Minha filha tem intolerância à lactose. Descobrimos há uns 2 meses. Estamos no período de desintoxicação para, depois, verificar qual o limite exato dela para laticíneos. É a “doença da moda”. Uma infinidade de gente com problemas digestivos crônicos, nunca antes diagnosticados, estão sendo enquadradas como deficientes na produção de lactase (enzima de nosso corpo que processa a lactose — é como a insulina para o açúcar).
Além dos alimentos óbvios que estão na lista negra, como iogurte, queijo, manteiga e o próprio leite, outros que nem imaginamos precisam ser verificados. A visita ao supermercado agora leva três vezes mais tempo, pois tenho que ler a listagem de ingredientes de todas as embalagens. Todas as maioneses industriais que encontrei têm ácido lático. A maioria das margarinas também. Pães de sanduíche tem soro de leite. Os mais variados tipos de biscoitos idem. Até os de água e sal têm. A marca Zezé (www.zeze.com.br) é uma das poucas, senão a única, em matéria de biscoito, própria para quem sofre desse mal.
O mais ridículo é quando encontramos a inscrição “pode conter traços de lactose”. A afirmação indica que o alimento foi processado por uma indústria que manipula leite no mesmo espaço ou no mesmo “tacho” em que o produto em questão. Além da informação imprecisa, pra mim, é o mesmo que dizer “não temos condições higiênicas de limparmos com eficiência nossos equipamentos ou de lavarmos nossas mãos e só não colocamos a inscrição ‘pode conter traços de asas de moscas, antenas de baratas e cocô de morcego’ porque a Anvisa não exige”.
E aí? Você prefere ingerir traços de urina de rato ou de lactose?
Mesmo quem não gosta de ler manuais de aparelhos eletrônicos sabe que não se coloca ovos no micro-ondas. As moléculas de água expandem e fazem o alimento hermético explodir. Eu também sei e, por isso, nunca experimentei, a não ser com ovos mexidos. Mas outro dia me deu aquela coceirinha. Eu sou o tipo de pessoa que não aguenta ver uma espinha sem cutucar, uma picada de mosquito sem fazer fendas em cruz e em “X” com a unha, uma casquinha de ferida sem arrancar, uma cutícula esfarrapada sem morder. Sim, sou do tipo ansioso.
Cozinhei três ovos, de forma convencional, no fogão. Apressado, retirei da água antes de ficarem completamente duros. Precisava com a gema bem cozida. Como já tinha descascado, tive uma brilhante ideia: “Trinta segundinhos de micro-ondas não serão suficientes para causar qualquer dano”. Ousei. “Pi, pi, pi, pi.” Deu certo! Não explodiram! Mas ainda não estavam no ponto que queria. “Só mais trinta não dá nada.” Quando faltavam apenas 5 segundos — “puuuff” — um foi pelos ares, ou melhor, por dentro do forno. “Imbecil!” Retirei com cuidado. Quando larguei sobre a mesa, o segundo se destruiu sujando toda a cozinha. Ainda bem que não estava mole, o estrago seria maior. Sobrou um. Como uma espinha, uma picada de mosquito, uma casquinha de ferida, uma cutícula rebelde, aquele ovo latejante me chamava. Peguei uma faca e espetei.
“Puuuuuuuuuuuufffffffff”.
Saldo: ovos espalhados pelas paredes e um dedo queimado.
No começo, o Supermercado Big de Pelotas era um oasis. Corredores amplos, boa variedade de produtos, muitos caixas, estacionamento coberto, pracinha de alimentação. Era o shopping center do pelotense. As famílias iam pra passear; pra mostrar pros parentes que vinham do “interior”. Nada mais ridículo e provinciano. Por um tempo eu fui cliente semanal, pois gostava da amplitude e variedade. Preferia ir aos domingos de manhã. Logo que abria lá estava, para pegar pouco movimento e esperar menos nas filas. Foi então que a rede mudou de dono. Passou do controle português do Sonae para as mãos dos americanos do Wal-Mart – a maior empresa do mundo.
