Ingenuidade

Tenho saudade de minha ingenuidade. Do tempo em que eu achava que quanto mais recheio, melhor o pastel; que dez anos depois eu e todos meus amigos iríamos assistir a Copa na França (havíamos prometido); que os professores sabiam de tudo; que a polícia cuidaria de nossa segurança; que faltava muito tempo para eu virar adulto — nunca chegaria; que quanto mais “baixinho”, mais legal o carro; que o músico que tocava mais notas por segundo era o melhor; que música boa tinha que ter muito grave; que café só com muito açúcar; que filme tinha que ser explicado no final.

Tenho saudade do tempo em que eu queria ser bombeiro.

Só Quero Escolher Minhas Laranjas

Encontrar conhecidos no supermercado é constrangedor. Pelo simples fato de que você não topa com a pessoa apenas uma vez só. Principalmente, se vocês tomaram decisões diferentes no começo do trajeto. O mais trágico é quando se cruzam em todos os corredores. Alguns dão “oi” na primeira vez, um sorrisinho na segunda, depois fazem uma piadinha na gôndola da cerveja, do tipo “o pessoal na sua casa manda ver, hein?”. Por aí vai, até fingirem que não se conhecem no último corredor.

Mas pior mesmo é quando o caso é com aquele chato do seu vizinho. A cada passada de carrinhos ele lembra de um assunto diferente: são as árvores do seu pátio que jogam folhas nas calhas dele, os cachorros que usam seus canteiros como banheiro ou sobre o vizinho em comum que ele cisma em falar mal e jura que é mais chato do que ele mesmo. Nesses casos, aconselho que você faça hora na gôndola da maionese, fingindo que olha a tabela nutricional com atenção, para ver se descompassa o sincronismo.

Quando for para o caixa, é bom voltar ao início da loja para ver se fica bem longe. Se tiver sorte, ele não terá tido a mesma ideia que você: “Ah-rá, te achei!”

Restaurantes de Pelotas: Yama Sushi

Ontem fomos no novo “sushi” de Pelotas. Acho que o nome é Yama. Creio ter visto o letreiro torto e malacabado na porta. Parece que o dono e sushiman é dissidente do Shangay Sushi Lounge.

Estabelecido no Shopping Lobão, ponto mais do que estranho para este tipo de proposta, o lugar é muito trash. As poucas mesas que têm são do tipo de sala de jantar, e cada uma com uma cara diferente. Juntamos duas que não encaixaram. Todo mobiliário parece ter vindo da casa do dono e de seus familiares para quebrar um galho. É nítido o despreparo da equipe com o negócio restaurante, do garçon à caixa. A impressão é que os responsáveis nunca foram jantar em lugares que custem mais de 25 reais por pessoa. Pagamos 35. Na verdade, acho que nunca foram a um restaurante que não de buffet por quilo, e dos ruins. A falta de tato e noção de atendimento ao público ultrapassa fácil a ingenuidade. São tantas falhas, mas tantas, que as listar seria, no mínimo, maldade. Me lembrou muito o Vezúvio. Não o de agora, mas o provável Vezúvio de 30 anos atrás. Comparar com a cantina italiana é covardia, pois os gringos pelo menos nos divertem.

A comida é, possivelmente, melhor ou igual a do início do Shangay Sushi Lounge. Porém, todo o resto, por enquanto, me faz não ter vontade de voltar. O preço está ok com o que é servido mas não com o serviço e ambiente. Eles trabalham com tele-entrega. Talvez esteja aí a solução.

É uma pena.

Restaurantes de Pelotas – Shangay Sushi Lounge, 2ª parte

Estive ontem, mais uma vez, no Shangay Sushi Lounge. Sinto a obrigação de atualizar minha opinião registrada aqui, em post anterior.

De algumas idas pra cá, venho notando uma queda brusca na qualidade em geral. O primeiro sinal foi em uma quarta-feira. Percebi que tinham adicionado sushis diferentes, pouquíssimo ortodoxos. Eu sou adepto dos pratos-raíz. Sushi feito com maionese ou enrolado com alface, repolho ou omelete não conquistam meu respeito. O salmão tinha cara e gosto de passado, e vir coberto com queijo é clara tática de quem serve um produto não fresco. Clientes mais assíduos sugeriram que os problemas poderiam estar relacionados ao dia da semana. Quarta é quando oferecem desconto para mulheres. Mas voltei em outros dias da semana e a percepção foi a mesma.

