O Barulho da Noite

A noite está barulhenta. Não são os carros, nem os vizinhos, nem a geladeira. Eu moro, digamos, “para fora”. Não há trânsito. É tranquilo. Costumava ouvir corujas, grilos, pasarinhos insones. Mas na última semana há um ronco baixo e constante. Parece uma betoneira distante, mas quem viraria noites trabalhando em construção? Parece um vento grosso, mas as árvores não se mexem. Parece um avião que nunca pousa. Um trovão permanente no horizonte limpo.

Pode ser apenas a minha cabeça.

Vestindo a Camiseta

Eu nunca usaria uma camiseta escrito “Eu visto a camiseta”. É uma expressão tão batida que quase nem escrevi aqui. Mas o significado compartilho totalmente. Cerca de 90% de minhas camisetas são lisas. A maioria é escura (como preta, azul marinho…). Eu não compro, nem visto nada que não me represente, que eu não tenha a intenção de dizer. Tem gente que usa estampas que nem imagina o significado. Algum publicitário-otário (mais otário do que eu) irá chamar isso um dia de “tee-door”. Compreendo que adolescente, em fase de autoafirmação, tenha orgulho de exibir em seu tórax marcas de surfware, frases em inglês inteligível, imagens abstratas que não entendem (com viés artístico, tudo bem). Normal. Também tive esta idade. Agora, uma peruete portar essas maxi-bolsas escrito “I Love Colcci” é um pouco demais. Não tem nada melhor para amar? Ou para exclamar que ama?

Algumas de minhas camisetas que lembro (algumas da Threadless, outras da Banca de Camisetas) e que se referem a algo:

– “Stop destroying our planet. It´s where I keep all my stuff”;
– “Ajoelhe-se diante Zod”;
– “CD kills K7”;
– “Why are you so farway from me?” (desenhada pela Ana Margarites, com trecho da letra de minha música preferida de minha banda preferida, Weezer);
– “Sheakespeare hates your emo poems” (não, Weezer não é emo);
– com a tela do Space Invaders, do Atari;
– seleção francesa de futebol (comprei depois que venceu merecidamente o Brasil na Copa de sei lá quando);
– seleção holandesa (adoro essa camiseta retrô deles, é quase um manifesto aos uniformes “espaciais” das outras seleções na Copa anterior);
– seleção brasileira.

E, é claro, as de bandas:

– Titãs, com “A Expressão de um Homem Urrando” de Leonardo Da Vinci, capa do cabeça Dinossauro;
– Titãs, uma de turnê;
– Police, do show no Rio;
– Ramones;
– Dave Matthews Band;
– Weezer (2).

Quero ter (fazer):
– com a falha Guru Meditation do Amiga;
– com a frase “Estou guardando lugar na fila”.

Eu Não Quero Uma Ferrari

Nem um Porsche, nem um Lamborghini. Mesmo de graça. Não é nem só pelo valor do IPVA, do seguro ou da visibilidade exagerada. Também não quero um New Beetle, nem um Fiat Cinquecento, nem um Mini Cooper. Mesmo que tivesse dinheiro para tal investimento, depois que se cresce, os sonhos de criança mostram-se ainda mais improváveis. As necessidades de ser um pai de família inviabilizam determinadas coisas. Eu preciso de um porta-malas grande e de um banco de trás espaçoso. Cheguei à conclusão que alguns carros são lindos, mas me contento em apenas olhar; admirar os dos outros. Sem nenhuma inveja ou frustração. São coisas que não me servem. Se colocarmos na mesa as possibilidades financeiras e as opções disponíveis que atendam minhas necessidades, sobram dois ou três modelos. É por isso que eu tenho um Corsa Sedan.

(que baita mentira)

A Verdadeira Corrida Espacial – Os Replicantes

Ingênua, realística e oportuna. De 1987.

Ele demora um ano rodando o sistema solar.
Ele demora um ano mas volta pro mesmo lugar.

Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Pra onde vai o mundo
vai todo mundo.
Pra onde vai o mundo
daqui a um segundo

Pra onde vai o mundo?
Pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Será que ele vai estourar?
Será que ele vai poluir?
Até não pudermos respirar
Até não podermos existir

Enquanto o 3º mundo espera o juízo final
eu quero uma vaga no ônibus da corrida espacial

Pra onde vai o mundo?
pra onde vai o mundo?
Onde é que ele vai?
Onde é que ele vai?

