Buenos Aires: Dicas de Câmbio e Generalidades

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Não ia a Buenos Aires desde 1998, quando estive para o show do U2, Pop Mart. Acredite se quiser. Desde lá, mudou muita coisa. Mas escrevo apenas para dar algumas dicas em um assunto que vem sendo recorrente neste blog: câmbio.

A Argentina vive um período econômico que privilegia muito o turismo. A moeda desvalorizada frente ao dólar e ao real oportuniza aos brasileiros viajar mais barato que no Brasil. Fora isso, você encontra passagens aéreas por menos de R$ 200 o trecho. Mas tem que procurar o dia certo.

Porém, o pulo do gato mesmo, para quem quer aproveitar o câmbio, é: não use cartão de crédito, em hipótese alguma! Em setembro deste ano, quando estive, o câmbio oficial era de 8,40 pesos por dólar, enquanto o paralelo, que se faz nas ruas, estava em 14,70. Uma diferença de mais de 60% se você ainda considerar o IOF das transações internacionais via cartão. Fora que não há como saber, nem ao telefonar para seu cartão, qual o câmbio pesos/dólar do dia, apenas o dólar/real, como já falei aqui. O paralelo, que é ilegal, acontece na rua. Você é abordado por um vendedor a cada 10 passos ao caminhar pela Calle Florida. Chega a ser chato. Na primeira hora você até responde “no, gracias”, depois cansa. Eles negociam o preço ali mesmo e, se topar, te levam para o escritório em alguma galeria ou prédio. Segundo dizem, há que se tomar cuidado com os golpes. Aconselho fazer o primeiro câmbio com pouco dinheiro no bolso, para testar a confiabilidade do lugar. Quando estiver no “estabelecimento”, pergunte se fariam um valor melhor para maior quantidade e volte mais tarde para tal. Aí, claro, sem utilizar o “atravessador” da rua, vá por conta própria, pois já sabe o caminho. Talvez consiga uma taxa mais interessante. Algumas lojas aceitam dólar ou real direto, a um valor próximo ao paralelo, mas claro que com uma conversão pior do que as casas especializadas.

Sem saber dessas barbadas, acabei levando pouco dinheiro em espécie, pois teria a ajuda dos cartões se precisasse. Acabou que, para o que pretendia, deu e sobrou. Não fui com a intenção de “muambar”, apenas de passear. Gastei 20% a menos que dispunha. Comprei algumas coisinhas por impulso, mas me arrependi amargamente de não ter aproveitado para me abastecer de roupas para o inverno seguinte. Se encontram casacos, jaquetas etc. — de muito, mas muito boa qualidade — de R$ 150 a R$ 500. Mas estou falando de MUITO boa qualidade, mesmo! Claro que tem porcaria. Encontre os lugares certos e as promoções. Mas se eu, que nem procurava, achei, não será difícil para quem já vai com a intenção.

A comida também é um caso à parte. Faltaram dias para tantos restaurantes, panaderias, cafés que queria ir. No mais caro de Buenos Aires, você gasta R$ 90 por pessoa, com vinho. Existem lugares muito bons e tradicionais, em que não se gasta R$ 20 por pessoa. Não vou dar dicas de onde comer, pois fiquei pouco tempo e existem diversos blogs que fazem isso.

Sobre locomoção, nem pense em não andar de táxi. Tirando a ida e volta para o aeroporto, a corrida mais longa que fizemos, que atravessou a cidade, custou R$ 15. Tiros curtos podem sair por até R$ 4. Na chegada em Baires, no aeroporto, me dirigi ao guichê oficial de táxis. Como só tinha dólares, os 380 pesos cobrados no caixa, me custaram, pelo câmbio oficial, US$ 45. Na volta, pedimos um carro pelo próprio hotel, que me custou 300 pesos. Ou seja, R$ 50 ou US$ 20.

Outubro entra com maior desvalorização ainda da moeda argentina. Melhor para o turismo brasileiro. Aproveite.