Contrariando minhas expectativas, o ceviche não melhorou. Muitíssimo salgado, apesar de saboroso. Reduziram a altura de muitos sushis, deixando-os mais frágeis e dificultando o uso do hashi. O peixe-prego tinha forte cheiro e gosto de amoníaco. Reclamamos e logo trouxeram outro melhor. Os garçons, que também haviam recebido meus elogios, continuam bons. Mas alguns novos, menos talentosos e nitidamente mal treinados, fazem cair a média.

Esse é o problema de qualquer empresa. Acontece até mesmo em nossa casa. Começamos a relaxar e acabamos não sendo tão rígidos com o controle das coisas, com a manutenção da estrutura. Às vezes, precisamos que alguém de fora, com olhar externo, nos aponte ou nos coloque de volta no caminho. O Shangay Sushi Lounge está precisando de uma visita de Gordon Ramsey.

Chocolate

Algumas vezes me deparo com duas barras de chocolate. Se forem iguais, ou se me agradarem da mesma maneira, ingresso em um grande dilema: preciso decidir qual abrir.

“Já sei! Vou comer a que a data de validade estiver mais próxima. Assim, a segunda corre menos risco de estar velha quando bater a próxima larica.” Verifico, mas as datas são iguais.

Tento usar a razão para me definir. Como estou sozinho, escolher a com menos calorias é prudente. A mais engordante ficaria para uma possível divisão com alguém. “Mas as tabelas nutricionais são idênticas. Droga!”

Penso mais um pouco e crio novo critério de desempate: “Comerei a de pior embalagem, deixando a mais bonitinha dentro da cristaleira, de onde ornará minha cozinha”. Me dou conta que a cristaleira fica dentro do armário. Nem eu nem ninguém irá enxergar.

Imagino, então, quem poderá me visitar e qual delas gostará mais. Tanto faz. “Qual há mais tempo não como?” Não lembro. “Qual parece ter a embalagem mais vulnerável a possíveis formigas?” Equivalem.

Quando estou quase desistindo — o que seria até uma boa para a manutenção do meu peso —, uma luz brilha sobre minha cabeça: “Ordem alfabética! A solução para a maioria dos dilemas do mundo. É isso!” Prestes a desempacotar o Diamante Negro em detrimento do Shot, sou traído por meu cérebro doentio: “Por que não a ordem alfabética inversa?”

Yesterday – The Beats

O mais perto dos Beatles que alguém pode chegar não é ir ao show de Paul McCartney, nem comprar um CD de Ringo, nem ter uma foto original autografada pelo Fab Four; não é visitando os túmulos de Lennon e Harisson ou os estúdios Abbey Road, nem ter toda sua discografia, incluindo os discos solos. Você não vai se sentir tão perto dos Beatles aprendendo a tocar todo seu repertório no violão ou mandando fazer uma fantasia de carnaval ao estilo Sgt. Peppers, nem usando um óculos igual ao do John. Se você comprar o livro Anthology, ler todas as biografias e assistir a todos os seus filmes, ter toda a memorabília disponível, nem mesmo assim você está se sentirá tão próximo dos rapazes de Liverpool quanto se for assisitir ao show do The Beats. Isso, por um simples motivo: pouca gente teve a oportunidade de ver os Beatles ao vivo, um privilégio sem igual. Quando se tem músicos extremamente competentes, caracterizados como os ídolos, interpretando com perfeição as canções, com as indumentárias e indumentárias de cada época, nada pode ser mais próximo da sensação de se estar na presença da maior banda de rock da história. É uma experiência real e emocionante, se você se permitir. A voz do intérprete de John é a mais parecida, de longe. Agora, quando em coro com a do de Paul, chega a ser assustador para quem tem medo de fantasmas.