O negócio do Wal Mart é preço. E todo mundo sabe que preço e qualidade são duas faces da moeda (tomemos isso como regra, para não entrarmos em um nível de discussão sensacionalista sobre as prováveis estratégias administrativas que não temos conhecimento real). E as mudanças começaram a acontecer: marcas habitais começaram a sumir das prateleiras; negligência com remarcação de produtos causava divergência entre código-de-barras e etiqueta; prateleiras não repostas; poucos caixas abertos. Mesmo nas manhãs dominicais, bem cedo, os check-outs já não davam mais conta do recado. As filas se formavam rapidamente. Além dos caixas rápidos, abria apenas um na primeira meia hora e iam acionando outros de tanto em tanto tempo. Um pensamento lógico até, mas em uma velocidade que subestimava o tamanho da demanda acumulada. Mesmo nos primeiros dias do mês quando, todo mundo sabe, o consumo aumenta significativamente em virtude do pagamento dos salárioso, o processo era o mesmo. O tempo útil do meu dia de descanso foi sendo, semana a semana, reduzido, até que, certa vez, depois de fazer um de meus ranchos dos grandes, me deparei com apenas duas filas, dos cerca de 20 caixas montados, e com mais de 10 pessoas em cada. Eram 10 horas da manhã de domingo, tinha chegado pouco depois das 9. Perderia, no mínimo, mais meia hora quarando ali. Uma hora e meia de supermercado é só pra quem gosta. Abandonei o carrinho e me dirigi bufando à saída. “Por que a gente tá indo embora, pai?” “Por que este supermercado não respeita a gente, filha.” No caminho, cruzei por algum tipo de gerente e questionei se não abririam outros check-outs. Extávamos no começo de mês. Tinha muito movimento. A resposta foi que novos funcionários assumiriam em meia hora. Excomunguei todos enquanto outra consumidora indignada dizia: “isso mesmo, a gente tem que reclamar”. Retruquei: “não temos que reclamar nada, temos que ir embora comprar em outro lugar. Simples assim.” Nunca mais voltei. O horário que eu frequentava nem é o mais caótico. As filas são muito maiores aos finais de tarde, por exemplo.
Sinceramente, não entendo esse povinho pelotense. Gosta de ser maltratado. Gosta de serviço de segunda. O fanatismo pelo Big é só mais uma prova disso. Sou a favor de empresas de fora quando vêm para mostrar excelência em produtos ou serviços, pois fazem a concorrência local evoluir. Agora, quando vêm para trabalhar mal e ainda são adoradas, abomino, bem como seus consumidores. E a culpa é de quem? Não mais minha, graças a Deus.
Esta semana surgiu um comentário na cidade que o Big estaria com as fundações comprometidas devido ao mau dimensionamento da estrutura. Dizem que irão se mudar provisoriamente para o lugar onde é o Maxxi, o macroatacado recém inaugurado do Wal-Mart que parece também ir mal das pernas, não estruturalmente, mas comercialmente. Mesmo com os “boatos” de possível desabamento que correm pela cidade, passei hoje em frente ao Big e estava, pasmém, cheio. Ô povinho desgraçado.
Fui incumbido a fazer um Camarão a Thermidor para a família de minha esposa. O prato não combina muito com o calor que faz em Palmas, mas nada que uma piscina não resolva imediatamente e que uma caminhada de 1 hora não resolva a longo prazo. A receita que eu faço, não sei se é a original (aliás, tenho certeza que não é), pois é uma mistura do melhor que achei em várias fontes. Fez tanto sucesso com o pessoal que pediram para eu deixar a receita. Escrevi uma versão cheia de gracinhas e deixei no desktop do meu sogro. Para não correr o risco de algum desavisado deletar e para deixar o registro para a história, publico aqui.
CAMARÃO A THERMIDOR (do Cuca)
Ingredientes para o molho:
– 1 cebola média
– 3 colheres (sopa) de farinha de trigo
– 50g de manteiga
– 200g de queijo gruyère
– 1 copo de nata fresca
– 2 copos de leite
– 1 copo pequeno de champignon
– 4 gemas de ovo
– noz-moscada
– sal
– pimenta-do-reino
Ingredientes para o camarão:
– 1kg de camarão (quanto maior, melhor)
– conhaque para flambar
– alho
– sal
– 3 limões
– pimenta-do-reino
– 50g de manteiga
Modo de fazer (molho):
Frite a cebola na manteiga. Coloque as colheres de farinha e misture. Vá adicionando o leite vagarozamente para não empelotar, mexendo sempre e raspando a colher no fundo para não grudar. Parta o queijo em pedaços pequenos e misture até derreter. Adicione as gemas ao poucos, mexendo vigorosamente para dissolver bem. Coloque a nata fresca, tempere com noz-moscada, pimenta-do-reino e sal. O ponto certo é até a farinha estar cozida. Adicione o champignon só no final.
Obs.: jamais engrosse com maizena – não trata-se de um mingau. Se necessário, para afinar o ponto, use mais leite para dissolver ou mais farinha para engrossar.
