Carta de Amor para Alice

Alice,

Tua mana Malu acertou: viesses numa terça-feira. Ela ainda não tem ideia do que seja uma terça-feira, nem imagina que foi nesse mesmo dia da semana que ela nasceu, mas não deixou de dar o palpite. A letra da música diz “fica mais uma semana, nesse tempo a gente engana”. Tá certo que esse “engana” deve ter sido a primeira rima que os autores encontraram para “semana”, mas dá a impressão que vocês duas estavam de combinação. Terça-feira passada eram exatos dois dias antes de completares 38 semanas e mais uma coincidência: prazo idêntico ao que a Malu veio ao mundo. Por isso, estávamos com a pulga atrás da orelha. “Ficar mais uma semana” foi o jeito que vocês acharam de nos “enganar”, é?

Ouvi teu choro logo que nascesses. Foi um alívio para a meu nervosismo que parecia maior do que o da tua mãe. Tirei uma foto muito engraçada do Doutor Flávio, teu pediatra, fazendo palhaçada contigo. A Doutora Flávia, obstetra da mamãe, foi nota 10. Não pense que “flávio(a)” é nome que se dá a quem cuida da saúde da gente — isso chama-se médico. Foi apenas mais um acaso.

A mamãe tinha feito toda a tua numerologia para o dia 4. Pelo resultado serias uma perfeita e completa bruxinha. Mas nascesses um dia antes, o que deve bagunçar toda matemática dos astros. Ao invés de bruxinha, então, talvez sejas uma bonequinha. Se bem que o tamanho dos teus pés e de tuas mãos, além dos 3,7kg e dos 51cm com os quais surgisse, predestinam qualquer sufixo, menos “inha”. Ah, falando em pés, como todo o clã Moreira, tens os dedos “anelares” tortos para dentro (no colégio, só te refiras assim aos das mãos, senão te rodam). Estão contigo nessa eu, Malu, vovô Amilton, tia Pri, primo Miguel. Te garanto que não se trata de uma aberração — não perdi casamento por causa deles.

Já que “tantos sonhos dormem em poucas palavras”, eu vou deixar este “bilhete curto”, até porque toda inspiração que tinha usei na hora que te fizemos.

Te amo.

Papai.

Denúncias de fraude em Promoção da Sky levam a nada

Participei de uma promoção da Sky no final do ano passado chamada “Minha Sky é Mais“. Consistia na produção e publicação de vídeos no You Tube sobre o tema “Por que minha Sky é Mais?” ou algo parecido. Acontece que houve tentativas de fraudar o sistema por parte de alguns participantes. E muitos foram vencedores da promoção. 3 ganhadores eram escolhidos pela votação popular nas “estrelinhas do You Tube”, em uma fórmula louca que fazia quem tivesse, por exemplo, apenas 1 nota 5 estrelas vencer quem tivesse 1000 notas 4 estrelas. Mas tudo bem. Eu não estou discutindo as regras. Para vencerem, alguns participantes bloquearam a possibilidade de notas para seus vídeos, deixando para abrir a votação apenas no último momento do prazo. Sendo assim, não haveria tempo para votos negativos. O You Tube é um sistema que não foi feito pra esse tipo de coisa. Mas vamos lá. Enviei o email abaixo para a organização da ação promocional que me respondeu prontamente e não distribuiu os prêmios até que uma auditoria esclarecesse os fatos. Hoje, entro no canal da promoção e está escrito que nenhuma irregularidade foi encontrada e que os vencedores originais sedrão premiados. Que pouca vergonha! Eu tinha enviado PROVAS!!!

Meu email na íntegra, com toda a explicação está aqui:

Estou escrevendo para denunciar erros (ou fraudes) nos resultados da promoção Minha TV É Mais.
 
O vídeo que tirou segundo lugar na votação do júri (http://br.youtube.com/watch?v=oWJH_msiqrw) fraudou o sistema, indo contra o regulamento que diz:  “Os vídeos participantes serão excluídos automaticamente em caso de suspeita de fraude ou no caso de violação das regras deste regulamento.”
Eu alertei vocês na ocasião em que autores de vídeos (inclusive deste que tirou segundo lugar) mudaram a configuração de seu perfil do seu vídeo no Youtube para que ele não pudesse ser votado e não ter sua nota reduzida. Mandei um print screen para vocês. A imagem, capturada dia 3/11, ainda está no endereço http://insightpublic.dnsalias.com/cuca/sky/fraudes/03.gif. Outras imagens de outros vídeos fraudulentos continuam no endereço http://insightpublic.dnsalias.com/cuca/sky/fraudes
 