Comparação Entre Leica D-Lux4 e Sony RX1R

packshotALERTA: o artigo a seguir é uma insanidade se visto exclusivamente pelo aspecto técnico. É como comparar uma lambreta com uma Harley Davidson. Só faz sentido pelo lado emocional. Releve.

Adoro fotografia. Mas também tenho a seguinte opinião: quando o desconforto de transportar o equipamento é maior do que o prazer de fotografar, algo está errado. Por isso, nunca tive câmeras SLR, lentes, mochilas, tripés etc. Eu fotografo em viagens, em casa, em passeios em geral, por isso faço questão de ter uma boa câmera compacta, com o máximo da qualidade possível e com possibilidade de controle 100% manual. Já Tive uma Leica Digilux 1 e uma Leica D-Lux 4. São máquinas com a excelência óptica desta famosa marca alemã e com eletrônica da Panasonic. Ambas possuem também equivalentes tecnicamente idênticas sob a marca Panasonic Lumix (a exceção do design). Porém, sempre deixaram a desejar no quesito ruído com pouca luminosidade. Com o lançamento da Sony RX1 — a única full-frame compacta do mundo até agora — minha ansiedade começou a incomodar. Eu teria que trocar as lentes Leica pelas Carl Zeiss, além do design que sempre fui apaixonado. Ostentar a marca Sony ao invés do charmoso distintivo vermelhinho da Leica também me dava certo desconforto. Mas, convenhamos, vaidade não imprime no resultado final das fotos. Decidi, então, investir como nunca em um equipamento fotográfico. Em maio comprei a Sony Cybershot RX1R (aperfeiçoamento da RX1, sem filtro lo-pass). Confesso que o nome “Cybershot” me dá calafrios.

Sempre quando se troca de câmera, há um período de adaptação, com os controles, funções etc. No meu caso, isso não é o principal problema. O que mais está pegando até agora é a diferença das distâncias focais (“lentes”, para ser mais direto). A da D-Lux 4 é equivalente à 24mm. A da RX1R é 35mm. É bem estranho, depois que se acostuma com a versatilidade da 24mm ter seu quadro reduzido. Por esse motivo, comecei a desconfiar que minhas novas imagens não estavam melhores que as antigas. Cheguei a imaginar até que a superioridade óptica da Leica comparada com a Carl Zeiss era tamanha, que compensaria a diferença do tamanho do sensor. Só que é bem difícil acreditar nisso. Em primeiro lugar as lentes Leica podem até ser melhores que as Carl (isso é bem subjetivo), mas não seriam tanto a esse ponto. Em segundo, um sensor (CMOS) full-frame 36mm x 24mm (como o da RX1R) é 18 vezes maior do que um 7,85 x 5,89mm (como o da D-Lux4). Traduzindo: covardia total.

Eu decidi tirar a prova e fazer testes práticos comparativos. Fui a campo com as duas câmeras e tentei fazer fotos mais parecidas possíveis. As diferenças dos sensores e distâncias focais, tentei compensar com o zoom e diafragma. Assim a profundidade de campo e enquadramento poderiam ficar mais equivalentes nas fotos. Não tive 100% de sucesso, mesmo assim, ainda são válidas e gritantes as comparações.

As imagens foram feitas na resolução máxima das duas 24MP da Sony e 10MP da Leica. Sendo assim, precisei ressamplear os 6000px de largura da Sony para os 3648px da Leica. Então, criei um arquivo full-HD (como a maioria dos monitores) onde coloquei cropando as imagens para que ficassem em 100% de ampliação (ou seja, pixel a pixel) para ter uma comparação máxima, sem mexer no tamanho dos pixels.

Creio que é desnecessário concluir qualquer coisa, as imagens abaixo falam por si. A única coisa que posso dizer é: mesmo a Sony se saindo melhor, o que as lentes Leica conseguem com um sensor daquele tamanho, é quase um milagre. Um dia ainda terei um Leica full-frame compacta. Quando ganhar na Loteria.

(Para melhor comparação, clique a seguir nas imagens reduzidas para abrir em tamanho full-HD e salvar em sem computador.)

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E Se Eu Não Pensasse “E Se”?

