O Frisson dos Megapixels


A primeira câmera fotográfica digital que usei foi uma Sony Mavica, da minha amiga Gigi, de 1,3MP, que salvava os arquivos em disquetes de 3 1/4. Cabiam de 10 a 15 fotos em um disco de 1,44Mb. Era o que tinha de melhor. Um trambolhão, mas não precisava mandar para o laboratório. Era isso ou usar filme, revelar, ampliar e escanear para trabalhar com a imagem. Hoje não se encontra nada com menos de 5MP de resolução no mercado (nem celulares) e os menores cartões de memória são de 2Gb. Cá entre nós, 5 megapixels são mais que suficientes para as necessidades da esmagadora maioria dos consumidores.

Com 5MP pode-se imprimir no tamanho de uma folha A4 com qualidade profissional. Para se ter uma ideia, cabem 4 fotos 10 x 15cm em uma folha A4. Ou seja, bastariam os 1,3MP da citada Mavica pra deixar quase todo mundo feliz com seus albinhos impressos. Por coincidência, ou não, é a mesma quantidade de pixels da maioria dos monitores domésticos de hoje em dia – 1280 x 1024. Então, por que as pessoas continuam querendo mais e mais resolução? Para ocupar mais espaço no HD?

Uma vez um jornalista da TV fez um teste (veja a reportagem aqui). Pegou três câmeras amadoras (point-and-shoot) da mesma marca e modelo, cuja única diferença era a quantidade de megapixels (7, 10 e 13MP). Levou-as a um estúdio profissional e fez três imagens idênticas de um cesto de frutas, com iluminação controlada e resolução máxima. Depois imprimiu em laboratório fotográfico no formato 30x25cm. Expôs na rua, uma ao lado da outra, e solicitava a quem passasse identificar qual a melhor. Depois de dezenas de opiniões e uma confusão generalizada, muitas pessoas preferiram a de 7MP. A explicação é a seguinte: em equipamentos não-profissionais, o CCD (sensor que capta a luz para formar a imagem) não tem qualidade suficiente para grandes resoluções. Quando elas ocorrem, a quantidade de pontos sensíveis à luz é maior em um mesmo espaço do CCD, causando seu aquecimento ir além do desejado e a precisão de cada pixel ser prejudicada. Isso gera imperfeição na reproduçāo de cada cor e na definição das formas. Sutil, mas acontece. Isso sem falar no ruído que aparece principalmente em condições de menos luz. Já em câmeras profissionais, o tamanho e as características de arquitetura dos CCDs são projetados para as resoluções as quais o equipamento se propõe.

Por isso, ao procurar uma câmera, esqueça os megapixels. Acredite: todas as atuais já lhe oferecem a quantidade suficiente. O que vai influir na qualidade da imagem é a parte ótica do equipamento e o tamanho do sensor CCD. Valorize isso em conjunto com um fabricante eletrônico inquestionável e com tradição no segmento.

Para quem está rindo da Mavica com disquete, reflita que talvez a sua Xing-Ling de 15MP seja bem mais engraçada.

Eu Tenho. Você Não Tem

Homem é bicho curioso. Ao mesmo tempo que gosta de exclusividades, adora contar as suas para os outros; o que descobriu; o que só ele conhece.

Sabe aquele restaurante que “só você” vai, meio esquisito, mas que tem “uma sopa de capeletti que-vou-te-contar”? E aquela banda islandesa que nunca ninguém ouviu falar, faz “um som maneiro”, a vocalista tem uma tatuagem na testa, não tem guitarrista, mas uma harpa no lugar? Ou então o mecânico, lá do Pestano, que “fez curso na NASA”, sabe tudo de motores, mas se instalou em Pelotas porque a família é daqui e quer “qualidade de vida”?

Todos temos nossos tesourinhos. O estranho é que, ao mesmo tempo que gostamos de espalhar para os quatro ventos nossas descobertas, quando se tornam de todos rejeitamos; achamos que viraram pop demais; que estão muito concorridas. Para esses casos, temos sempre a deixa na ponta da língua: “eu frequentava esse restaurante desde que abriu, era muito bom, mas agora já não são mais os mesmos”; “ficaram muito comerciais, o primeiro disco é que era bom, quando tinha o baixista aquele”; “ah, ele não trabalha mais direito, tem muitos clientes, não se atualizou; tô levando na concessionária”.