O vídeo que tirou primeiro lugar na votação popular também foi denunciado por mim na ocasião por ter travado suas avaliações e, pasmém, continua com o recurso travado até agora!!! Como pode ter ganho? (http://insightpublic.dnsalias.com/cuca/sky/fraudes/02.gif)
O que tirou segundo lugar no voto popular também fraudou e eu alertei. Aqui está o print screen: http://insightpublic.dnsalias.com/cuca/sky/fraudes/06.gif
 
Os segundo e tereceiro lugares na votação é evidente que se valeram de recursos indevidos, como votação por proxy, visto que eles possuem mais avaliações do que a maioria dos vídeos mais vistos de todo o YouTube!!
 
Outra questão: o regulamento deixa claro que o participante assume a responsabilidade sobre o direito autoral e quaisquer outros bens juridicamente protegidos. Então, como podem ter sido premiados vídeos que mostram imagem de direito autoral reservado, como filmes, logomarcas alheias, artistas e etc??? O trecho do regulamento abaixo, comprova o que eu falo.
 
“O participante assume plena e exclusiva responsabilidade pelo vídeo enviado, bem como a titularidade e a originalidade do mesmo. E declara, que está autorizado a usar as imagens captadas, responsabilizando-se por eventuais violações à intimidade, privacidade, honra e imagem de qualquer pessoa, deveres de segredo, respeito à propriedade industrial, direito autoral e/ou a quaisquer outros bens juridicamente protegidos, eximindo a SKY de qualquer responsabilidade relativamente a tais fatos, aspectos, direitos e/ou situações.”
 
Gostaria que houvesse uma análise da sistuação e uma resposta de que atitude será tomada, caso contrário tomarei as vias legais para assegurar a legitimidade da promoção na qual o resultado, aparentememe fraudulento, está me  lesando.
 
Este email também está sendo enviado para a minha advogada e para o serviço de atendimento Sky.

Será lançada no dia 22 de janeiro a coletânea produzida pela RádioComArte Daqui – Volume 3“. A Água de Melissa (minha banda) está presente com uma música do novo disco (que ainda não saiu), chamada “Sol de Nascer“, de autoria do Coelho. Também estão presentes no projeto outros 18 artistas da cidade. A relação completa, em ordem alfabética, é esta:

Água de Melissa – “Sol de Nascer”
Aluísio Rockembach – “Lugar Incomum”
Frederico Viana – “Quando o Verso Não Vem”
Giamaré – “Um Canto p’ra Ocê”
Gilberto Isquierdo – “Vida”
Gilberto Oliveira – “Navio Negreiro”
João Montovani – “Olho do Dragão”
Julinho Pinheiro – “Malawi”
Marcelinho, O’Rapper – “Conversando com Guevara”
O Reggae Daluta – “Paz, Amor e Justiça”
O Zé e Tatu – “Iassair”
Pimenta Buena – “Cameavale”
Preta G – “Negra Guerreira”
Rô Bjerk – “Tempo de Espera”
Sovaco de Cobra – “Brejeiro”
Superma Ordem – “Força e Formas”
Universo Paralelo – “Fortaleza”
Vãn Züllatt – “Samba Jacaré!”
Virginia Machado e Arion Kurtz – “Cantar”

Haverá um evento de lançamento, no dia 22, às 21h, na Casa de Música (no Shopping Lobão). Acontecerão apresentações informais dos artistas e jams sessions.

Mais Preto que Vermelho

Todos vestiram a camisa do seu time. Os de bicicleta, os do ponto de ônibus, os motoboys, os frentistas e os que atravessavam a rua. Os vendedores de jornal e até os descamisados a vestiam. A moça que abria a loja estava com a vermelha. O dono do escritório, com a branca. Um ia pro trabalho com a bandeira nas costas. Eles não estavam comemorando uma vitória. Não celebravam uma contratação, nem a chegada de um novo patrocinador. Não era aniversário do clube e nem tinham subido de divisão. Não havia sido lançado um novo uniforme – cada um usava o que tinha em casa, de anos. Não comemoravam a eleição de uma nova diretoria nem achacavam a derrota de seu rival. Sua sede não estava sendo reformada.

O nome do seu time aparecera nos noticiários nacionais e internacionais, com exposição inédita. Mas eles não celebravam nada. Na verdade, não havia nada para ser comemorarado.

