O melhor de vir em um show destes não é ficar analisando como cada músico está tocando sua parte; se estão sendo competentes ou não. Eu não caio mais nessa furada de achar que música deve ser avaliada como um espetáculo circense, onde ficamos impressionados, ou não, com as habilidades dos malabaristas, com a ousadia dos trapezistas e com a flexibilidade da contorcionista. Eu vim pra ver a bailarina, que se move ao ritmo suave de uma linda e triste música de amor. Eu vim para ver e ouvir os caras que fizeram as músicas mais geniais e simples que ajudaram a mudar a minha forma de assimilação musical. Às vezes nem tão simples assim, mas sempre na medida da necessidade de sua expressão. Eu estou extasiado.
Além de tirar fotos, estou gravando em vídeo, com a própria câmera digital, partes de cada música, para não me esquecer depois do set list e ter um registro da vibração do momento. Não vai dar para trocar de cartão no meio dessas pessoas ensandecidas, então, preciso aproveitar a memória ao máximo sem desperdiçar espaço, pois tudo tem que caber nos meus 256mb. Eu ainda pretendo fazer um vídeo integral de toda a Across The Sea, quando eles tocarem. Pra mim, é a melhor música. Mas começa El Scorcho e eu não me contenho: filmo ela inteira.
Antes de o baterista largar a guitarra e voltar a seu instrumento, eles fazem uma improvisação programada, ao estilo da que aparece no DVD, só que aqui, os outros 3 vão para os tambores fazer barulho. É, acho que eles estão se divertindo. É o tipo de coisa que só quem toca se diverte, mas foi legal.
De repente eles saem do palco. Será esta a hora que se costuma fingir que o show acabou para esperar pelos pedidos de bis?
“Weezer, Weezer!”
Uma movimentação estranha no mezanino abaixo do meu (na ala VIP). Será que a banda está saindo por aqui? Não. É Rivers que pega o violão e se dirige a um elevado onda há um microfone. A luz do canhão ilumina o cantor e eu só vejo silhueta. Ele toca e canta Island In The Sun em uma versão ainda mais pacata. “Hip, hip”.
A banda volta ao palco, mas antes de começarem o bis, Patrick, ainda no microfone, pergunta ao público se alguém sabe tocar, na guitarra, Undone – The Sweater Song. Todos presentes respondem que sim. E agora? Como saber que está falando a verdade? O baterista aponta para um e o chama para o subir ao palco. Dão-lhe um violão. A música começa mas, de onde eu estou, não consigo distinguir muito bem o som que ele faz. Só sei que ele parece meio perdido no início mas, depois, pega o jeito e faz até chinfra com os outros. Naturalmente, ele se perde um pouco, novamente, na única mudança de harmonia que a música tem. Mas e daí? Imagina eu ali! Ia dar branco total também. De fato, ele se sai superbem e, no final, ainda se joga no chão junto com Rivers e o baixista. Esse guri nunca vai esquecer disso na vida. Ele fica assistindo o resto do show da coxia.
Apesar dos seus álbuns estarem cada vez mais populares e se distanciando da banda que me conquistou nos dois primeiros CDs (azul e Pinkerton), as 3 canções escolhidas do Make Believe empolgam e me fazem gostar um pouco mais do disco.
O show acaba com Surf Wax America. Os dois primeiros álbuns do Weezer têm somente 10 faixas cada – menos de 40 minutos. Eu costumava gravar os dois em MD, para ouvir em viagens. Mas era preciso tirar duas músicas para caberem em um só disco (na época, não existiam os MDs de 80 minutos). Eu eliminava sempre Surf Wax (do blue) e Why Bother (do Pinkerton). Hoje eu aprendi a gostar muito delas. Serviu como uma reserva especial. Depois de ouvir tanto os álbuns, elas foram duas músicas a serem descobertas.
O show acaba sem que toquem Across The Sea. Só para que eu tenha que ir vê-los outra vez, caso venham novamente ao Brasil – ou que eu esteja viajando por outras bandas. São cerca de 3 horas da manhã e eu não colocava nada na boca desde 5 da tarde. Eu lembro de ter visto uma banca de comida. Vou comer um cachorro-quente que anunciam em uma plaquinha como “dog”. Por que “dog” e não “hot dog” ou “cachorro-quente”? Descubro. É porque é frio e sem sabor. Mas pensando bem, que cachorro maravilhoso.
“I’ve got your letter. You’ve got my song.”
My Name Is Jonas (azul)
Tired of Sex (Pinkerton)
Don’t Let Go (verde)
In The Garage (azul)
This Is Such A Pity (Make Believe)
Big Me (Foo Fighters)
Perfect Situation (Make Believe)
Why Bother? (Pinkerton)
El Scorcho (Pinkerton)
Say It Ain’t So (azul)
We Are All On Drugs (Make Believe)
Good Life (Pinkerton)
Beverly Hills (Make Believe)
Buddy Holly (azul)
Photograph (verde)
Island in The Sun (verde)
Undone – The Sweater Song (azul)
Hash Pipe (verde)
Surf Wax America (azul)