O homem vive em busca de um reconhecimento estranho por algo que não é dele. Não se dá conta que o tesouro é mais importante que a descoberta. Se sente frustrado quando não recebe o crédito por ter compartilhado algo e acaba descarregando sua fúria e desdém em quem deveria levar os louros: o autor. Seria um tipo de inveja?

Já ouviu o último do Vinx? Um cantor com voz linda que fazia backing vocal para o Sting na turnê do CD “The Soul Cages”: www.vinx.com. Mas o melhor é o primeiro.

Rock in Rio em HD? Duvido

Fatos:
1. Globo, Multishow e SKY anunciaram que têm os direitos de transmissão do Rock in Rio;
2. somente Globo e Multishow anunciaram a transmissão de fato;
3. a grade de programação do Multishow HD não agenda o evento, apenas a do Multishow convenciaonal (SD);
4. não há nenhuma divulgação nem canais reservados na grade da Sky para a transmissão especial da Sky (no Rock in Rio 3, a DirecTV tinha quatro canais simultâneos mostrando diversos palcos do evento ao vivo e durante todo tempo);
5. o slogan da Sky para o Rock in Rio é “A melhor definição do Rock in Rio”.

Vou especular forte agora:
1. se patetearam foda. Descobriram que não têm equipamento HD suficiente para caputrar, editar ao vivo e transmitir diversos palcos ao mesmo tempo, por isso não terão canais especiais; a Globo até poderia ter, mas está alocado para outras produções da casa. Uma coisa é transmitir um show, como o de Paul McCartney, outra é ter cameras e switchs suficientes para caputurar de vários palcos ao mesmo tempo;
2. de repente poderiam até transmitir em HD pelo Multishow HD, mas não de todos os palcos – seria constrangedor alternar palcos em HD e outros em SD;
3. duvido que a Globo, nos locais que têm HD, passe a programação em HD. Se isso se confirmar, minha teoria fará todo sentido.

Aguardemos.

Exercício de Redação – Linhas

Publiquei o texto “Linhas” em 13 de janeiro de 2007 neste blog. Tinha-o como um dos meus melhores, na lembrança. Hoje, resolvi reler. Que vergonha! Ainda gosto do argumento, mas que coisa mal escrita. Como a gente pode evoluir tanto em 4 anos (mesmo ainda sendo fraco)? Decidi, então reescrevê-lo e publicar aqui, trecho a trecho, as partes originais e suas refações. Exercício bacana. Em itálico o antigo, em normal, a mudança.

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Linhas

Um passo curto, outro comprido, outro comprido, outro comprido, outro curto de novo. Não havia forma correta. Dependida da calçada; do piso do lugar.

Um passo curto, outro comprido. Outro comprido, outro comprido. Outro curto de novo. Não havia forma correta. Dependia da calçada; do piso do lugar.

Não pisava nas linhas do chão. Caminhava irregular para não apoiar o pé, por um piscar de olhos que fosse, sobre uma emenda de calçada. Mania comum. Boba. Coisa de criança. Tinha que fazer e fazia desde sempre e pronto. Apenas não pisava.

Não pisava nas linhas do chão. Caminhava irregular para não apoiar o pé sobre uma emenda de calçada sequer. Mania comum. Boba. Coisa de criança. Fazia desde sempre. Não pisava.

Não sabia exatamente o que aconteceria se quebrasse a regra que ele mesmo havia criado, mas muitas vezes imaginava. Uma só linha pisada e o chão ruiria sob seus pés.

Não sabia o que aconteceria se quebrasse a regra, mas imaginava. Um só descuido e o chão ruiria sob seus pés.

Cada erro poderia ser um dia a menos na vida de alguém que amasse. Morreria um urso panda – que já eram poucos, ele sabia, e os achava bastante simpáticos. Cada rejunte pisado apagaria uma das linhas das palmas de sua mão. Lembrava sempre dessa nos momentos que não conseguia pensar em nenhuma nova. Era da que mais gostava.

Cada erro poderia ser um dia a menos na vida de alguém que amasse; morreria um urso panda — que já eram poucos e bastante simpáticos. Cada rejunte pisado apagaria uma linha da palma de sua mão. Lembrava dessa sempre. Era a que mais gostava.