Modo de fazer (camarão):
Tempere o camarão com limão, alho, sal e a pimenta-do-reino. Deixe marinando por cerca de uma hora (ou, se não der, apenas pelo tempo de fazer o molho acima) e escorra bem. Consiga no vizinho uma frigideira muito grande, de laterais não-verticais. Com ela muito – mas muito – quente (de preferência no fogareiro do vô), frite os camarões de pouco em pouco com o auxílio de pouca manteiga de cada vez. 20 a 30 segundo de cada lado é o suficiente. Adicione cerca de duas colheres (sopa) de conhaque e flambe (deite a frigideira para que as chamas do fogareiro inflamem o conhaque). Retire do fogo e reserve. Repita o processo até finalizar com o camarão. Obs.: o camarão deve fritar e não cozinhar, portanto a temperatura elevada da frigideira é essencial; para fritar 1kg do crustáceo será necessário, no mínimo, dividir em 5 fritadas – assim não criará muita água, o que atrapalharia também o flambar.
Montagem:
Em uma forma refratária, misture o camarão e o molho branco. Se desejar cubra com queijo parmesão ralado. Leve ao forno pré-aquecido até dourar a superfície, ou se o povo estiver com muita fome e sono, até começar a borbulhar.
Não se tratam, especificamente, de restaurantes. São como bares, só que um pouco mais incrementados em termos gastronômicos.
No Açaí.Com, o primeiro contato do garçom foi para se desculpar pela demora, justificando com a falta ao trabalho de dois colegas. E o queco? Odeio esse tipo de argumento, quando o cara tá mais preocupado em livrar a cara do que tentar resolver o problema; como se eu fosse culpá-lo pessoalmente por isso. Ele quer que eu tenha raiva do vagabundo que ficou em casa e livre a barra dele? Tô nem aí. Fico indignado é com o chefe que não consegue ter uma equipe que preste, nem para comparecer ao trabalho nem treinada o suficiente para se comunicar com o cliente.
Apesar do nome do lugar, servem também crepes e panquecas. “Qual a diferença da massa do crepe e da panqueca?”, perguntei. “Ã… Assim… É… No caso… É a mesma massa, só que diferente.” Entendeu? Nem eu. “É que uma é crepe e a outra é panqueca.” Lhufas. Continuei na mesma. Acho que ele quis dizer que era a mesma massa, porém apresentada de forma diferente no prato. Pela foto do cardápio o crepe era aquadradado e a panqueca enrolada da forma tradicional.
Pedi um crepe Açaí.Com. Aprendi que, na dúvida, devemos pedir sempre o que a casa indica. Tratava-se de frango com catupiry e palmito. Muito bom por sinal, exceto pelo exagero de recheio. O troço é grande demais, com muito, mas muito queijo. Não consegui comer todo. Havia acabado de dividir com minha mulher uma tigela de açaí com outras frutas e granola. Gelado! Esse sim, extremamente gostoso. A primeira vez que provei açaí foi na forma de suco em Porto Alegre. Achei uma merda. Tinha gosto de terra. Depois comi outro excelente em Bombinhas, SC. Mas o do Açaí.Com, de Palmas, superou. Ameacei minha esposa de tomar um Tribomba, mas ela me lembrou que estamos dormindo com nossas duas filhas no mesmo quarto (veja foto).
O Espetinho Pôr-do-Sol serve, claro, espetinhos, além de caldos, como especialidades. Tomei um caldo de carne de sol com mandioca. Bom mas nada demais. Acompanhavam 3 fatias de pão – que combinariam melhor se semitorradas -, queijo “mussarela” em tiras – bem melhor se fosse um parmesão ralado – e um potinho de coentro, que achando ser salsa virei inteiro dentro do caldo. Na primeira colherada percebi a cagada e retirei tudo que consegui. Não tenho nada contra coentro, exceto em excesso (pô, que bonita essa sequência de XC: “exceto em excesso”). Já não é a primeira vez que percebo o uso além do normal de coentro por aqui. Achei que fosse apenas gosto local. Mas descobri que há uma dificuldade em achar salsa para vender em Palmas. De acordo com a origem dos donos do estabelecimento – paranaenses – deduzi que o coentro não estava ali por ser um hábito palmense, mas em substituição à salsa.
Um dos espetinhos era de kafta. Perguntei se era feito de carne de ovelha, como estou acostumado a comer a iguaria libanesa. O garçom disse que não e pedi para explicar do que se tratava. “É que é carne de boi bem condimentada, com temperos fortes, tipo da Índia.” Atrás dele, a TV ligada na novela das 8 exibia o Taj Mahal. Fico com o kafta do Kibe Sphirra de Pelotas. Bem melhor.