E se eu reduzisse a quantidade de leite ao invés de aumentar o Toddy?
E se eu misturasse cacau em pó no Toddy para ficar menos doce?
E se eu usasse só cacau e colocasse açúcar?
E se eu fosse diminuindo o açúcar até o ponto de ficar quase ruim?
E se eu diminuísse mais um pouco o leite, para ficar mais doce?
E se eu bebesse o leite só de dois em dois dias?
E se eu tomasse só no fim de semana?
E se fosse só uma xícara, daquelas bem pequeninhas?

E se tomasse do jeito que eu gosto, na quantidade que eu gosto, e começasse a fazer exercícios pra valer?

E se eu não fizesse mais exercícios e diminuísse de novo a quantidade de leite ao invés de aumentar a de Toddy?

Brasil 1 x 7 Alemanha — Uma metáfora para a vida

futebol_rua[1]Não se ganha respeito na vida simulando pênalti.
Não se encara desafios de chuteira dourada.
Vitória se faz com competência.
Não há conquistas solitárias. Somos um time.
Ninguém vence por antecipação.
Deus não tem nada a ver com um jogo de futebol, com o sucesso ou o fracasso.
Não é porque você chora que tem razão.
Você não merece mais que ninguém, principalmente quando se quer ganhar pela sexta vez.
O seu país não é melhor que nenhum outro, muito menos dos melhores de fato em todas as instâncias.
O futebol não é a vida. A vida não é o futebol.
Apesar da patrocinar a metáfora.

Passagens

canstockphoto0232824Sábado. Vento norte. Porto Alegre, Aeroporto Salgado Filho, Terminal 2, terraço. Michel, 35 anos, observando a pista é abordado por um conhecido.

— E aí, Michel?
— Beleza, cara?
— Beleza.
— Tá vindo direto aqui?
— Não… Só aos sábados. Tô trampando.
— É… Eu também.
— Visse que o horário do Felipe passou para às 10h?
— Vi. Os pilotos estão todos refazendo a agenda. Deve ser por causa das mudanças dos voos, pra Copa. Mudou tudo.
— Deve.

— E o avião novo aquele?
— Legal, meu. Bem joia!
— Tem um ronco mais constante, puxado pro grave, mas com uns ra-ta-tás específicos… Sei lá. Trilouco.
— É. Um som lindo, diferente. Nem parece Boeing.
— Fotografei e mandei lá pro grupo. Colocaram na capa!
— Poxa, que tri!
— Ficou show mesmo. E os caras de São Paulo se puxam nas fotos, então, fiquei felizão!
— Vou ver depois. Ainda não entrei hoje.

— Tá boa a luz hoje, né?
— Céu de brigadeiro.
— É isso aí. Pode crer.

Meia hora depois, Michel senta em um banco, olhando para a pista. Uma senhora já de idade senta junto, na outra ponta, e não contém o entusiasmo.

— Olha, olha, olha…
— Subiu bonito, né?
— Uma pluma… Para um A330…
— É mesmo… A senhora está esperando alguém?
— Não, tô só a passeio. E tu?
— Também.


— Este voo é novo?
— É.
—Sabe que eu gostava mais na época da Varig, da Transbrasil, da Vasp…
— A Vasp era massa, né?
— Todas eram. Época boa que não volta mais.
— Era outro clima… Mas depois de toda a politicagem que fizeram…
— É?
— Pô, cheio de gente graúda envolvida e os caras tentando abafar os escândalos.
— Que coisa séria…
— E os funcionários chupando dedo… Sacanagem…
—Sempre estoura do lado mais fraco.

Ele levanta e, por uns 15 segundos, analisa o monitor de chegadas e partidas. Volta pro lugar.

— Eu agora tô juntando dinheiro…
— É?
— É. Quero ver se eu viajo também.
— Isso é uma coisa boa!
— É, né? Deve ser.
— É bom. É bom, sim.
— Pois é…

Por mais 15 minutos os dois ficaram olhando a pista, até decolar o próximo. O tempo começou a fechar. Michel novamente foi ver o painel de voos e a senhora foi embora. Não se despediram. O vento mudou para noroeste.