Quando perdia o foco da regra e encostava em uma linha, por pensar em outra coisa, como olhar para os lados para atravessar a rua ou encher a boca d’água com a carrocinha de picolé, checava rapidamente as mãos para ver qual a linha havia desaparecido. Muitas vezes não sabia certo o lugar de onde alguma teria sumido, mas imaginava. Em outras, tinha certeza: “havia uma linha bem aqui, eu sei”.

Quando perdia a concentração e encostava em uma linha, checava rapidamente qual havia desaparecido de suas mãos. Às vezes não sabia certo de onde teria sumido, mas imaginava. Em outras, tinha certeza: “havia uma linha bem aqui, eu sei”.

Se algo desse errado na vida, se alguma coisa que esperasse muito não acontecesse, lembrava da calçada exata onde tinha cometido o erro e da linha em sua mão que havia apagado. Chegou a pensar em consultar com freqüência uma profissional de quiromancia, para saber melhor a que se referiam as linhas que haviam sumido. Mas não fez. Não acreditava nessas coisas.

Se algo desse errado na vida ou deixasse de acontecer, lembrava da calçada exata onde tinha falhado e da linha da mão que havia apagado. Cogitou consultar uma profissional de quiromancia, para saber a que se referiam as linhas desaparecidas. Mas não o fez. Não acreditava nessas coisas.

Preferiu tirar cópias de suas palmas na copiadora do escritório. Registrava uma imagem de cada uma por dia e pendurava na parede do quarto. Assim poderia aferir visualmente o resultado de suas falhas, de suas distrações, e a quantidade de acontecimentos que ainda estavam por vir.

Tirou cópias das mãos no xerox do escritório. Registrava todo dia e pendurava no quarto. Assim, aferia visualmente a evolução de suas distrações e a quantidade de acontecimentos que ainda restariam.

Quando acabou o espaço nas paredes do quarto, teve que iniciar na sala. Planejou que o próximo cômodo seria o banheiro. As palmas estendidas nas paredes davam impressão que pessoas estavam presas atrás dos tijolos, empurrando, tentando sair.

Quando acabou o espaço nas paredes do quarto, continuou na sala. O próximo cômodo seria o banheiro. As palmas estendidas pela casa pareciam pessoas presas atrás dos tijolos, empurrando, tentando sair.

Aos poucos, foi tendo explicação para cada expectativa frustrada, cada plano desfeito, cada dia monótono. Os dias, os meses, os anos passavam e as palmas dependuradas foram ficando cada vez mais lisas como as plantas de seus pés. Parecia um papel de parede degradê; do escuro pro claro; de cima a baixo, da esquerda para a direita.

Aos poucos, tinha explicação para cada expectativa frustrada, cada plano desfeito, cada tarde monótona. Os dias, meses e anos passavam. As palmas nas paredes eram cada vez mais lisas, como as plantas dos pés. Parecia um papel de parede degradê; do escuro pro claro; de cima a baixo, da esquerda para a direita.

Sua vida também ficava cada mês mais vazia. Nos finais de semana, quando não ia ao escritório e não tirava cópias das mãos, analisava suas palmas o tempo todo e comparava-as com as imagens da sexta-feira.

Sua vida também esvaziava. Aos finais de semana não ia ao escritório. Sem novas cópias, analisava suas palmas o tempo todo comparando com as imagens da sexta-feira.

Já era fácil contar quantas linhas que restavam. Queria guardar uma para encontrar o amor da sua vida, outra para fazer um filho, outra para pedir demissão do seu emprego, outra para ter muito dinheiro – mas só o suficiente para não se preocupar mais com isso –, outra para fazer parar as guerras (ou será que para isso o correto não seria guardar, mas apagar uma linha?).

Já era fácil contar as linhas restantes. Guardaria uma para encontrar o amor da sua vida, outra para fazer um filho, uma para pedir demissão do seu emprego, outra para ter dinheiro — só o suficiente para não se preocupar mais.

Todavia restavam poucas e algumas realizações consumiriam, sem dúvida, muito mais do que uma delas. Achou melhor pensar em destinos menores, que consumissem menos linhas. Queria uma linha, então, para ter um aeromodelo, outra para tomar um café na sua esquina favorita, outra para que seus amigos estivessem lá, outra para um abraço apertado em alguém, outra para ir visitar sua mãe no Natal e outra para dar adeus.

