Restaurantes de Pelotas: Creperie

Foto meramente ilustrativa catada da Internet

Adendo (12/maio/2015): escrevi este post há muitos anos. Eu ou a casa mudou. Torço para que tenha sido eu (se tiver sido para melhor). O fato é que os crepes estão novamente deliciosos, os sorvetes artesanais são divinos e, às terças-feiras, servem também hambúrgueres perfeitos, com pão feito no local. Recomendo a visita!

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Sou péssimo com datas. Chutaria uns 10 anos de idade. Vi a criação da Creperie, na Anchieta entre Bento e Argolo, com os fundadores Schaun (Luiz) e Ana. Eu e meus amigos chegávamos a ir 2, 3 vezes por semana. Drinks sensacionais, massa perfeita, recheios saborosos. Tive o agrado de ver no cardápio um coquetel sugerido por mim, que misturava vodka, leite condensado e suco de laranja. Estava lá: “EFS dos Cuca” (traduzindo: “Essa Foi Sugestão do Cuca”). Bebidas e comidas, tudo feito com muito tesão e dedicação. Mudaram-se para a Gonçalves, em frente ao Diamantinos, mantendo o mesmo padrão. Só que é aquilo: restaurante é pra quem nasceu pro negócio — Schaun e Ana cansaram da rotina exaustiva. Antes de abrir mão da qualidade, resolveram vendê-lo.

Depois da troca de dono, foi para onde é até hoje, na Avenida, em um espaço mais caprichado e bem decorado. Porém, o crepe nunca mais foi o mesmo. A primeira mudança perceptível foi na massa. Ficou mais fina e crocante, o que, por si só poderia ser até uma vantagem, não fosse pela também alteração dos recheios, a começar pelo meu preferido. O de chili, pasmem, parece ter tido o ingrediente principal (o chili: pimenta) suprimido. No geral, todos os recheios salgados caíram no problema que restaurantes sem personalidade cometem (e aí, chuto de novo o motivo): no anseio de agradarem a todos os clientes, reduzem o sal — porque uns clientes têm pressão alta —, os temperos – porque alguns levam as crianças e, não sei de onde tiraram que os mais jovens devem comer comida sem graça —, a pimenta – porque outros foram criados pela avó e a coisa mais forte que comeram na vida foi molho de mostarda à base de milho — e acabam não agradando ninguém. Insípidos, inodoros e incolores.

Já fui umas dez vezes no endereço atual e, a cada uma, parece que o problema se agrava. Na última, que motivou este post, além da falta de sabor, a massa veio a um passo de estar queimada, em pelo menos dois dos pedidos de nossa mesa. Pô! Errou a massa? Joga fora e faz outra. Não deve ter nada mais barato do que uma massa de crepe.

Fora as especialidades que dão nome à casa, e disponíveis apenas à noite, ao meio-dia servem um almoço executivo em um nível acima dos crepes. Comida honesta, limpa e saborosa. Difícil de entender a disparidade. Uma pena, pois eu preferia que fosse ao contrário, afinal, crepes não tem em tudo que é lugar mas buffet da balança, sim. E é claro que quando falo em “crepe” não me refiro às aberrações que vendem em carrocinhas e chamam “suíSSos”.

O Natal de Sean

Sean tem 9 anos. Sua mãe morreu ao dar à luz o seu segundo filho. Com a ausência materna, as crianças foram criadas pelos avós e pelo padrasto. O pai de Sean, norte-americano, foi deixado pela mãe de Sean, brasileira, quando ela veio de férias ao Brasil, trazendo Sean, e nunca mais voltou. Não sabemos os motivos da mãe, os motivos do pai e nem dos avós. Mas  todo mundo sabe que não ter mãe é algo que não faz ninguém melhor.