O show dos argentinos The Beats que assisti ontem à noite é muito bem bolado. As únicas falhas dizem respeito à falta de cenários mais imponentes, às trocas dos mesmos e à qualidade dos vídeos, um pouco amadores e, certas vezes, longos demais. Coisa que a melhor banda Beatle do mundo, eleita em uma Beatles Convention, em Londres, poderia aprimorar. Outra curiosidade é que utilizam nos vídeos legenda e locução vertidas para o português. Porém parece que utilizaram a tradução automática do Google para fazê-lo. A parte mais engraçada é quando falam da trilha sonora do filme (se referindo ao Hard Day’s Night) dizendo “banda sonora da rodagem”.

Sentado a meu lado, na plateia, estava um menino de 3 anos. O sonho nunca vai acabar.

O Abacaxi Flambado e O Final de Lost

Sabe quando você está quase dormindo, indo e vindo, até que seu último pensamento, seu último pulso de consciência, é peça principal de uma complexa e estimulante teoria que só se revela estapafúrdia quando você desperta segundos depois? Exemplo: você está pensando na sua chave que ficou sobre a mesa; pega superficialmente no sono e imagina que, se essa chave estivesse sob a roda de um carro, mudaria de cor e seria perfeita para flambar um abacaxi; aí, você desperta e, apesar de sacar que tratava-se de um absurdo total, não consegue lembrar de quase nada; em seguida esquece de todos os detalhes e conexões pseudológicas e… Puf, se foi.

Talvez você tenha se identificado com essa minha sensação quase sonâmbula, talvez não. Mas foi ela que resgatei ao ver o último episódio de Lost. E foi por dois motivos. O primeiro é que essa pode ter sido uma das inspirações dos roteiristas ao criar a cruzada interior de cada personagem (ou só do Jack, enfim) e das trançadas malhas que sua imaginação o levou a tecer no pré-morte – como no meu pré-sono. O segundo motivo é que, assim como pelo meu sonolento devaneio, me senti totalmente ludibriado. A promessa dos produtores de que tudo seria explicado não foi cumprida. E, cá entre nós, foi uma solução preguiçosa e óbvia demais para resolver o emaranhado de situações absurdas que criaram. Isso sem falar que o grand finale não foi nada mais do que a teoria inicial, levantada por qualquer babaca antes mesmo de ver o primeiro capítulo, ao ler apenas a sinopse da série ou os releases lançados para a imprensa.

Não me arrependi de ver Lost por seis anos. O último capítulo (18) representa apenas cerca de 0,75% da série. Os outros 99,25% foram entretenimento da mais alta qualidade. Mas é que fica um retrogosto complicado de assimilar.

Toddy Orgânico

– Filho, quer a mamadeira quente ou fria?
– Morna!

Sou expert em Toddy. Desde a época da mamadeira. Tomo leite achocolatado até hoje. Minhas filhas também. Nescau pra mim é blasfêmia. Não tem comparação. Quando cresci o suficiente para preparar meu próprio copo, usava duas colheres (de sobremesa) de Toddy e duas (de châ) de açúcar para 250ml de leite. Doce demais! Blerg! Coisa de criança. Hoje não adoço, porém faço com três colheres de Toddy. O pó tem muito açúcar, já chocolate (cacau) nunca é demais.

Nesse fim de semana encontrei uma novidade no supermercado: Toddy Orgânico. Chapei. Não sou maníaco por produtos ditos orgânicos. Eles geralmente são de marcas desconhecidas, que nem sempre estou disposto a experimentar. As mulheres, quando saem da casa dos pais, subvertem: testam novas possibilidades de produtos e querem construir sua nova vida bem diferente da que tinham. Já os homens compram tudo igualzinho à mãe. Achar uma opção orgânica com o mesmo (ou quase) rótulo que ajudava a compor minha mamadeira, foi quase como voltar à teta materna. Não estava exatamente interessado no lado ecológico da coisa, mas em provar uma nova opção de Toddy, talvez menos doce e com mais cacau. Odiei as tentativas de ampliação de linha de uns anos atrás com novos sabores. Mas eu estava certo. O Toddy verde é menos doce, tem menos calorias, mais cacau e não leva leite em pó. Gostei mesmo. Para minha filha mais velha, que sofre de intolerância à lactose, é perfeito. Não é fabricado pela Pepsico, mas, certo, supervisionado com rigor, para garantir qualidade e similaridade ao original. Não deve ser simples construir uma nova planta industrial para manipulação de produtos orgânicos. Imagino que o simples uso do mesmo maquinário da linha tradicional cause contaminação. As exigências legais para se conseguir certificação não devem ser poucas.