Todavia restavam poucas e algumas realizações consumiriam, sem dúvida, várias delas. Achou melhor pensar em destinos menores, que consumissem menos linhas. Guardou uma, então, para um aeromodelo, outra para tomar café na sua esquina favorita, uma para que seus amigos estivessem lá, para um abraço apertado, para ir visitar sua mãe no Natal e outra para dar adeus.

Acordou, olhou pela janela e percebeu que a cidade estava vazia. As linhas em suas mãos já não eram suficientes para que as pessoas fossem às ruas. Saiu para ver. Os carros não andavam, as nuvens não passavam. Havia pássaros caídos, com as asas abertas, como que congelados entre uma batida de asas e outra. Alguns sinais estavam abertos, outros fechados, outros amarelos. Mas não mudavam mais de cor.

Acordou, olhou pela janela e percebeu a cidade vazia. As linhas em suas mãos já não eram suficientes para que as pessoas fossem às ruas. Saiu para ver. Os carros não andavam, as nuvens não passavam. Havia pássaros caídos, como que congelados entre as batidas de asas. Alguns sinais estavam abertos, outros fechados ou amarelos. Mas não mudavam mais.

As vitrines exibiam televisões fora do ar. Os luminosos não piscavam, os ponteiros dos relógios não se mexiam e as árvores não dançavam com o vento. Ele nem mesmo soprava. Voltou para casa, tomando cuidado excepcional – com uma atenção que jamais havia tido – para não pisar em nenhuma outra linha. Dessa vez era fácil. Não havia semáforos para cuidar, sorvetes para salivar. Chegou em casa e não pisou no marco da porta, atravessou a cozinha na ponta dos pés, por entre as lajotas pequenas. Levou meia hora para cruzar o corredor, porque era de parquê. Deitou de lado na cama e nem se cobriu com o cobertor listrado, por precaução. Colocou o rosto próximo aos joelhos e fechou as mãos com toda a força. Quantas linhas ainda restavam? Talvez só uma. Preferiu não olhar.

Vitrines exibiam televisões fora do ar. Luminosos não piscavam. Ponteiros de relógio não se mexiam. Árvores não dançavam com o vento. Ele nem mesmo soprava. Voltou para casa, tomando cuidado excepcional para não pisar em linha alguma. Pulou o marco da porta, atravessou a cozinha na ponta dos pés, por entre as lajotas pequenas. Levou meia hora para cruzar o corredor de parquê. Deitou de lado e nem se cobriu com o cobertor listrado, por precaução. Colocou o rosto próximo aos joelhos e fechou as mãos com força. Quantas linhas restavam? Talvez só uma. Preferiu não olhar.

Unboxing — Toddy Black

Se você procurar por “unboxing” no Google, achará milhões de vídeos de consumidores que registram o processo de “desencaixotar” um produto logo após adquirí-lo. A intenção é fazer um review em tempo real (com afinco pseudotécnico-científico), mostrando a extraordinária reação consumista de todos nós ao “desembrulhar um brinquedo novo”, tal qual criança. Claro que os campeões de incidência são os gadgets, com larga vantagem aos produtos da Apple, que por si só já seriam míticos, mas também porque suas embalagens são sempre muito bacanas.

Como fã do Toddy Original ― e mais fã ainda de chocolate com grande percentual de cacau ― alucinei com a notícia do lançamento do Toddy Black. O novo protudo da Pepsico possui 133% a mais de cacau, segundo release divulgado na imprensa. 2,33 vezes cacau não, necessariamente, significa cacau suficiente, visto que nós mortais não sabemos, de fato, quanto cacau tem no Toddy Original. Mas claro que meu desejo foi sensibilizado.

Hoje, comprei um Toddy Black e resolvi fazer um unboxing. Vamos lá.

A embalagem, puxando para o preto ― como todos os produtos que têm apelo mais amargo ― é adequada. Não é sofisticada, como a destes produtos também costumam ser, mas por um lado isso é bom. Juntamente com o preço (similar ao Toddy Original) o design sugere que o posicionamento de mercado não será elitista. Espero que não seja apenas estratégia de lançamento. Desejo que o valor mantenha-se assim.