Ninguém Sabe Nada de Câmbio — Parte 2

Há algum tempo escrevi sobre câmbio, entre outras coisas, falando sobre o mito do dólar turismo, oficial etc. Leia aqui.

Agora, pesquisando sobre a opção mais econômica para viajar, resolvi fazer uma pesquisa com as bandeiras de meus cartões de crédito, opções de travel cards e dinheiro vivo. Você não pode esquecer que, para qualquer transação internacional com cartões, sejam eles do tipo forem, hoje em dia há a incidência de 6,38% de IOF. Ou seja, mesmo débito, crédito ou travel card (que não deixa de ser um cartão de débito), o imposto será cobrado.

Liguei hoje para meus cartões, casas de câmbio, meu banco para a STB (que gera travel card também) e consegui as seguintes cotações (da pior à melhor):

Travel Card STB — 2,37 + IOF = 2,52
Travel Card Banrisul (R$ 10,00 a recarga) — 2,33 + IOF = 2,48
Visa, Santander — 2,32 + IOF = 2,47
Mastercard, Dotz (Bradesco) — 2,31 + IOF = 2,46
Mastercard, Banrisul — 2,21 + IOF = 2,35
Cash (casa de câmbio mais barata) — 2,33

Isso significa que a forma mais econômica é mesmo em cash. Porém, não é a mais segura. Então, aconselho, claro, levar dinheiro vivo, mas ter sempre uma ou duas opções de backup. Dinheiro em mãos e travel card também são formas de não haver surpresas com o câmbio, já que o valor do dólar no cartão de crédito é determinado no dia da emissão da fatura e corrigido no dia do pagamento. A diferença vem na fatura seguinte. Encarar o cartão de crédito como um seguro também é um ponto de vista — se você for roubado ou extraviar o bichinho, basta avisar o banco a tempo para bloquear. Já com dinheiro, não há milagres.

Dicas Sobre Visto Americano

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Quando este post foi escrito, o consulado de Porto Alegre não fazia o processo completo. Agora já faz. Mas o post continua válido para quem optou por São Paulo.

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Conseguir visto de turista para os Estados Unidos não é empreitada simples. Mas o país vem tomando medidas para facilitar o processo da solicitação no Brasil. Horas e horas perdidas nas filas dos consulados e CASV (Centro de Auxílio ao Solicitante de Visto) foram reduzidas drasticamente em 2014. A necessidade de movimentar a economia americana e, acredito, até a própria arrecadação com a taxa cobrada (US$160), são os motivos mais evidentes. Só em 2013, 800 mil brasileiros ingressaram com pedido do visto norte-americano. Cerca de 740 mil foram concedidos. Faça as contas. Quase US$130 milhões não é uma receita desprezível para a operação consular no Brasil.

Se você tem intenção de solicitar o seu, aconselho contratar um agente. Por cerca de R$150, ele fará toda a parte burocrática junto ao consulado e lhe dará dicas precisas. Bem orientado e amparado, você conhecerá todos os riscos de receber um não e poderá ponderar se os Estados Unidos será realmente o destino das suas próximas férias. Lembro que a Europa não precisa aprovar previamente a ida de brasileiros para lá.

Não se engane: o custo do processo não restringe-se aos US$160 da taxa e os R$150 do agente. Só há consulados em Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo e você deve permanecer dois dias em uma dessas cidades. Porto Alegre abriu em março deste ano uma agência consular que permite realizar a primeira parte do processo, que é a coleta das digitais e o registro fotográfico, bem como a renovação integral após a validade de 10 anos. No meu caso, o agente aconselhou fazer tudo em São Paulo, tanto por já estarem acostumados como pela recente e não experienciada operação em Porto Alegre. Concordamos, pois tínhamos pressa e não queríamos correr riscos de imprevistos.

Outra possibilidade era fazer em Montevidéu, mais perto da minha cidade que São Paulo. Porém, precisaria voltar para retirar ou ter alguém que o fizesse pra mim. Muita função. Optei mesmo pela capital paulista.