Quanto ao preço, 400g do novo Toddy custam mais do que 800g do antigo. Antes de aderir de vez, vou esperar que barateie. Lá em casa usamos 800g por quizena. Ou seja, 30 reais de Toddy por mês eu acho exagero.

Em Busca do Pendrive Perfeito

Comprar o pendrive mais barato pode não ser a melhor opção. Escolher o mais bonito também não. Muitos celulares têm memória interna e podem servir para transportar dados. Mas, convenhamos, não é prático. Nada melhor do que tirar o pendrive do bolso e plugar. Ou seja, o bichinho ainda tem muito anos a nos servir.

O que se espera de um pendrive é que seja resistente – para levar no molho de chaves, até – e confiável, em termos de qualidada de mídia. Eu só tive dois na vida, mas acho que aprendi algumas coisas.

Meu primeiro pendrive

O primeiro tinha uma capa de couro com botão de pressão. Achei que envolto por este material, sairia ileso de ser levado no bolso. Ledo engano. O problema é que o plug USB entorta quando amassado, sentado em cima, etc. A mesma coisa acontece com os modelos em que a tampinha é fixa apenas no plug. O ideal é que ela segure no corpo do dispositivo, para que não faça alavanca no plug. Dê atenção a essa questão quando escolher o seu.

pendrive_tampa_firme
Neste a tampa não faz alavanca no plug

Depois que o de couro estrago, comprei um novo (um iamaKey, da Lacie, de 16Gb) que julgo definitivo (como se algo em informática fosse para sempre). É todo em metal, em uma só peça, super-resistente, à prova d’água, pode ser levado com as chaves, no bolso, em qualquer lugar. Minha única queixa é que a capinha de plástico que protege os contatos sai com muita facilidade. Estou vendo a hora que irei perdê-la.

iamaKey, da Lacie

Não Vai Comprar o Álbum da Copa 2010?

Sempre me envolvo com Copas do Mundo. Não há como não. Mas nesta, em especial, terei motivo extra. Minha filha de cinco anos está em idade interessante para a experiência. É curiosa por países, bandeiras, jogos e pessoas. Aproveitei para voltar a ser criança.

Na Copa da Espanha, em 1982, ganhei o álbum de figurinhas do Ping-pong. Vinha uma por chiclete. Tinha sete, quase oito anos, mas os os jogadores das seleções ainda estão na memória. Hoje em dia, os cinco de minha filha equivalem aos meus oito da época, ou a mais. Não tive dúvidas: “Malu, vamos comprar um álbum da Copa?”. “O que é Copa, pai?”. Comprei.

A publicação é oficial da Fifa. Caprichada, igual para o mundo inteiro e escrita em oito línguas simultâneas. Custa R$3,90. Cada pacotinho com cinco cromos, R$0,75. Levamos 10; 50 figurinhas. Ao todo, são 638. “Puuu!” Quase me arrependi. “Vou gastar mais de 100 paus se nunca vierem repetidas, ou seja, muito mais! Mas o que é uma expulsão aos 45 do segundo tempo?”

Abrimos os envelopes sobre a mesa e falei que antes de colarmos era preciso organizar em ordem numérica. Criei uma linha para cada centena e deixei com ela a ordenação. Depois de breve explicação, fez tudo sozinha, com poucos deslizes e velocidade esperada. Em menos de meia hora estávamos colando. Pena: veio apenas uma do Brasil, mas quatro da Costa do Marfim. As prateadas eram suas preferidas.

Agora estou tentando convencer meus amigos pais e mães a comprarem também. Além da troca de figurinhas e do jogo de bafo serem as partes mais legais de todo álbum, é a única chance que tenho de completá-lo sem ficar pobre.