Vai vai vai vai…

Escolheram por Você

Não planejei nascer. Não escolhi a cidade, o país, o sexo, os pais, a família. Não escolhi meu signo, nem a década. Fui crescendo sem escolher onde morava, em que escolas estudava. Os amigos que tive apareceram na minha frente. Os lugares que fui e as festas que frequentei é que me escolheram. A faculdade que fiz, decidi em 15 segundos, na última hora, pedindo requerimento depois de passar nas minhas três primeiras opções. Fui catapultado para dentro do meu negócio nem bem sei como. Conheci minha mulher porque ela estava ali, vinda de um outro estado, parada na minha frente. Nunca iria casar. Casei. Não moraria em uma casa. Moro. Gasto meu dinheiro em coisas que eu não queria gastar. Tenho filhas que eu não planejei. Amo-as como nunca pensei amar.

As poucas escolhas que faço na vida, como a marca do meu sabonete e o momento certo de cortar o cabelo, servem apenas para dar a sensação que mando em alguma coisa; que sou dono do meu próprio nariz.

Estamos numa porra de ilha do Lost, num joguinho babaca dos deuses, que disputam em um tabuleiro com dados e cartas marcadas.

Não escolherei o dia da minha morte, mas tenho certeza que será no momento em que achar que poderia começar a mandar em alguma coisa.

Restaurantes de Pelotas – Shangay Sushi Lounge

Eu gostava do Shangay original. Bastante. Desde criança. Desde quando não era buffet. Mas aos poucos foi perdendo as características, ou eu fui crescendo, ou os dois. Com os anos, parece que a comida foi ficando mais gordurosa e os ingredientes e atendimento piorando. Não tenho mais aquela vontade “mãe, vamos no Shangay?”. Brinco que, após o desabamento do antigo ponto, no Calçadão da Sete, tiveram que recomeçar com panelas novas, limpas, perdendo o tempero do tempo e da sujeira.

Mas é aqui que minha teoria sobre a evolução de uma família a cada geração se mostra eficiente. A abertura do Shangay Sushi Lounge me surpreendeu. O lugar é criação dos mais novos da dinastia Shangay. Sushis e sashimis feitos na hora, salmão, shitake, polvo… Alguns pratos herdados dos estabelecimentos da família quebram o galho daquele seu amigo enjoado que não come as delícias orientais mais roots. Os sushis são excelentes, taco a taco com os da antiga Gohan, feitos pela Tereza há alguns anos, e, é claro, dão de relho nos da Luna Inti e do Shangay convencional.

Em um restaurante desse tipo, o cuidado com a qualidade da matéria-prima é muito mais crítico. Não há espaço para um mínimo deslize. Nas quatro vezes que já fui, nada me decepcionou – a exceção do peruano ceviche, salgado demais, talvez por estar no fim do prato do qual servi. Mas foi só. Preciso provar novamente. Os garçons são muito atenciosos e simpáticos.

Com toda essa qualidade, o preço não é baixo, mas é justo. Já no Shangay original, o preço não é tão alto, mas é caro.

Todo Homem que se Preza

Todo homem que se preza tem um cortador de unhas. Só seu. E tem orgulho. Compara com os dos amigos. Gaba-se. Cortará suas garras, semanalmente, 52 vezes por ano, aproximadamente.

A melhor forma de configurar uma tradição, é ganhá-lo de seu pai.  Mesmo que não seja o dele. Mas, certo, há de ser melhor. Maior, pelo menos. Além de mais imponente. Daí veio o meu.

Não se compra um cortador de unhas. Ele vem. De uma forma ou de outra, você o reconhecerá só de olhar. Será aquele que tentar te matar; que é preciso domar para que não fira sua pele nem avance demais o corte. Você não se conectará a ele por USB, nem pelo cabelo, como em Avatar, mas pelas cutículas molhadas, salientes e inchadas pelo banho.

Homem que é homem não usa o alicate de sua mulher. Ela é que recorrerá ao seu, pedinte, quando desprevenida.