Então…

Não suporto mais os padrões do jornalismo da Rede Globo. Por que toda a vez que falam do PIB têm que explicar “a soma de todas as riquezas produzidas no País”? Não é de vez em quando. É sempre! Não podem ser tão eficientes assim. Por que, a cada vez que divulgam uma pesquisa de opinião, têm que dizer, após falar da margem de erro, “tanto pra mais quanto pra menos”? Blerg! Arggg! TODAS AS VEZES! Não é possível que subestimem tanto a inteligência das pessoas e que façam isso sistematicamente. E quando falam de alguma medida de grandes proporções e comparam com campos de futebol? “A nova indústria do grupo tem o tamanho de 15 campos de futebol.” Que desserviço é esse? Nunca ouviram falar em metros quadrados? Acres, hectares? Tá certo que grande parte do povo não sabe o que é um hectare, mas não é uma das funções do jornalismo fazer pensar? Ensinar a pensar?

Nada a ver com a Globo, mas dentro do mesmo assunto para o qual ando com a tolerância abaixo do zero: e os entrevistados que iniciam suas respostas com “Então…”? “Então…” é o novo “Tipo, assim…”. Todo mundo debocha do texto proferido pelos jogadores de futebol, mas já notaram que são os jornalistas que perguntam sempre a mesma coisa?

— O que você espera do jogo?
— Ah, espero perder. Não estou muito confiante hoje. Acordei com um mau presságio.
— E vai mais um golzinho aí, para continuar artilheiro?
— Nah! Hoje tô cansado. Só se for contra. Vou ficar lá conversando com nosso goleiro. Se pintar bola na zaga, eu meto pra dentro. Será que vale para a conta da artilharia?

E quando fazem matérias onde o repórter chega em uma casa, cumprimenta as pessoas, mas a câmera já estava lá dentro? De certo o cinegrafista chegou antes, escondido, pela janela, e ficou aguardando atrás do sofá. Quando o jornalista bateu na porta, começou a gravar e captou a surpresa do entrevistado ao receber uma visita tão inesperada. E quando gravam a família fingindo suas atividades diárias costumeiras, como se nada de diferente estivesse acontecendo?

O jornalismo não deveria contar a verdade? Fazer historinha é pro cinema, pra novela, pro gibi. Quando falo sobre esse assunto, geralmente devolvem a crítica falando da minha profissão, de publicitário: “e não se mente na propaganda?”. Em um nível superimaginativo, até que sim. Mas a questão é que, com anúncios e comerciais, todo mundo tem o pé atrás; já assistem armados, na defesa. Com matérias jornalísticas, as pessoas tendem a se portar ingenuamente, a acreditar piamente, como se fosse pura verdade. O jornalismo é muito mais nocivo do que a publicidade, principalmente quando tem segundas intenções. E, em 90% das vezes, tem. A publicidade tem apenas uma: vender. Já o jornalismo, dá pra fazer uma lista de possíveis intenções ocultas. Gosto de pensar assim para limpar a barra com a minha consciência. É tipo um exercício de purificação espiritual.

Ai, Meu Deus

(só achei esta foto)

Minha filha perguntou qual era o nome daquele “estribo” que há nos carros para segurarmos. Fiquei louco para dizer “chama-se ‘puta-merda’, querida”. Minha mulher pressentiu a vontade crescendo dentro de mim e lançou imediatamente um olhar de reprovação. Com toda razão. Afinal, não é aconselhável falar palavrões para uma criança de apenas quatro anos. Pelos menos, não em vão. Para não desperdiçar a satisfação em dar uma resposta que me enchesse de alegria, não hesitei: “O nome disso é ‘ai-meu-deus’, filha. Sabe por quê? Quando se passa em um buraco, a pessoa agarra nessa alça e grita ‘ai, meu Deus!‘”.

Ontem, no carro, sentadinha atrás, ela alertou a mãe:

— Segura no teu ai-meu-deus, mamãe! — e constatou — Não tem “ai-meu-deus” aqui no meu lugar…

— Quando a gente for trocar de carro, prometo que compro um que tenha “ai-meu-deus” no banco de trás também.

— Se não tiver com “ai-meu-deus”, pai, pode ser com “puta-merda” também, tá?

Essa última frase inventei, é claro.

A Vida dos Outros

Fiquei esperando no carro enquanto minha mulher ia na farmácia.