Os únicos documentos realmente necessários são o passaporte, os recibos de pagamento e preenchimento do formulário DS-160, o agendamento do CASV, do consulado e comprovantes de renda e de dinheiro em conta para a estadia. Mas você pode ser solicitado, durante a entrevista, a provar as respostas dadas no formulário preenchido. Então, é aconselhável levar diplomas da escolaridade, passaportes anteriores, carteira de trabalho ou contrato social (se tiver seu próprio negócio), escrituras de imóveis, documento de posse de veículos etc. O que pega é: você tem que provar que tem vínculos fortes no Brasil para não querer ficar por lá clandestinamente e que tem dinheiro suficiente para manter-se pelo período pretendido. Não há regras certas e sabidas para seu visto ser ou não aprovado. Podemos supor que estudantes que não pagam seus estudos com recursos próprios, pessoas desempregadas ou com salário abaixo de certo nível, sem bens, sem filhos e, principalmente, que demonstrarem nervosismo na entrevista, têm mais chances de serem reprovadas. Lembrem-se: eles querem você lá para consumir e não para ser consumido. Por outro lado, excesso de dinheiro pode configurar que você não pretende voltar.

O primeiro dia, no CASV, no Alto de Pinheiros, com a data e a hora previamente agendadas pelo site, é muito tranquilo. Não precisa chegar uma ou meia hora antes, como muita gente sugere. O sistema é de primeiro mundo. Por outro lado, não esqueça que você está em São Paulo e qualquer deslocamento é uma incógnita de tempo. Meu horário (e de mais umas 30 pessoas) era às 14h30. Como cheguei às 13h30, fiquei quarando no sol, em frente ao prédio, junto com outros brasileiros-que-adoram-uma-fila. Pontualmente, às 14h30, chamaram os do horário. A fila desformou-se, pois ali estava gente das 15h, das 15h30… E formou-se outra apenas com os das 14h30. A entrada foi rápida. Em dez minutos já haviam coletado minhas digitais e feito a foto. Saí às 14h40! Ou seja, se eu tivesse chegado às 14h25, teria levado, no máximo 20 minutos entre fila e coleta. Depois brasileiro fica reclamando da vida. Quem complica é ele próprio. Atentem-se que é proibido entrar com malas e eletrônicos. Celulares são permitidos desligados. Existem guarda-volumes que te cobram R$10 por peça. Foi o que fizemos, já que ir ao hotel para deixar as malas nos atrasaria, além de ser mais caro.

No dia seguinte, foi a entrevista, marcada para às 12:40, esta no próprio Consulado Geral dos Estados Unidos, no Morumbi. Aqui, a organização de entrada do CASV não se repetiu: bastava chegar para ser recebido e entrar na fila interna. Chegamos às 12h e saímos pelas 14h30. De fato, a fila só existia dentro do consulado porque era permitida a entrada das pessoas que chegavam antes do horário. É tipo dia de recebimento de aposentadoria: os velhinhos chegam às 7h e o banco só abre às 11h; com fila formada leva mesmo muito mais tempo do que se fossem chegando aleatoriamente (ou agendadamente) e sendo atendidos. Na revista, as pessoas entram de quatro em quatro. Há um detector de metais tipo porta e outro portátil, tipo raquete. Todos passavam pelos dois. O segurança, antes mesmo de eu cruzar pela porta, me liberou do portátil. Só a mim. Não entendi o motivo e brinquei com minha esposa: “sou do tipo confiável, viu?”