Estou de férias. Estou em Palmas, Tocantins. Pra quem não sabe, é uma cidade planejada, com menos de 20 anos de fundação, e que está em franco crescimento. É capital do estado e atrai imigrantes de todo o Brasil. Mais de 50% é maranhense. Chamam de “gaúcho” qualquer um que venha de São Paulo pra baixo.
Dom Vergílio é uma pizzaria grande, cujo dono é gaúcho. Ele fez questão de trazer toda mão-de-obra do Sul. Aliás, material humano de qualidade é o que há de mais escasso por aqui. Quem faz meia-boca é dono do pedaço. Quem faz direitinho, enriquece. Já é minha terceira vez na Dom Vergílio. Voltei porque gostei. O local é feito para faturar alto, com giro rápido de clientes. Creio que atenda, simultaneamente, a umas 150 pessoas. A organização do atendimento é exemplar, dividida em recepcionistas, tiradores de pedidos, garçons que trazem as pizzas e outros as bebidas. Nossa solicitação é anotada em um PDA e, antes mesmo de finalizada, as bebidas já estão chegando. Informatização que reduz falhas, agiliza o processo e faz as eventuais filas na porta andarem rápido. Há de se faturar.
As pizzas são muito boas, tirando algumas atrocidades do vasto cardápio, como a de strogonoff, coberta de batata palha. Tem quem peça. Os ingredientes são de ótima qualidade. O sabor 6 Queijos traz realmente 6 tipos dos bons, nem precisava tanto; poderiam, ser só 4. A massa é deliciosa e fina, mas dá pra reduzir. Raro, os tomates secos são fartos. Os tamanhos oferecidos são “médio”, “grande” e “big”. Não me pergunte qual a diferença entre o “grande” e o “big”. Talvez o “big” venha com catchup. Não deveria ser “bigger”, ou simplesmente “maior”, “súper”, “família”?. Acho que é para não oferecerem um tamanho “pequeno”. O dono deve ter lido algum livrinho do Sebrae.
Chamei o o tirador de pedidos (o cara com o PDA) e perguntei que sucos tinham. “Todos, menos de maracujá.” “Uau! Como assim ‘todos’?” Secamente, “todos”. Perguntei, “inclusive de uva?”.
Lembrei-me de um episódio engraçado. Certa vez, em Recife, em um daqueles resorts 5 estrelas – não sei como fui parar lá e não tenho a mínima previsão de regressar – perguntei sobre sucos. A resposta foi a mesma, “todos”. Pedi um de uva. O garçom todo atencioso e desapontado, começou a balançar a cabeça lenta e negativamente. Desistiu no meio e decidiu resolver meu problema: “podemos providenciar para o senhor”. “Natural?”, perguntei. “Sem dúvida”. Me senti um rei, até chegar o copo. Colocaram os cachos no liquidificador e serviram uma gosma verde, com fragmento de sementes e galhos. Eu deveria imaginar que um suco de uva improvisado não seria feito do modo lento e tradicional, fervendo a fruta, filtrando com um pano, etc. Palmas não é no Nordeste, mas visualizei que com tantas frutas diferentes, uva deveria ser pouco popular também por aqui, na região Norte. Engano.
“Uva?”, já anotando meu desejo. “Não, obrigado. Era só para testar. Traz um de limão mesmo. Sem açúcar.” “Limonada tradicional ou suiça?”. Mas, ah! O cara tava falando sério mesmo quando disse “todos”. Depois de servido, resolvi tirar a prova derradeira: “amigo, tem de carambola?” “Só um minuto que vou verificar, senhor.” Não voltou mais. Achei um cardápio para confeerir. Não tinha. Ah, também não são tantos assim. São só 23 naturais.
Se no Wii Golf eu sou o brasileiro mais bem posicionado no ranking mundial (22º lugar geral com “-10” no www.wii-records.com), por outro lado sou o pior do mundo no Mario Kart. Na modalidade Nintendo WFC fico sempre nas últimas posições competindo com gente da França, Suíça, EUA, Inglaterra, Japão etc. E o pior é que não tenho nem ideia do que estou fazendo de errado. Uso derrapagens, miniturbos, aproveito todas as vantagens que a pista me oferece, pego todos os dados flutuantes e uso seus atributos com sapiência, mas não adianta. Sempre perco. Quando incluo na disputa a minha filha de 4 anos, pelo menos sei que não vou ficar em último. Na hora de votar na pista, vou sempre na Luigi Circuit, a mais babaca e menos desastrosa pra mim.
