Bito e Suas Inconveniências

Moro perto do Laranjal. Tecnicamente, é Laranjal. Eventuais domingos, preciso fazer compras de última hora. Tenho duas opções próximas: Bito e Peruzzo. Desisti de ir no Bito, porque, além da pouca higiene que aparenta e carnes de validade duvidosa, não dão nota fiscal – imprimem um cuponzinho vagabundo que não levanta questionamentos dos menos atentos. Na primeira vez, pedi um comprovante fiscal. A caixa se agachou, pegou um bloco de notas e tirou manualmente. Imagina se tiverem que fazer isso para todos os clientes. Teriam que aumentar o número de check-outs ou seriam obrigados a adotar o sistema tradicional. Na segunda vez, pedi novamente mas ela se negou, dizendo que estava sem o bloco. Desde então, tenho ido somente ao Peruzzo. O problema é que o Peruzzo não abre domingos à tarde e, hoje, Dia dos Pais, nem pela manhã. Contrariado, tive que ir ao Bito para suprir os esquecimentos do meu rancho de ontem; ingredientes que precisava para o almoço de hoje. Cheguei ao caixa e fui atendido por um jovem que, pela petulância, só pode ser filho do dono. Ele me perguntou:

– Precisa de notinha? – Pensei “ó, uma evolução!”
– Preciso.
Ele me entregou o tradicional cupom não-fiscal, lambuzado de valor e CNPJ. Questionei:
– Fiscal não, né?
– Não.
Virou para o lado e iniciou a atender o próximo.

Para um estabelecimento que já foi noticiado por jornal local, acusado pela CEEE de fazer gato de energia, negar cupom fiscal é café pequeno.

Os Chatos Salvarão o Mundo

O mundo precisa de mais chatos. Não estou falando dos monótonos. Me refiro àqueles que enchem o saco.

O chato tem muito mais chances de ser incorruptível, obstinado, persistente. Ele não desiste nunca; não desvirtua. Você conhece algum chato inseguro? É preciso confiança e otimismo para ser chato. O chato é caxias, metódico, segue regras e gosta de criá-las.

Todo chato tem ideologia. Frente a quem não tem, é uma grande vantagem. O chato tem potencial incrível para ser um grande líder.

Só há três problemas: ninguém o suporta, poucos o levam a sério e, se fosse de fato brilhante, não seria tão chato; teria melhor estratégia e autocrítica. Autocrítica falha pode ser o começo da hipocrisia. Mas, se não fosse tão chato, talvez perdesse as demais qualidades.

Só o chato pode salvar o mundo, mas o mundo não quer ser salvo por ele. O mundo prefere o Super-homem.

O Seu Celular tem Telefone?

Imagem meramente ilustrativa, fake, roubada do site de alguém-que-não-sei-quem (obrigado).

Celulares fazem de tudo. Tem uns que, parece, até podem ser usados para telefonar.
Antes do advento dos smartphones, a Nokia lançou um modelo muito simples, que tinha uma pequena lanterna como diferencial. Raso de barato. Ele apenas telefonava e iluminava. Sensacional! A maioria das pessoas não usa nem 10% das funções de seus aparelhos. Mas uma lanterna, tenho certeza que despertou, senão apenas curiosidade, interesse de algum tipo de consumidor.

Comecei a imaginar dezenas de modelos de celulares, cada um com um feature específico para um tipo de pessoa:

– com espelho, para mulheres maquiáveis;
– com saca-rolhas, para sommeliers;
– com trena eletrônica e nível, para arquitetos e mestres-de-obras;
– com bússola analógica, para exploradores e desorientados;
– com multitester, para eletricistas;
– com medidor de pressão, para profissionais da saúde;
– com medidor de taxa de glicose, para diabéticos;
– com canivete suíço, para… para… suíços;
– com balança portátil de malas, para turistas consumistas;
– com colorímetro, para designers e pintores de parede;
– com contador manual, para pecuaristas e guias turísticos na Disneylândia;
– com decibelímetro, para vizinhos chatos.

Alô, é da Nokia? Tenho uma ideia pra vocês desbancarem o iPhone. Quer comprar?” : )

Submarino Não Vende iPad pelo Preço Ofertado

Não sei por quanto tempo o link (http://is.gd/cucan24) ficará no ar, mas acessando-o pelo FireFox você vê a imagem abaixo.

O Submarino anuncia o iPad 2 16GB Wi-fi com 10% de desconto, ao preço de R$ 1.484,10. Ao tentar colocar no carrinho de compras, o preço sobe para R$ 1.649,00. Isso acontece com todos os modelos. Todos são ofertados com um desconto que some na hora de finalizar a compra.

Entrei em contato pelo chat e mandaram ligar para o televendas. Liguei e simulei a compra. Passei o código do produto (23805678) e o atendente deu o preço: os mesmos R$ 1.484,10. Falei que queria comprar. Pediu meu email e senha cadastrados na loja online e, na hora de finalizar, pedi para me confirmar o valor. Ele disse: R$ 1.649,00. Falei que eu queria comprar pelo preço que ele havia me passado anteriormente. Pediu para esperar um instante, dois instantes, três instantes, quatro instantões. Voltou dizendo exatamente isso “esse preço é exceto para produtos Apple“. Pedi para chamar o supervisor.

