Teresa é empregada doméstica. Trabalha na casa da Daurinha há cinco anos. Daurinha é uma jovem senhora, professora aposentada. Ambas mantêm excelente relação profissional calcada na cordialidade e no respeito.
A legislação trabalhista para as domésticas não é lá muito generosa com a categoria em termos de carga horária diária, fins de semana e feriados. Mas Daurinha é moderna. Antes da lei vem o bom-senso.
Teresa é ótima empregada; Daurinha é ótima patroa. Uma assina carteira; outra cumpre os horários. Paga sempre em dia; cozinha sublime. Não exije trabalho aos sábados; nunca faltou. Ou seja, não têm o que reclamar uma da outra; e vice-versa. Mesmo em suas pequenas diferenças, se entendem.
Quando a questão é sobre esses feriados não-feriados, como vésperas de Natal e Ano-novo, Daurinha sempre fica chateada em pedir para funcionária vir e Teresa constrangida em perguntar. Na eminência da segunda-feira de Carnaval é a mesma coisa, apesar de saber que nem terça é feriado oficial. Daurinha fica treinando como falar:
— Teresa, segunda podes vir trabalhar? — Não, muito pidão. Parecerá que não se trabalha segunda.
— Teresa, tuas amigas vão trabalhar segunda? — Também não. Onde se viu basear as decisões no comportamento das outras patroas? Depois abrirei precedentes e já viu…
— Teresa, não esquece que segunda se trabalha. — Muito autoritário. Não é do meu feitio. Parecerá que acho que ela não sabe. Que tal algo que misture ordem e pergunta para quebrar o rigor?
— Teresa, trabalha segunda, né? — Mas só confabula.
Teresa fica na passiva. Se Daurinha não falar nada, decidirá se vai ou não. Mas se a patroa disser algo, não terá opção.
Sexta, na hora de ir embora, já com a bolsa em punho, vibrando que nada foi dito ainda, Teresa despede-se mas mete os pés pelas mãos.
— Tchau, Dona Daurinha. Até segunda. — Putz, falei errado. “Segunda”, não!
— Até segunda, Teresa! — Ufa!