Na parada de ônibus do outro lado da rua, um casal de surdos-mudos discutia. Nunca tinha presenciado uma briga na linguagem dos sinais. Prestei atenção, tentando captar uma palavra (ou intenção), como fazemos quando escutamos um idioma que não dominamos. Em seus gestos, ele indicou a si, passou o dedo no pulso mostrando as veias, fez “não” com a mão e apontou para ela. “Nossa. Ele disse que o sangue dele não é o mesmo dela?!” Um ônibus parou. Cobriu minha visão. Torci para que não fosse o que esperavam. Queria ver mais daquela discussão silenciosa. Não era. “Ufa!”

Com minha interpretação novela-das-oito e freud-shakespeariana de quem nunca teve contato com linguagem dos sinais, era impossível não deixar de imaginar toda a história. Os dois foram criados como irmãos, se apaixonaram, passaram a se encontrar às escondidas, no celeiro da casa na Colônia. Mas ela achava o romance proibido; que estavam cometendo pecado; que aos olhos da família era praticamente um incesto. Ele relutava. Dizia que nem tinham o mesmo sangue; que todo amor era permitido, pois pra que serviria a vida, afinal? Que, se o destino os colocou lado a lado, com tantos outros caminhos possíveis e, se tinham compartilhado esse sentimento tão intenso, não seria a igreja, a tradição familiar, os olhares dos vizinhos ou qualquer julgamento de anormalidade que haveria de os separar.

Segui no pensamento. Estava disposto a enfrentar a todos, mas a fugir também, se preciso fosse. Ela olhou pra ele. Ele olhou pra ela. Ficaram assim, parados, por minutos, sem pronunciar (ou sinalizar) nenhuma palavra (ou significado). Surdos-mudos são bem mais visuais.

Toda a rua era testemunha daquela discussão silenciosa. Outro ônibus parou. Ainda não era o deles. Ela fez um sinal juntando todos os dedos virados pra cima, como quem indica quantidade. Era isso. Continuo a imaginar. Ela disse que fugir era caro. Não tinham dinheiro. Como iriam se sustentar? Ainda eram jovens e inexperientes, principalmente tendo que garantir o sustento da criança que estava por vir. “Claro! Um bebê!” Por isso estavam em frente à farmácia. Ela acabara de fazer um exame de gravidez. Chegou outro ônibus e os escondeu. Quando saiu, não estavam mais ali. Não consegui nem ver qual era a linha.

Minha esposa voltou, reclamando que demorara para ser atendida. Nem percebi. Liguei o carro e fomos embora, deixando outras seis pessoas aguardando o próximo ônibus. Para onde estariam indo?

Cansei de esperar

Passei 34 anos da minha vida (talvez menos, claro) esperando pelos outros. Chegou a hora de esperarem por mim.

Se marcam às 20h, estou minutos ou segundos antes, para não deixar ninguém aguardando. Se não posso, combino outro horário. Não tem nada demais. Não tem nada de difícil. Você não sabe quanto tempo vai levar tomando banho? Não sabe quanto tempo leva para tomar café? Você é daqueles que adianta o relógio para não se atrasar? Está tentando enganar a quem?

Em uma entrevista, Antônio Fagundes falava sobre sua pontualidade. Só que ele chega meia hora antes. Talvez seja a margem de erro para o inusitado em uma cidade do tamanho de São Paulo, para os problemas de trânsito do Rio. Talvez seja mais doente (ou são) do que eu. O fato é que chegar meia hora antes do combinado e a outra pessoa meia hora depois, significa uma espera de uma hora! Não há paciência que aguente. Mas meia hora antes é um exagero. O ideal é chegar na hora marcada.

Passei 34 anos da minha vida esperando pelos outros. Agora, que esperem por mim. Antes de sair para um encontro, vou demorar no banho, ouvir uma música que estou com saudade, molhar a grama, escolher a roupa com calma; decidir, desistir, mudar de ideia; tirar um cochilo. Quando já estiver atrasado, ligarei pra dizer que vou me atrasar. Vou fazer hora.



Ah! Eu não consigo! Por quê, meu Deus?!

Atendimento ao Consumidor

Quando os SACs funcionam, o que pega é a falta de senso de humor. Estou pedindo demais?
(O nome do atendente foi trocado para proteger inocentes. Eu, no caso.)

ROBERTO MARLEY: Olá CUCA ! Bem-vindo ao atendimento on line da SKY. Em que posso ajudar?
CUCA: Gostaria de saber onde eu posso encontrar um controle remoto da Sky+ para vender
CUCA:  Só encontro da Sky convencional
ROBERTO MARLEY: Boa tarde CUCA!
ROBERTO MARLEY: Confirme o e-mail e telefone para o acesso ao cadastro, por gentileza.