O pote de 350g do Toddy Black tem preço similar ao de 400g do Toddy Original, na faixa dos R$ 3,50.

A legislação de embalagens é clara. Não se pode dizer que um produto tem “mais alguma coisa” sem dizer qual a base da comparação. Por isso, ao escrever que Toddy Black tem mais chocolate e cremosidade, não deixam de fazer referência ao Toddy Original.

A tampa-rosca é preta. O frasco, acredito ser idêntico ao da versão original, com as mesmas marcas em relevo. O papel alumínio que sela é igual.

O pó, aparentemente, é um pouco mais crispy. Bem pouco. Sua coloração é mais escura puxando para avermelado. Claro que não é avermelhado se olhar só para ele, mas na comparação direta com seu irmão mais velho, tem esta tendência cromática. É mais bonito.

Nutricionalmente ― mas quase insignificante ― é um pouco menos calórico. Menos corboidratos e açúcares. Em termos de gordura, na mesma proporção, mas inversa. Deve ser pela quantidade maior de cacau. Dá pra perceber que não é muita, apeser de mais elevada. Mas, como dizem os especialistas, a gordura do cacau é do bem. Tem fibra, o que é bom. E, daí pra baixo são aditivos vitamínicos que, acredito, sejam padrão da Pepsico para produtos dirigidos também para o público infantil.

Infelizmente, a descrição dos ingredientes não cita quantidade. Até porque, se o fizesse, não haveria mais propriedade industrial. Eu colocaria no Toddy Black “cacau + cacau”, só para fazer um charme. Acho que não estaria fazendo nada ilegal. :)

Na hora do bem-bom, já com o leite quente, não se mostrou difícil de misturar, não empelotou, como o Toddy de anos atrás fazia e o atual ainda faz um pouco no leite frio. Mas eu não me importaria com isso. Até gosto de desmanchar as bolinhas ao tomar. A coloração final é intensa, resultado esperado pela própria cor do pó.

A Stela gostou. Eu também. É muito bom. Vou migrar. O único senão é a característica do “+cremoso”. Não precisa. É meio artificial. Sabe quando se coloca maisena para engrossar o chocolate quente? Fica tipo mingau. Mas a percepção é bem sutil; não compromete muito. Pra mim, no novo Toddy, bastava terem mantido a mesma fórmula, ampliando apenas o cacau.

Eu fazia com o Toddy Original o macete de usar duas colheres (das de sobremesa) do produto e mais uma de um cacau em pó bem forte. Isso ainda é melhor do que o Toddy Black. Mas estou feliz com o produto. É um avanço.

Desenrolando

Desenrolou o tempo. Estendeu-o sobre uma tábua de passar roupa. Desamassou com ferro os enrugados. Contornou as casas com o ponta quente. Fez o mesmo com os botões. Borrifou água onde estava mais conturbado e alisou várias vezes. Virou do avesso e repetiu o processo. Dependurou no cabide e guardou no armário. E lá ficou o tempo, perfumado, à mercê do mofo outra vez, pronto para a próxima necessidade. Torceu para que fosse logo.

Não é Brinquedo, Não

Quase não escrevi, mas isso merece.

foto: Gabi Lima

Sábado, tive o prazer de levar minha filha maior (6 anos) no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, para assistir o show Música de Brinquedo do Pato Fu. Para quem ainda não sabe, os efervescentes anseriformes fizeram versões covers (sim, a intenção era soar igual) de grandes clássicos de músicas nacionais e internacionais. O pulo do gato (ou “do pato”) é que tudo isso é feito apenas com instrumentos de brinquedo e assemelhados. Minha filha já havia furado o CD de tanto ouvir, o que deixou o concerto ainda mais bacana e participativo.

Sem dúvida alguma – desde que assisti os primeiros vídeos do projeto, ainda em estúdio – o que mais impressiona é o baterista Xande, um verdadeiro monstro de energia percussiva, tocando em uma bateria de criança com vigor e precisão indescritíveis. A versão para Ska, dos Paralamas do Sucesso, é sensacional. Imagine reproduzir exatamente as viradas e trejeitos de João Barone em um instrumento minúsculo de brinquedo. Inacreditável.