Todo homem que se preza tem um cortador de unhas. Só um. E o terá até sua morte.

Podcast Megaboga – Eu, Nerd?

Não sei como ainda não falei disso aqui. Há alguns meses fui apresentado ao NerdCast. Um podcast sensacional dirigido ao público nerd. Eu não me considero um, mas compartilhamos diversos gostos. A ideia do projeto começou na casa de seus realizadores. Aos poucos, a brincadeira foi dando tão certo que largaram seus empregos e dedicaram-se profissionalmente à empreitada. Já com 200 edições, de periodicidade semanal, o programa é a principal atração do site Jovem Nerd, do qual Alexandre Ottoni (o Jovem Nerd) e Deive Pazos (O Azaghâl) são fundadores, produtores e apresentadores do podcast.

Eles têm a minha idade, então, os assuntos, nem sempre nerds, acertam em cheio no meu gosto. Mesmo quando a pauta não tem nada a ver com a cultura nerd, a forma como é abordada, cheio de inteligência e bom-humor, cativa de cara. Eu sou tão aficionado pelo troço que não consigo esperar até as sextas-feiras para baixar cada nova edição. Vou pesquisando na listagem geral e escolhendo os que os assuntos mais me interessam. Ouço no carro, no supermercado, na fila do banco, no ônibus, na massagem, na acupuntura e na manicure (os 5 últimos são brincadeira, mas para quem frequenta, é uma boa pedida levar o headphone).

A duração de cada programa varia de 50 a 90 minutos, de forma geral. A princípio, o tempo estendido, que seria uma verdadeira heresia para a mídia Internet, se mostra ideal para o desenvolvimento do assunto e para quem acompanha com a mesma adesão que eu. A equipe que debate os temas é adaptável às possibilidades dos amigos da dupla e aos assuntos abordados. Tucano, Senhor K, Guilherme Briggs, 3D, Eduardo Spohr, Blue Hand, Portuguesa e Senhora Jovem Nerd (esposas dos fundadores), entre outros convidados especiais, abrilhantam ainda mais as discussões.

Mas o site Jovem Nerd não é restrito apenas ao NerdCast. Os agora empresários têm uma loja online, onde comercializam camisetas, livros, action figures e os cambau, dedicada ao universo nerd (a NerdStore), bem como uma recente editora, que relançou “A Batalha do Apocalipse”, de Eduardo Sphor, vendendo 4.500 cópias diretamente aos leitores.

Se você quer se iniciar, indico os sobre Silvio Santos, Monty Phyton, Corrida Espacial, Ovnis ou o Especial 200, que comemora as duas centenas de espisódios com uma colagem das melhores tiradas.

Vai lá. Não te arrependerás. Além de desfrutar de bons momentos e obter conhecimento geral, irás aprender com Jovem Nerd e Azaghâl, como um negócio pode ser profissional, divertido, lucrativo e feito com muita verdade.

O Oscar Deste Ano Estava em Casa

– Amor, cê não vai trocar a lâmpada da varanda?
– Já vou.

– Amor, cê não vai arrumar o vazamento do lavabo?
– Eu chamei um faz-tudo que vai arrumar, junto com a lâmpada da varanda.

– Amor, cê não vai arrumar o portão da garagem?
– O faz-tudo não veio. Essa gente é foda…

Moral da história, quando Cameron conseguiu o faz-tudo, o conserto custou US$500 milhões, pois tinha acumulado defeitos pela casa toda. Bigelow arranjou outro marido e uma casa nova por apenas US$11 milhões.
E um Oscar de melhor direção.

– Amor, cê não vai trocar a lâmpada da varanda?
– Já vou.
– Amor, cê não vai arrumar o vazamento do lavabo?
– Eu chamei um faz-tudo que vai arrumar, junto com a lâmpada da varanda.
– Amor, cê não vai arrumar o portão da garagem?
– O faz-tudo não veio. Essa gente é foda…
Moral da história, quando Cameron conseguiu o faz-tudo, o conserto custou US$500 milhões, pois tinha acumulado defeitos pela casa toda. Bigelow arranjou outro marido e uma casa nova por apenas US$11 milhões.
E um Oscar de melhor direção.