A entrevista foi tranquila. A moça que nos atendeu era simpática. O diálogo foi assim:

MOÇA — Boa tarde.
EU — Boa tarde.
MINHA ESPOSA — Boa tarde.
MOÇA — Para onde vocês vão?
(Em alguns casos, minha esposa respondia junto, um meio atropelando o outro. Isso não é aconselhável caso o entrevistador seja mal-humorado. No nosso caso, não prejudicou e, talvez, ainda tenha dado a confiança a ela de que estávamos falando a verdade; respondíamos em uníssono).
EU — Nova York.
MOÇA — Já foram outras vezes?
EU — Não.
MOÇA — Vocês vão sozinhos?
EU — Vamos com um casal de amigos.
MOÇA — Eles já têm visto?
EU — Já
MOÇA — O senhor já viajou para fora do país?
EU — Sim.
MOÇA — Pra onde?
EU — França, Inglaterra, Suíça, Andorra… (não por que me lembrei de Andorra antes dos outros lugares).
MOÇA — E a senhora?
MINHA ESPOSA — Também. França, Inglaterra, Alemanha… A gente foi na Alemanha, né? Não lembro direito. Faz tempo.
(Sim, a gente foi na Alemanha, mas nessa hora fiquei preocupado se a hesitação de minha esposa poderia comprometer algo).
EU — Tenho os passaportes anteriores aqui. Gostaria de ver?
MOÇA — Não é preciso. O que o senhor faz?
EU — Sou publicitário, tenho uma agência de propaganda.
MOÇA — Senhora, o que você faz?
MINHA ESPOSA — Eu também. Sou publicitária/empresária. Tenho uma agência. Sou sócia dele.
MOÇA — Há quanto tempo existe a empresa?
EU — 18 anos.
MINHA ESPOSA — 19 anos.
EU — É. 19, este ano. É de 1995.
MOÇA — Seus vistos estão ativados. Neste folheto tem instruções de como irão recebê-los no endereço indicado. Uma boa viagem.
EU — Muito obrigado. Boa tarde.

Nenhum documento foi solicitado. Nenhum! Tinha levado uma pasta cheia deles. Isso não quer dizer que você não deva levar. Leve tudo e um pouco mais. Nunca se sabe com que ponto da sua vida irão encrencar.

Depois dessa experiência, de ter presenciado algumas entrevistas enquanto aguardávamos nossa vez e de ter lido relatos de outras na Internet, tenho percepções próprias sobre o processo de aprovação, que todo mundo diz ter muito de incógnita. Não concordo tanto com esta afirmação. Existem pontos que podem acender o sinal amarelo no entrevistador que, então, fará perguntas mais complexas e específicas. Por exemplo:
— os dados preenchidos no formulário, como se você é estudante, quem vai pagar sua viagem, sua renda…;
— as respostas que você dá, como sobre se vai viajar sozinho ou não;
— idade, estado civil;
— seu nervosismo.

Eles devem ser treinados para desconfiar até da sua aparência. Qualquer sinal amarelo abre um leque de perguntas.

Minha dica é a seguinte: nunca minta, nem no formulário, nem na entrevista. Se você desconfia que há possibilidade de não ter perfil para ter o visto aprovado, não o solicite o visto americano; mude seu destino, vá para a Europa! É alto o custo do processo como um todo para dar com os burros n’água. Com a grana, você pode incrementar bastante sua viagem em outro destino.

Na rua do consulado há cafeterias e pequenos bistrôs. Parecem estar ali justamente para os candidatos a visto e seus acompanhantes que não podem entrar junto. Ou seja, você não ficará com fome, nem seu amigo que foi junto estará ao relento no sol ou chuva. Há também guarda-volumes para deixar malas, bolsas e celulares que, aqui, não são aceitos nem desligados. Não pegue o primeiro que lhe for oferecido por um vendedor há 50 metros de distância. Esses custam R$10 por volume. Bem em frente ao consulado custam R$5. Sacou que eu paguei R$10, né?

Espero ter ajudado.

Boa viagem.

Uma Experiência Sonora a um Preço Aceitável

marshall-headphones-xl[1]Não podem ser bons. ‘Marshall’ é amplificador de guitarra! Esses fones de ouvido devem ser fabricados por outra empresa que paga royalties pelo uso. Por outro lado, uma marca tão consagrada não permitiria fazerem merda com seu nome.” Fiquei matutando enquanto via muitas pessoas usarem fones de ouvido externos (daqueles grandes) no metrô. É tipo uma febre. Todas as cores, todos os modelos. Usavam dos mais convencionais — Philips, Sony etc. — passando pelos médios — Marshall, Beats Dr Dre — até os mais caros e profissionais — Sennheiser, AKG, Bose… Sempre achei exagero usar esses fones na rua, tanto pelo tamanho como pela pouca praticidade. Só que de tanto ver, fiquei influenciado a testar em uma loja de departamentos.