A família brasileira de Sean, incluindo seu padrasto, cuidou do menino, como acredito que devesse ser a vontade da mãe. Mas o pai de Sean não estava feliz e resolveu pedir sua guarda. Da mesma forma com que os avós não permitiam um maior contato paterno, o pai resolveu, através da justiça, agir. O processo internacional arrastou-se por anos e, neste mês, o governo brasileiro intrometeu-se definitivamente. Em troca de uma votação favorável no senado americano sobre questões que dizem respeito a relações comerciais com os Estados Unidos, o STF posicionou-se a favor do pai. Segundo declaração de Hillary Clinton, o país agiu de acordo com as leis internacionais – mais precisamente a Convenção sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças (Convenção de Haia, de 1980). Só que Sean foi usado como moeda de troca pelos nossos governantes. O pai de Sean foi autorizado a levar o menino embora e o fez. A avó de Sean foi proibida de acompanhar o neto no voo até o autodenominado país da liberdade. As visitas também estão proibidas.

Não interessa quem está com a razão nessa história, se o pai, os avós, a justiça… Ninguém deu a mínima para Sean. Ninguém sabe o que Sean pensa e sente. Sean é só uma criança. Ele passou o Natal com seu pai nos parques da Disney. Como se fosse possível comprar o amor de uma criança com um algodão doce. Não há Mickey que faça-o sentir-se amparado, seguro, amado e feliz.

Este foi o Natal de Sean.

Um Feliz Ano Novo, Sem Hífen

Por que as pessoas acham que “Ano-novo” sempre leva hífen?

– “Feliz Ano-novo!”, escrevem.

Por quê? Se é o mesmo que dizer “feliz novo ano”. Então seria também “feliz novo-ano”? Na minha humilde opinião, só leva hífen quando nos referimos à festa: “onde vais passar o Ano-novo?” Obviamente, a pergunta não faz referência ao local onde se irá passar o ano que chega, mas ao da comemoração da virada. Neste caso, um substantivo e um adjetivo se unem para formar um siginificado diferente do que têm seperados, por isso o tracinho.

Viagem no Tempo

Nunca estudei a teoria de Einstein sobre espaço-tempo, mas, como um perfeito idiota preguiçoso, penso a respeito.

Acompanhe. Se uma imagem é a reflexão da luz em um objeto; se a luz leva um tempo X para percorrer uma distância; se quanto mais longe estivermos de algo mais tempo leva para o vermos; se com um telescópio muito foda podemos ver galáxias e planetas como eram em algum tempo passado; se pudéssemos viajar acima da velocidade da luz, poderíamos ver a nós mesmos no passado. Bom, até aí, tudo bem. É possível ver o que passou, em teoria. Mas e para testemunhar o futuro? Se quanto mais rápido nos movemos — acima da velocidade da luz — mais retroativa é a visão de nosso ponto de partida, significa que quanto mais devagar ou parados estivermos poderíamos ver o futuro? Eu sabia que a lerdice, a falta de ânimo e movimentação poderiam levar a algum lugar! Basta esperar que o futuro chega.

Ambíguo

Venho escrevendo isto há algum tempo.

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É o que me mata, me mantém vivo
É o meu crime e meu castigo
É minha dor. É meu alívio
É meu lado ambíguo

É meu veneno e meu antídoto
É meu sufoco e meu respiro
É meu relento. É meu abrigo
É o que eu suplico

É meu vento e meu vestido
Meu estilingue e meu vidro
É o meu filme. É o meu livro
É só meu prejuízo

É meu cheio e meu vazio
Minha prece e meu sino
É meu brinco. É meu ouvido
É meu sorriso contido

É congelar ao sol
Pescar o anzol
É tempo perdido
É reler o relido

É autodestruição
Pular do avião
É furar o balão
Sou eu em cacos de vidro

Idiotas do Natural

Com frequência vou à loja Mundo Verde comprar barrinhas de chocolate sem lactose para a Malu. Na última vez, havia uma cliente que perguntava sobre todos os produtos: “e este aqui?”, “quanto custa?”, “é bom?”. Prestativa, a atendente respondia. Peguei o que queria e fui pagar. A mulher meteu o olho no que eu levava e perguntou:

— O que é isso? Chocolate?
— É.
— E é bom?
— Bem bom.
— Da próxima vez vou levar. Adoro coisas naturais.
— Mas não é “natural”. É só sem lactose.
— Sem o quê?
— É que minha filha tem intole…
— É que eu gosto de coisas naturais, coisas saudáveis. Quanta coisa boa você têm, né? Adorei esta loja. Vou vir sempre aqui. É bom a gente se alimentar bem.
— … (não conseguiria falar nem se eu quisesse).
— Vou vir sempre aqui. Tchau.

Olhei para a atendente que não segurava o riso. “Como tem gente louca.”, eu disse. Simpática, fez apenas uma cara de “nem imagina”, meio que respeitando o meu eu-cliente. Mas não se conteve: “isso foi soft, tem que ver o que aparece”. Lembrei de quando tínhamos uma locadora de DVDs e me solidarizei imediatamente com ela. Se para alugar filmes já se passa por poucas e boas, imagina em uma loja com apelo ecológico, cheia de produtos naturais e  pretenso-naturais.

Nessa moda de ecoengajamentos e preocupações com a saúde de qualquer espécie — na maioria das vezes, totalmente equivocadas — meu pai classifica esses tipos como os “idiotas do natural”. E assim o são. Pessoas que mal sabem o que fazem mas vão na onda.

O Flyer mais Criativo do Mundo

Dobrei e coloquei no bolso.

É comum, na entrada do supermercado, entidades assistenciais entregarem folhetos pedindo doações de alimentos. Sábado, recebi mais um, amarelo. Dei alguns passos e levei aos olhos para ler. Estava em branco, dos dois lados. “Uau!” O que aquilo queria dizer? Comecei a viajar.

Que eu devia fazer um exame de consciência e agir da melhor forma possível com relação ao mundo, minha cidadania etc.? Que legal. Uma ação de inspiração artística com função reflexiva. Que nível de eficiência poderia ter?

Que se tratava de uma instituição de deficientes visuais, ludibriada pelo pessoal da gráfica ao receber seus impressos em branco? Mas quem teria a coragem de enganar um ceguinho?

Que, como a ação em supermercados é sempre para arrecadação de alimentos, não é necessário mais imprimir o apelo, basta repetir o gesto? Futuramente, nem folhetos mais seriam necessários, apenas a presença dos voluntários.

Na saída, reparei no calhamaço de onde eram distribuídos. Não estavam em branco, não. Tratava-se de material do Banco de Alimentos, com a arte tradicional. O que recebi, em branco, estava perdido entre os demais.

Poxa! Que decepção.

O Bestial Futebol

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Aqui no sul, todo mundo só fala neste final de Campeonato Brasileiro de Futebol. O Internacional pode ser campeão se houver uma combinação de resultados que inclui a vitória do Grêmio sobre o Flamengo no próximo jogo. Como manda a ridícula tradição desse esporte, os torcedores preferem a desgraça de seu rival do que a vitória de seu time.

Tanto os fanáticos tricolores quanto a esquadra gremista e seus dirigentes não escondem a intenção de perder propositalmente a partida contra o rubro-negro para prejudicar seu conterrâneo e desafeto colorado. Agora me diga: como a CBF, a FIFA, a mãe de cada jogador, o bispo, Deus — ou sei lá a quem mais cada um deles deve satisfação ética, legal, espiritual, ou moral — permitem que tamanha antidesportividade e falta de vergonha na cara aconteça sem punição? Não é o esporte que ajuda a formar o caráter do jovem, a construir uma nação patriota? Não é o esporte que une pessoas e povos em torno de disputas saudáveis; que inspira os homens a ultrapassarem seus próprios limites? Não é o esporte que nos ensinou a máxima “o que importa é competir”?

