedez Soza. As composições anteriores puxam um pouquinho mais para esse lado mesmo (eu disse “um pouquinho”), ao contrário das novas, que são mais relaxadas, livres de estilo definido. Eu gosto mais.

Uma vez, quando adolescente, eu fiquei de cara por ter perdido a chance de ver um show dos Replicantes na minha cidade. Daí em diante prometi que eu nunca mais perderia uma oportunidade de ver um concerto de quem eu gostasse. Não tenho cumprido isso à risca, mas se eu tivesse faltado ao de Jorge Drexler, certamente acordaria diferente na manhã de segunda do que acordei – um pouco pior, claro.

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Ridículo

Toques de celular são um problema. Agora, nesta onda de sons polifônicos, pior. Se não bastasse o inconveniente do aparelho tocar em qualquer lugar, nas horas mais impróprias, estar exposto a demonstrações do mau-gosto musical de cada um é uma tortura. Entre créus da vida e axé musics — graças a Deus, nem sei citar mais nenhuma —, a democratização dos telefones móveis mostra seu lado cruel. Toque de celular precisa ser simples, discreto, eficiente e objetivo. Sempre que possível, deixo só no alerta vibratório.

Para não passar por ridículo ao escolher seu som de chamada, cada um deveria imaginar todas as situações e pessoas possíveis de se estar em companhia na hora de receber uma ligação. Um toque muito espalhafatoso, como a já citada “Dança do Créu”, não iria soar bem aos ouvidos de um cliente da empresa em que trabalha. “YMCA” é divertida, mas o pai da sua futura namorada acharia muito estranho ela sair do seu telefone no meio do primeiro jantar em família. Bom, pode ser também que ele se identifique e faça um convite para passar aquela noite por lá. Vai saber. Você ser parado numa blitz policial e tocar qualquer uma do Planet Hemp também não vai contar pontos a seu favor. O hino do seu clube pode ser bastante comprometedor dentro de um ônibus que leva a torcida adversária para um clássico da cidade. Na dúvida, escolha o Nokia Tune. Ou melhor, o Beep Twice, o Polite — meus preferidos. Sabe aquele ditado “não perca a oportunidade de ficar calado”? É por aí.

Algo parecido acontece com nome de filhos. A escolha nunca é simples, ainda mais quando o casal é complicado. Minha dica nesse caso é parecida com a do celular. Imagine você chamando a atenção do seu pequeno, em voz alta, no meio de um restaurante: “Cauãããã, sai debaixo da mesa!”; “Shivaaa, eu já disse que não!”; “Maiconnnn, não cospe nas pessoas!”; “Sasha, minha filha…”. E pior é que os pais, nessas horas, nunca chamam pelo apelido. Seria menos constrangedor.

The Happening

Eu vi o novo filme do Shyamalan. “The Happening” (ou “Final dos Tempos”, como se chama no Brasil). É um filme quase trash – o que acaba que o deixa mais trash que um filme trash, pois, hoje em dia, ser trash é ser cult, agora ser semitrash é ruim, pois fica no meio do caminho.

Porém, a história é boa. Os efeitos, ou truques de cena, parecem terem saído de um filme de Hitchcock. A inspiração no mestre não pára por aí, pois há diversos comportamentos de personagens, planos e movimentos de câmera que remetem ao diretor de “Os Pássaros” – e mais, remetem ao próprio filme de 63. Talvez essa relação esteja ainda mais evidente ao lembrar das árvores balançando e do vento soprando, recursos bastante presente no filme das aves. A referência é clara. Talvez este seja o maior mérito do filme, que é conveniente assimilar para não sair dizendo “aos quatro-ventos” que o filme é ruim. Talvez você seja ruim. : ) Talvez o filme não seja bom pra você. Talvez seja o pior de Shyamalan. Talvez, talvez…

No momento em que o personagem principal desvenda, ou acha que desvendou as circunstâncias e variáveis pelas quais o acontecimento se dá, eu visualizei um final. Não vou entrar em detalhes para não contar o filme para quem não viu: imaginei o casal tendo que se separar para não morrer, mas preferindo ficar junto e sucumbir. Repito meu argumento do post abaixo: “por que o Shyama não me perguntou?”. Eheheh. Como eu sempre digo: o fato é que o filme não é feito só do final e este me prendeu totalmente enquanto eu o via. Não fiquei pensando depois como nos melhor do diretor (Sinais, A Vila e Sexto Sentido), mas valeu enquanto durou.