“Meu amigo, creio que você não entendeu. Eu quero comprar este produto pelo valor que o atendente me ofertou; o mesmo que o site me oferta. Quer dizer que na feira tem uma plaquinha ‘maçãs por R$1,00/kg* – *exceto maçãs’?”

O cara teve a cara-de-pau de me dizer que lojas físicas não são iguais a lojas virtuais. Falei que iria no Procon exigir meus direitos. Ele me aconselhou a fazer isso mesmo.

É assim que a Submarino trata seus clientes. É assim que a Submarino trata um cliente de mais de 10 anos.

O Novato

Esquecera de algo muito importante. A pouco começaria o show. Tinha que resolver urgente. Abandonou o lanche e saiu em disparada. Era responsável pelos efeitos sonoros e vídeos no telão. Tudo era computadorizado; entrariam automáticos. Mas uma coisa não lembrara de fazer. Lapso, falha, bobagem, porém, seria vergonhoso. Precisava chegar logo ao backstage e corrigir! Cerca de 300 metros até a lona de espetáculos, só que a feira estava lotada – era fim de semana. Se não conseguisse, daria tudo errado. Nunca o perdoariam. Tropeçou no carpete do corredor principal. Quase caiu. A moça bonita do estande de tapetes riu. Não ruborizou por pura falta de tempo. Seguiu no trote.

Todo o show era perfeito. Toda noite, irrepreensível. Os músicos, dos mais talentosos. Os bailarinos, elogiadíssimos. O melhor iluminador estava na trupe. O engenheiro de som era de renome. Já tinha feito mesa até para o Jethro Tull, na década de 70. Um novato falharia? Alguém que ganhara chance na equipe por indicação de um amigo em comum com artista? Muitos apostaram silenciosamente que sim.

Esquivou-se do casal, pulou sobre a lixeira, esbarrou na senhora de bengala – “perdão”. Correu tudo que pode. De longe viu que as luzes apagaram. Ouviu o público gritar excitado. Começou. “Corre!”. Driblou os fotógrafos. Mostrou a credencial ao segurança. Avistou o computador. Esticou o braço em direção ao mouse como o Homem Elástico. Mas antes de alcançá-lo, escutou das caixas de som, rasgando-lhe o coração e os tímpanos da plateia: “as definições de vírus foram atualizadas”.

Amaldiçoou todo e qualquer freeware e pôs-se a chorar.

Lucro Não É Crime

Volta e meia ouvimos alguém dizer: “eles só pensam no lucro”. Tem gente que acha que obter lucro em uma transação comercial é falha de caráter. Quem nunca escutou “este preço é um roubo”? Figuras de linguagem à parte, o que está se tentando dizer com a exclamação é que oferecer um produto por um preço maior, muito maior ou, até mesmo, absurdamente maior, é crime. Mas não é. Quando uma empresa adota uma política de preços, três coisas são consideradas: custos, posicionamento pretendido e mercado em que está inserida. Como vivemos em uma sociedade capitalista, onde cada um compra o que quer, de quem bem entende, qualquer preço que pague os custos e dê lucro não deve ser recriminado.

O que pode ser considerado imperícia, burrice ou, agora sim, crime é o preço baixo demais – a concorrência desleal. Alguns tipos de empresa que costumamos ver por aí:

– FILANTRÓPICA – A empresa não sabe calcular seus custos, cobra menos do que deveria, tem lucratividade baixa ou zero. Com isso remunera mal seus funcionários, puxa a concorrência para baixo. Vê-se muitas dessas ao nosso redor. Ah, elas terão vida curta? Acredite, tem muitas com mais de uma década, apostando que as coisas ainda vão melhorar.
– PAITROCINADA – Algumas foram montadas pelo “papai” ou estão instaladas em um imóvel da família. Nenhum problema com isso, desde que esses custos sejam previstos. Afinal, quem é “papai”? Um supervilão tentando destruir o mercado subsidiando as aventuras profissionais dos filhos? E não existisse “papai”? Como seria a vida financeira dessa empresa? Infelizmente, não existe uma Liga da Justiça para combater esse tipo de concorrência.
– SONEGADORA – “O Governo leva todo o meu lucro.” “Todo mundo sonega, por que não eu?” Claro que os impostos são abusivos. Claro que não há nada mais indignante do que a corrupção deste país. Mas e aí? Vai fazer o mesmo? Vai nivelar por baixo? O trocadilho é infame, mas não se paga imposto pra sonegar. Quem só precisa de um motivo para justificar um ato ilícito deve repensar sua existência.