ROBERTO MARLEY: Obrigado, aguarde um momento enquanto confirmo os dados.
ROBERTO MARLEY: CUCA, obrigado por aguardar.
ROBERTO MARLEY: Atualmente seu controle apresenta algum defeito?
CUCA: Sim
ROBERTO MARLEY: Qual?
CUCA: Desculpa, mas interessa?
CUCA: Só quero comprar outro.
CUCA: Ok, então. Eu derramei leite com Toddy em cima dele e minha esposa colocou no micro-ondas para secar. Ele praticamente explodiu
CUCA: Mas foi Toddy, viu? Não foi Nescau!
CUCA: Sabe me dizer onde eu posso encontrar um controle remoto da Sky+ para vender?
ROBERTO MARLEY: Neste caso, devo informá-lo que você já assina nosso serviço opcional SKY Assistência Premium, e que lhe dá direito a receber um novo controle.
CUCA: Legal. Você pode solicitar um pra mim?
ROBERTO MARLEY: Um momento, por favor.

ROBERTO MARLEY: CUCA, obrigado por aguardar.
ROBERTO MARLEY: O envio do novo controle foi efetuado com sucesso, o mesmo será entregue em até 15 dias corridos.
CUCA: Muito obrigado.
ROBERTO MARLEY: Se não tiver mais dúvidas, aguarde para anotar o protocolo do atendimento.
CUCA: Ah… A história do Toddy era mentira.
CUCA: Foi Nescau mesmo. : ) Boa tarde.
ROBERTO MARLEY: Algo mais em que posso ajudar?
CUCA: Não, obrigado
ROBERTO MARLEY: Pois não CUCA, é sempre um prazer lhe atender, ao sair do chat responda nossa pesquisa de atendimento. Boa tarde.

As nuanças do preconceito

Nota do editor

Faz tempo que escrevi isto e minha opinião mudou bastante. Mas não irei apagar nem alterar por uma questão histórica de meu amadurecimento.

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Quem acreditaria que os americanos elegeriam um presidente negro tão cedo? Ou seria “tão tarde”? Afinal, já quebramos a barreira futurista dos anos 2000, a qual a ficção usava para datar suas previsões. Aquele tempo longínquo chegou.

Obama ganhou as eleições porque não apelou para o discurso racial. Ele não se vendeu como um candidato negro. Era apenas um candidato. Foi uma campanha sem ranço. Isso prova uma teoria antiga minha. Sempre acreditei que levantar a bandeira das causas raciais era o primeiro passo para o racismo. Fico extremamente feliz, e até presunçoso, que isso tenha se provado na maior esfera possível — a presidência “do mundo”.

Cada vez que alguém aparece na TV falando sobre discriminação — ou elevando o mérito de quem conquistou algo “mesmo fazendo parte de alguma ‘minoria'” — o preconceito se alimenta. Em certa entrevista, o ator Milton Gonçalves disse que só o convidavam para programas, entrevistas ou aparições públicas quando o assunto continha abordagens étnicas ou de relacionamento social inter-racial. Nunca era solicitado para falar sobre seu ofício de ator ou sobre qualquer outro tema corriqueiro, daqueles que os veículos de comunicação adoram obter o testemunho fútil de celebridades. Na novela “A Favorita”, da Rede Globo, ele representa um político corrupto, mas a questão racial nem é mencionada. Geralmente, haveria certo pudor em colocar um negro em um papel de vilão, com medo de julgamentos do tipo “só colocam negros como ladrões, assassinos etc”. Trata-se de uma vitória pessoal de Milton e de toda sociedade (note que não falei “sociedade negra”, “afro-descendente” ou “afro-americana” — ô, terminhos ridículos). Isso se chama evolução e fico feliz que as pessoas estejam percebendo e agindo de forma mais positiva com relação a esta questão. Estamos em plena Semana da Consciência Negra. A pessoa que a inventou deveria estar presa. Imaginem uma semana da consciência branca. Impraticável. Então, o inverso também.

Não devemos, em uma questão historicamente tão conflituosa, exaltar nossas diferenças. Somos todos iguais. Só é preciso que acreditemos nisso e não promovamos a dúvida. A prova é o Obama. Talvez eu nem devesse ter escrito isto, afinal, minha teoria é justamente a de que expor pensamentos desse tipo só cria distinções que não existem. Ah, agora já foi.