Resgatando Posts Antigos – Shyamalan

Aproveitando o lançamento de “The Happening“, novo filme do diretor e roteirista (me nego a dizer “ator”) M. Night Shyamalan, aqui vai um post antigo sobre o assunto.

de Torcicolo, 29/12/2003

“M. Night Shyamalan comecou bem com ‘o sexto sentido’ e depois foi descendo ladeira abaixo. ‘sinais’ eh horrivel. vamos ver esse q vem ai…
Eduardo

Eduardo, eu pensei isso em seguida que assisti Sinais. Depois de muito tempo, comecei a matutar por que o filme não era bom. Por que ele não poupa o bom-senso e mostra a bicharada? Por que o final não é legal? Por que ele não surpreende como o Sexto Sentido?” Cheguei à conclusão, sem assistir de novo, que o filme era bom sim, aliás, muito bom. Por quê? Porque ele te prende o tempo todo – o cara é realmente o novo mestre do suspense, sem sombra de dúvidas. Lembra do cagaço quando o bichano aparece inteiro em “Passo Fundo”, a pé na plantação…? isso sem falar na tensão pela qual toda a situação é rodeada sem que vejamos ainda os aliens. É muito foda. Quando acabou o filme eu disse de brincadeira: “pô, por que o Shyama não me pediu uma opinião sobre o final do filme?”. O que eu faria? Eu deixaria os aliens só na imaginação. Sem aparecerem. Para que a fé seja colocada à prova e que a resposta ficasse com o espectador. Para o público saísse do cinema pensando: “será que eles estava ou não estavam lá? – um troço meio Orson Welles. Eu acho que seria mais legal mas, mesmo não sendo assim, é um grande filme de um grande diretor.

ex-Polegar

O ex-Polegar, Rafael, depois de cheirar todas, fumar tudo e até comer pilha, resolveu agora entrar pro ramo do seqüestro. Só mesmo se mantendo nos noticiários, da forma que for, para que todos lembrem do ex-Polegar. Já do ex-indicador, do ex-médio, do ex-anelar e do ex-mínimo ninguém recorda. Bem que a Eliana tentou, mas tirando fora o polegar, o grupo dos dedinhos caiu no esquecimento.

Resgatando posts Antigos – About Schimidt

Continuando, este foi do Torcicolo de 27/10/2003

Você está chegando aos 70 e vê que não viveu nada; percebe que as pessoas que estavam a sua volta, para as quais não dava a mínima, são aquelas que você começa a sentir falta; nota que quem gosta mais de você são aqueles que não te conhecem bem; descobre como é fácil fazer alguém feliz e que agir assim é algo que reflete em você também; atenta para todo o tempo que você perdeu, o qual poderia ter sido útil de verdade; não consegue esconder, nem de si mesmo que, naquilo que você achava que era mais eficaz, tem gente que é muito melhor. Você é um velho, babão, solitário, que percebeu isso tudo muito tarde.
É claro que não estou falando do Oscar do basquete.

Minha implicância com a tarcisemeirice de Jack Nicholson diminui depois de Confissões de Schimidt.

Resgatando posts Antigos – Entrevista com Gabi Wonka

Como desativamos um blog que tínhamos em parceria, resolvi resgatar os posts que fiz, para não excluí-los da “história”. O blog chamava-se “Torcicolo – Impressões da Primeira Fila” – sobre cinema e afins. Aqui vai o primeiro post, de 15/10/2003, uma brincadeira com a Gabi, que adora a Fantástica Fábrica de Chocolate e… balas.

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TORCICOLO enviou ao sul do sul do país um repórter, especialmente, para entrevistar Gabi Wonka, sobre o filme A Fantástica Fábrica de Chocolate. Ela é a maior fã (de sua rua) do famoso filme que adoçou as Sessões da Tarde dos anos 80.

TORCICOLO – Gabi, desde que idade você curte a Fantástica Fábrica de Chocolate e como você foi apresentada à obra?
GABI WONKA – Não lembro a idade certa mas, assim como tudo mundo (que não é cretino), conheci o filme através da Sessão da Tarde. O filme ficou na minha cabeça como um filme sobre balas, só isso. O que, pra mim, não é pouca coisa. Mas há alguns anos atrás ouvi várias pessoas (adultas, não cretinas) comentando sobre o filme e resolvi voltar a assistir. Agora percebi que de infantil o filme tem muito pouco…

TO – Qual a sua maior sensação ao ver o filme? Fome, alegria, vontade de tomar água?
GW – Ir para “um mundo de pura imaginação… Vivendo lá você é livre… Se realmente quiser ser…”

TO – Com qual personagem você mais se identifica e por quê?
GW – Gosto do velho Wonka porque ele é uma pessoa muito “doce” (desculpem, desculpem) mas, ao mesmo tempo, é completamente louco. “Se deus quisesse que a gente caminhasse, não teria inventado os patins” –  como não vou gostar do Wonka? E ele chega até a ser malvado com as crianças, mas você não consegue ficar brabo com ele, como o Hannibal. Sou só eu que gosto do Hannibal?