Lá estavam cerca de 20 modelos, dos mais baratos ao médios, enfileirados para audição. Bastava plugar seu mp3-player, degustar cada experiência e decidir qual comprar. Coloquei o disco que eu mais gosto e comecei pelo mais caro, um Beats Dr. Dre de €399. Trinta segundos foram suficientes para não me empolgar muito. Definitivamente, não era o disco que eu conhecia. Graves exagerados e inexistentes, frequências inventadas e outras reduzidas sem critério. Sim, o mais chinfroso de todos era uma fraude. Só design e ostentação. Fui para o segundo mais caro: outro Beats Dr. Dre, agora de €199. Mesma coisa. Também, não poderia ser melhor do que o mais caro. Só que o terceiro era o tal Marshall Major Black, que aguçava minha curiosidade no metrô. Custava €100. E adivinha. A música veio, como nunca! Todas as frequências perfeitamente balanceadas, sem excessos. Tudo no lugar onde deveria estar mas, ao mesmo tempo, surpreendendo. A música que conhecia há mais de 10 anos, veio em uma experiência nova, muito mais perfeita. Nada se perdeu. Nada foi estupidamente amplificado para causar o efeito artificial do grave absurdo. Veio um grave lindo, um médio robusto, um agudo sublime. Som puro. É claro que comprei.

Fiquei tão empolgado que, ao chegar no apartamento, escutei todos os álbuns que havia levado comigo, sedento por novas descobertas, ansioso para saber como eles soariam agora. Tinha a certeza de experimentar, pela primeira vez uma sonoridade muito mais próxima ao que o produtor e artista do disco desejaram que fosse escutada. O isolamento externo também era excelente. Fiz todos que estavam comigo escutarem também, tamanha a alegria da descoberta. Em minhas incursões de gravações musicais caseiras, ele se mostrou muito mais fiel do que um Sony que se diz “monitor de estúdio” que tenho. Os erros são mínimos quando estou mixando com ele.

Marshall-Monitor-Headphones-2[1]O único senão é o tamanho das almofadas. São pequenas e quadradas. Pegam minhas orelhas no meio. O que, em conjunto com as hastes dos óculos, causam certo desconforto. Mas nada que um reposicionamento e uma massageada nas cartilagens auriculares não resolvam. Mas a Marshall lançou um modelo novo (foto ao lado), chamado Monitor Black, com as conchas maiores, cobrindo toda a orelha. Devem resolver a questão. Estou louco para experimentar.

Estava há meses para fazer esse review. Foi agora, na correria. Isso aconteceu em outubro de 2012.

A Loja de Uma Coisa Só

Frederico Uribe

Quem nunca teve vontade de mudar radicalmente aquilo que faz como profissão; escolher algo totalmente inverso, que não tenha as complicações e implicações de nossos trabalhos diários? Eu já.

Em um desses meus devaneios, penso em abrir algum comércio especializado em um único tipo de produto. Por exemplo, uma loja focada em fósforos, ou em pregos, ou em pentes. Algo assim, à primeira vista, bem ridículo, mas que quando alguém precisasse lembraria direto como o melhor local para comprar. O nome seria bem objetivo, como “Casa dos Pregos”, “Só Fósforos”, “Cuca Pentes”. A Casa dos Pregos não teria parafusos, no máximo martelos. A Só Fósforos jamais venderia isqueiros. Seria contra nossos princípios. E a Cuca Pentes até poderia ter escovas, mas nunca tesouras, muito menos xampus ou secadores de cabelo.