Mas o meu problema com kart não se restringe ao videogame. As duas oportunidades que tive de pilotar um de verdade foram desastrosas. O problema maior é que eu enjoo. O cheiro de óleo, as curvas em alta velocidade, o desconforto do assento, tudo colabora para o meu mal-estar. Na última vez, fiquei tão destruído, mas tão destruído com a experiência, que cheguei em casa quase sem conseguir dirigir, às oito da noite, disse “oi” pro pessoal, me joguei no tapete da sala e dormi por duas horas e meia. Só me acordei porque minha cama era tentação muito maior e mais confortável para passar a madrugada. Acho que o que me liquidou mesmo foi o Dramin que eu tomei meia hora antes. Já escaldado da vez anterior, resolvi me precaver. Mas Dramin dá um baita sono. Acho que foi pior. Me senti como se eu tivesse bebido e apanhado muito. As pessoas que foram comigo não sentiram nada; saíram dando risada e fazendo planos para uma próxima vez. Pra mim nunca mais.
Vou focar o meu gosto por automobilismo na nova temporada da Fórmula 1 e na prática mais intensa de Mario Kart.
O cara que inventou este produto é um gênio. Talvez a sacada a que me refiro faça parte do beabá do marketing, mas confesso ignorar. Pelo menos de forma tão coesa como essa – e em um produto, não em promoção ou comunicação. O Light Shake Dream Week com Colágeno promete, com baixas calorias, suprir as necessidades nutricionais de uma (geralmente, é uma) das refeições diárias de quem quer perder peso. Está cheio de produtos assim no mercado, todo mundo sabe, inclusive usando este argumente “week”, como se em uma semana tudo estivesse resolvido. Mas meu ponto não é esse. O golpe de mestre é o colágeno. A inclusão dessa proteína, essencial para a manutenção da pele, certamente leva o shake a outro patamar de produto. O maketing da companhia, sacando que as pessoas sempre desconfiam dessas fórmulas milagrosas de emagrecimento, foi além. Quem vai duvidar da eficácia de emagrecimento de uma marca que se preocupa com a pele flácida que o consumidor ficará após inserí-la em sua dieta? Ao invés de dizer “você vai emagrecer”, é como se dissessem “quando você emagrecer…”. Com isso, pula-se a etapa do questionamento sobre a principal e mais polêmica função. Atesta-se o resultado da perda de peso sem sequer discutir-se sobre ela. É muito difícil criar esse segundo argumento de forma tão séria, científica e implacável. Tentei exercitar minha imaginação e só cheguei a exemplos cheios de humor e sem muita credibilidade:
– um tênis para corridas que “de tão eficiente” vem com minianilhas de peso para você dosar o lastro extra necessário para mantê-lo no chão;
– uma ração que promete saúde inabalável para cachorros, com extrato de camomila em sua fórmula, para que compense a extrema alegria e hiperatividade que os bichinhos ganharão – ninguém suportaria um animal tão feliz e chato;
– uma faca tão afiada que sua bainha com código eletrônico para ser retirada, de forma a proteger crianças mexeriqueiras.
Tá, fui péssimo. Mas deu pra entender o recado. O primeiro atributo é tão eficiente que precisa de um segundo para compensá-lo. Palmas ao Light Shake Dream Week Com Colágeno.
Cuida a do meu avô. Ele fez 91 anos no domingo. Acha que estamos em 2011 e que tem 93. Fica me chamando o tempo todo de Paulo, nome do sobrinho dele. Quando criança, morou em Cachoeiro de Itapemirim, mesma cidade de Roberto Carlos.
Lendo a biografia do Rei, descobri que a mãe dele, a famosa Lady Laura, homenageada em uma de suas canções, se chamava Laura Moreira. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Seríamos parentes? O nome de meu avô é Nézio Moreira Tardin.
Resolvi questionar a ele por que meu pai é Moreira e qual era o nome de meus bisavós. Descobri que o último nome de meu bisavô era Azevedo. Moreira era o nome da minha bisavó. Sobre todo esse embaralhamento de sobrenomes, ele só explicou que “naquela época era diferente” e “lá era diferente”. Acho que não vou descobrir nunca o motivo verdadeiro. Mas aproveitei para sondar sobre um possível parentesco meu com o “amigo” Roberto. Perguntei se ele conhecera uma tal de Laura Moreira. Ele respondeu: “só de nome, só de nome”. Bom, até aí, ele e todo o Brasil.
“Me abraça bem forte, Lady Laura Me conta uma história, Lady Laura Me faça dormir, Lady Laura.”