TO – Na passagem do túnel psicodélico o que você acredita que o filme pretende transmitir?
GW – Bom, para mim passa medo, porque várias vezes eu pulo essa parte… Me assusta. Essa cena mostra o lado piradão do Wonka, algo tipo “você pode ser uma criança grande, ou um adulto pequeno, você sempre vai ser meio atormentado”. Acho que pra época serviu como uma cena experimental de psicodelia. E assim como em tudo que é psicodélico, você não pode achar um significado único. Algumas coisas foram cortadas dessa cena, mas pra mim ela é um dos jeitos que o Wonka achou de testar o medo nas crianças. É tudo planejado, pois não tem lugar no barco pro Augustus e todos ficam assustados, menos o Charlie. Quem quiser, procure The Merchant of Venice, do Shakespeare, que tem várias citações…

TO – As más línguas dizem que Willy Wonka tinha segundas intenções com o menores que aliciava, quer dizer, contemplava. Ou seja, que o filme apresentava a fórmula perfeita para pedófilos agirem. Trocando em miúdos, as crianças aceitavam doces de estranhos. O que você pensa sobre isso?
GW – Isso quer dizer que eu não deveria aceitar doces de estranhos? Me surpreende em um filme “infantil”, o dono de uma fabrica de doces dizer que “doces são bons, mas a bebida é mais rápida/eficiente”. Muitas coisas ali no filme são insinuações a outras que não fazem parte do universo infantil… É difícil saber a pretensão do diretor e do roteirista, mas acho que muitas coisas dizem mais sobre a piração de quem assiste…

TO – Qual a música mais legal?
GW – As “oompa loompa doopa-de-do” são clássicas, mas minha preferida é a Pure Imagination, que o Wonka canta quando estão entrando na fábrica.

TO – O que acontecia com as crianças que iam desaparecendo durante o filme? Para onde elas iam? Elas morriam?
GW – Elas iam para o inferno, onde vivem as crianças-artistas que nunca mais fizeram filmes legais, junto com o Macaulay Culkin e aquelas guriazinhas que apareciam no programa dos Trapalhões.

TO – O que aconteceu com os outros 3 velhos que não se levantaram da cama?
GW – Ficaram na cama.

TO – Cogitam Nicolas Cage e Johnny Depp para estrelar um refilmagem do clássico. Você concorda com alguma dessas escolhas? Qual seria sua sugestão?
GW – Nicolas Cage é uma múmia, nem pensar. Eu ouvi falar que o Johnny Depp ia fazer… O que não me agrada nem um pouco. Ele vai fazer ou alguém muito atormentado ou muito imbecil. O Wonka foi imortalizado pelo Gene Wilder, com aquela mistura de loucura e bondade pura. Não vejo o porquê de uma releitura da Fábrica. Tenho o DVD e as cores são maravilhosas, o som também… Os efeitos são toscos, mas faz parte da magia. Tenho medo que uma nova versão vire uma groselha com açúcar da Disney, cheia de efeitos que só valem pelos efeitos, e a Christina Aguilera cantando a canção dos Oompaloompas. Ooo-oo-OOOO–Ooooom. paAaaAaaA.

TO – Qual sua sensação se você encontrasse um cupom dourado dentro de uma barra de chocolate?
GW – Se eu disser, vou ter que te matar.

TO – Qual a marca de chocolate que você mais gosta?
GW – Gosto muito do Nestlé-Alpino e do Hersheys ao leite. Também qualquer sabor de Toblerone… E das rapadurinhas de Nescau da minha vó. Não, rapadurinha não é só de coco/leite/amendoim. As melhores são as de Nescau.

TO – Deixe uma mensagens para todas as crianças.
GW – We are the music makers and we are the dreamers of dreams. E não se esqueçam do que aconteceu com o homem que conseguiu tudo que queria… ele foi feliz pra sempre.