A disputa entre torcidas em tom de brincadeira é saudável. Cultivar a raiva e a falta de escrúpulos e de espírito esportivo é desprezível. Se esse tipo de conduta é condenável em outros níveis, como no profissional (quando se sabota um concorrente) e no social (quando se prejudica outra pessoa) para obter-se qualquer tipo de benefício, por que é tolerável no âmbito esportivo?

É por essas e outras que eu não acompanho futebol. Prefiro Mario Kart.

Maldita Glória Kalil

Ela era desligada, ele chato. Estavam namorando há cinco dias. Foram almoçar juntos pela primeira vez. Serviram-se no buffet, pesaram os pratos e sentaram. Ele reparou em como ela comia. Não resistiu.

— Ã…
— Quê?
— É que…
— Fala.
— Ah, nada. Nada. Deixa assim.
— Agora fala, né?
— Não… Era uma besteira. Esquece.
— Sabe que eu sou curiosa?
— Sei. Sei, tô sabendo. (risos)
— Então? Não vai falar?
— É que eu pensei, mas achei melhor não falar. Porque, realmente, é algo, assim, sem importância.
— Mas eu vou morrer se você não contar. Tá sabendo?
— Eu sou muito de falar sem pensar… Dessa vez eu só pensei. Se fosse algo importante eu falava.
— Sei…
— Às vezes, a gente fala e a outra pessoa entende aquilo como algo ruim. Eu não quero que você pense a coisa errada.
— Olha, vou ser sincera também.
— Por favor.
— Não me importa o que você fala. Importa o que você pensa.
— É?
— Claro. Se eu estou com alguém é pelo o que ele é, e não somente pelo que ele parece ser.
— Faz sentido.
— Então, se você pensou algo que se eu soubesse me faria brigar com você, é porque o que você pensa não é o que eu gostaria que pensasse; não é o que eu espero de um namorado.
— Acho que você está complicando uma coisa simples.
— Melhor complicar agora do que depois, não acha?
— É?
— É.
— Quer que eu complique também?
— Quero.
— Então, agora, vou falar.
— Pode falar.
— É que você usa a faca para colocar a comida no garfo.
— E daí?
— E é todo tempo!
— Tá. E daí?
— Daí que faca é pra cortar, não para colocar o máximo de comida possível no garfo!
— A Glória Kalil diz que pode.
— Ah… Duvido.
— Diz, sim. Eu vi no Fantástico.
— Ah, viu, é?
— Vi.
— Então, tá bom. Mas eu não gosto.
— É porque você é cheio de manias!
— Muito prazer. Este sou eu.
— Muito prazer. Esta sou eu. E até mais ver.
— Isso é um tchau?
— Não. Um adeus.
— Quer saber mais?
— Hf?
— Você come feio pra caralho!
— Grosso!

Ipi, Ipi, Urra!

O Governo estendeu, mais uma vez, a redução do IPI para automóveis até março de 2010. Só que desta vez, apenas para carros de combustão flexível, que permitem o uso de álcool ou gasolina. É uma tentativa de conter as emissões de CO2. Há quem diga que os motores à álcool poluem tanto quantos os convencionais. Mas isso é outro assunto. Se a intenção é estimular o consumo de bens e serviços “verdes”, por que não subtaxar também a bicicleta, o transporte coletivo, os patins, o skate, o tênis de caminhada, o patinete, o carrinho de rolimã, o planador, os balões de aniversário para padres e o pogobol? Será porque 2010 é ano eleitoral e a indústria automobilística apoia… Ã… O… Ah, não. Claro que não. Imagina. No Brasil? Não, mesmo.

Nunca se vendeu tanto carro no país. E a crise mundial? O consumidor esqueceu. Tudo psicológico. Enquanto isso, ao invés de incentivar a produção de bens ecoeficientes, o não-desperdício e a eficiência do trânsito, o Governo joga mais carros nas ruas, faz “girar” a economia e, pasmém, aumenta a arrecadação.