Mas só isso não conta tudo. A pesquisa ludomusical da banda, encabeçada pelo guitarrista e produtor John Ulhoa, torna o espetáculo e o CD ainda mais ricos, com destaques para o kazoo, a caneta sonora, os joão-bobos, o pogobol, e a sublime caixinha de música de Love Me Tender.

Me emocionei em vários momentos, em especial nas músicas “Simplicidade” e “Perdendo Dentes” (da própria banda) e “Live and Let Die” de Paul MacCartney. Os tradicionais fogos de artifícios das apresentações ao vivo do beatle foram representados com lança-confetes, largando uma chuva de papel picado por toda plateia.

O mais legal de tudo, sem dúvida, foi estar ao lado de minha filha, vendo a reação dela e compartilhando a genialidade de uma banda que curto desde o segundo trabalho, da qual vi os integrantes evoluírem como músicos, compositores, cantores e pessoas.

Só tenho a agradecer. Muito obrigado patos, incluindo as cortesias que recebi da Gabi, em poltronas privilegiadíssimas.

Veja o making of do CD música de brinquedo aqui.

O Xis da Questão

Claro que consigo entender, comercialmente, a substituição da palavra “cheese” (queijo) pela letra xis. A sonoridade é parecida, além de ser mais curta, leve, bem-humorada, vendável… Até o design é mais agradável. Você não concorda? O “x” está na moda desde os filmes de pirata, quando marcava o local do tesouro — Corel X, Generation X, Malcom X, Triple X e por aí vai.

O que é inaceitável ou, no mínimo, perturbador são esses trailers e lanchonetes que acham que “x” é sinônimo de sanduíche ou sei lá de quê. Na maioria dos lugares, por exemplo, um x-coração leva coração, alface, maionese e queijo. Já um bauru de coração contém os mesmos coração, alface, maionese e, pasmem, queijo! Não ouse perguntar à garçonete, nem ao dono do bicão, qual a diferença.

— Olha… É que… É… O bauru leva ervilhas. Isso! Ervilhas!
— Ah, “ervilhax”?
— “Ervilhas!”
— Hum… Sei. Mas não está escrito aqui que leva ervilha.
— Não? Deixa eu ver… É, mas tem.
— (Se não levava, passou a levar)

Aí, você lê “hamburger” e “x-burger” e pensa, de novo, que o destaque do segundo é o queijo. Engana-se. Os dois têm. É que o hamburger leva salada. Ou não. Vai saber.

— E o x-salada? Leva o quê?!

Mas cuidado! Não tente aplicar essa lógica em todos os botecos, pois cada um tem a sua. Não existe convenção. Ainda há aqueles que não compreendem nem que “burger” diz respeito ao “bolinho de carne moída”. Mas a falta de critério etimológico não se aplica apenas aos estabelecimentos de Pelotas. Evidente.

Certa vez, em Porto Alegre, olhava o cardápio. Havia duas colunas com os exatos mesmos nomes e descrições repetidos. O que diferia era o título de cada uma: “Baurus” e “X”. Detalhe: em ambas, todos levavam queijo. Tinha até um chamado “Quatro Queijos” (se soubessem o que significa xis, chamariam “XXXX”?). Claro que questionei.

— O que um tem e o outro não?
— É que o bauru é com pão cervejinha e o xis é com pão de leite.
— Ahhhh! Claro! Tá explicado!

Vigilância Sanitária Veta Show na Fenadoce 2012

Com a intenção de garantir datas nas agendas de grandes artistas nacionais, a organização da Fenadoce 2012, com antecipação inédita, iniciou a divulgar a lista de espetáculos musicais já confirmados para o evento. Um dia após o primeiro nome ser destaque nos veículos jornalísticos locais, a Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde emitiu parecer desfavorável à atração. Para o inspetor Arantes, que assina o documento, Não se pode permitir que a cidade seja infectada com este tipo de praga, ainda mais quando o assunto é o doce. Precisamos ser responsáveis com os turistas e com o próprio povo pelotense. É uma questão de saúde pública, finalizou Arantes. A presidência da Fenadoce recebeu a notícia como um balde de água fria. Segundo os organizadores, a atração é peça-chave para as comemorações, que conjugam os 20 anos da Feira com os 200 anos de Pelotas, mas garantiram que irão procurar as vias legais para que o show em questão se realize. A produção do cantor Paulinho Moska foi procurada, mas não quis se pronunciar a respeito.