Portanto, se você achar o preço alto, não compre. Se achar o serviço ruim, não volte. É um favor que fará a sua cidade. Só não despeje sua raiva no coitado do lucro, no empresário que trabalha bem, que foi às aulas de matemática, que pretende ser remunerado de forma justa, que faz a roda da economia girar. A mesma roda que fará os salários aumentarem (inclusive o seu), reduzirá os custos de produção, aumentará o seu poder aquisitivo e levará você a pensar em abrir um negócio próprio. Nessa hora você vai entender melhor o que estou dizendo.

O Que, De Fato, É “Sensação Térmica”?

Não entendo muito bem essa história de sensação térmica.

Outro dia fazia 3ºC na minha cidade, mas a sensação térmica era de -1ºC. Em outro município, de -5ºC. Pelo menos foi o que disse a moça da televisão.

Hoje na Europa, a sensação chegou a 56ºC. Cacilda!

Não sei se essas informações são aferidas por um psicólogo ou meteorologista, mas como não tinha nenhum desses por perto, resolvi perguntar para meu pai, que é formado em Agronomia. É o que chegava mais próximo.

Sem titubear, como todo bom engenheiro agrônomo (antigamente era a profissão tida como mais polivalente — hoje perde pro Direito e Administração de Empresas), expeliu:

— É assim: os caras pegam um veterinário, um filósofo e um arquiteto paulista (este último pode ser substituído por um cabelereiro ou, melhor ainda, por um designer). Levam os três para um descampado ventoso e mandam tirar a roupa, inclusive o cachecol do arquiteto. Depois de 15 minutos, uma equipe recolhe os indivíduos e pergunta qual a temperatura acreditam estar fazendo. Multiplicam a nota do arquiteto por 1,35, somam com as demais e dividem por 3. Pronto. Assim definem a sensação térmica no inverno.
— E no verão, pai?
— Ah, no verão vou me informar e te digo depois.

Vendas Coletivas: Três Motivos para Anunciar e Três para NÃO

Existem mais de mil sites de “vendas coletivas” no Brasil. E isso me preocupa um pouco. Não que eu ache a ideia ruim, pelo contrário, mas pelo seu mau uso.

De um lado os consumidores: muitos acham que os preços menores vêm de simples barganha com os fornecedores. A falsa impressão de preço baixo devido ao volume maior negociado chega a criar um falso pensamento que os valores normais são abusivo. Na verdade, tais anúncios nada mais são do que investimento, no qual não se arca apenas com a redução da receita, mas com o pagamento pelo serviço de divulgação.

De outro lado, os anunciantes: o frisson é enorme e, cada vez que alguém anuncia, a concorrência se sente impelida a fazer o mesmo. Porém, a maioria não sabe o que faz, tanto para o seu negócio como para o mercado em que está inserida.

Por que sua empresa deve anunciar em um site de vendas coletivas?

1) Porque precisa chamar atenção no mercado, seja por inauguração recente, seja por estar apresentando um novo produto.

2) Porque tem um diferencial inédito em sua área de atuação, de extrema qualidade, e precisa de consumidores que o experimente e divulguem espontaneamente para seus amigos.

3) Porque tem um item em estoque que precisa de saída.

Por que sua empresa NÃO deve anunciar em um site de vendas coletivas?

1) Porque estará ofertando preço e não qualidade. Atrairá consumidores interessados na vantagem financeira, que a trocarão pelo concorrente quando a oferta dele for melhor.

2) Porque estará ajudando a criar consumidores-monstros, que só escolhem onde irão jantar fora, por exemplo, pelas opções de restaurantes anunciantes do sistema, criando um mercado insustentável para a sua própria existência.

3) Porque, se o seu estabelecimento está sempre lotado (como vi um outro dia anunciando), não há motivo algum de oferecer um preço menor, prejudicando o atendimento de seus clientes habituais, que a prestigiam pelo que é e não pelo preço promocional que pratica.

Não é preciso dizer que faz ainda muito mais mal à saúde dos negócios ofertar um produto medíocre pela ocasião ou por DNA mesmo. Não há propaganda que conserte o que não presta; a magia se desfaz no primeiro contato e o boca-a-boca negativo é muito mais intenso.

Fanzine Skate-punk

Eu tinha uma banda skate-punk aos 14/15 anos. Bem na época, eu e um amigo, fazíamos um fanzine de skate chamado ProSkate, cheio de matérias e fotos realizadas por nós mesmos. Tinha um “concorrente” que parecia tentar ir na nossa cola, nos imitar. Só que ele não produzia as matérias. Copiava de revistas e remontava. E para as imagens usava figurinhas de um álbum lançado pela revista de skate mais foda da época, a Overall.

Fizemos uma uma música em homenagem a ele.

Nosso zine é bom, nosso zine é mau
Nosso zine tem figurinha da Overall

Legal, legal, legal, legal, legal

Nós tomamos leite, com café ou Nescau
Nós ouvimos Circle Jerks e Suicidal

Legal, legal, legal, legal, legal

Nosso zine tem entrevista com o Junae
E patrocínio do meu pai

Legal, legal, legal, legal, legal