E não é que passando de carro pela Andrade Neves, próximo ao Mercado Central, avistei uma “Só Cadarços”? Meus olhos brilharam. De imediato, o primeiro impulso foi pedir emprego. Já imaginei cadarços de todas cores imagináveis, em colunas cromáticas como uma imensa tabela Pantone. A realização do meu sonho de ser bibliotecário. Modelos fosforescentes, dourados, prateados, furta-cor, zebrados, onçados, tigrados, listrados, peludos, com LED e pilhas, que amarram sozinhos, elásticos, de nylon, curtos, longos, médios, médio-longos, médio-curtos, para cano alto, cano baixo, sem cano, folhetos explicativos com diversos tipos de nós, uma para cada ocasião. Não parei para conhecer, mas minha cabeça foi longe.

Visualizei meu primeiro dia de trabalho na Só Cadarços, 8h30, todo empilhado, pronto para atender o primeiro cliente:

— Tem cadarço?

É… Talvez eu não esteja ainda preparado para tamanha evolução espiritual.

Senhas Diferentes, Simples e Fortes

Este artigo foi escrito há 5 anos e precisa de uma atualização que faço agora, 23/03/2019, baseada da dica de um amigo especialista em segurança no mercado financeiro.

No post original dou exemplo de palavras pequenas, mas não se contente com elas. As ferramentas de hackers as quebram muito rapidamente. Hoje em dia, os sistemas mais atuais permitem o uso de senhas longas. Então, prefira frases complexas, como “minhamãemandoueuescolherestedaqui”. Pode ser um frase de um filme, versos de um poema ou, melhor, algo maluco tirado de sua cabeça. Segue o artigo original…

Vou deixar a introdução de lado. Não é preciso explicar por que é importante ter senhas fortes, seguras e diferentes para cada tipo de serviço. Só que é um saco administrar uma infinidade delas. Por isso, desenvolvi um método (acredito que não inédito, mas, sem dúvida, não corriqueiro).

Pense numa palavra ou expressão que seja significativa para você, como o nome de um filme, de uma banda (de preferência que você não tenha a camiseta). O bom é que não seja o nome puro, mas uma mistura maluca da sua cabeça, por exemplo: “starsimpsons”. Esqueça os nomes de seus filhos, sobrinhos, parentes. São óbvios demais. Pense também em um conjunto de números, uns quatro está bom (que não seja de datas de aniversários, número da casa, nem algarismos sequenciais como “1234” ou repetidos “1111”). Pegue dois do início do número de sua casa e misture com seu número da sorte, sei lá. Você terá uma coisa como “starsimpsons2307”. Alguns sites exigem que você tenha números, letras minúsculas e maiúsculas. Então, já estipule uma letra para ser a sua maiúscula, mesmo que não seja exigido. Exemplo o “P”: “starsimPsons2307”. Você também pode colocar esse número entre as duas palavras, ou colocar dois no começo e dois no final; fica melhor. Mas vamos tomar este exemplo para seguir.

Bom, agora, como ter uma senha diferente para cada site?

Imagine se suas senhas são todas iguais e roubam-na de um serviço. Todas suas contas ficam vulneráveis. Por outro lado, ter que memorizar uma para cada necessidade é inviável.

Se você vai fazer uma senha para o site Submarino, use o “S” do nome do site para substituir a letra maiúscula da sua senha. Fica assim: “starsimSsons2307”. E assim por diante. Se quiser ter uma segurança extra, sugiro que tenha dois padrões de senhas, um para serviços que envolvem dinheiro — como lojas online, bancos etc. — e outro para o resto — como Facebook, Twitter, aplicativos em geral.

O mais importante: lembre-se que senha salva é senha esquecida. Por isso, se você apertar o botãozinho de salvar senha nos sites e aplicativos, saiba de antemão que, quando precisar acessar de outro local, ou trocar seu dispositivo ou computador, você, certamente, não a recordará mais. Nunca salve. Também não recomendo que as anote ou use esses aplicativos de gerenciamento de senhas. Você não sabe de onde eles vieram e nem o que fazem com suas informações. Além do quê, você também pode perdê-lo em um bug da máquina ou device, bem como ter a senha de acesso a eles roubada.

Isso tudo que falei parece meio bocó, mas mudou minha vida. :)