Quero uma pedra no rim. Quero sair do trabalho, no final do dia, sentindo um desconforto abdominal. Quero sentir a sensação aumentar enquanto dirijo pra casa. Quero chegar com uma dor muito forte. Quero pedir para minha mulher “coloca a chaleira no fogo e me traz uma bolsa de água quente. Tô com pedra no rim!”.
Quero vestir o pijama com esforço e velocidade desajeitada, para me deitar o quanto antes possível. Quero sentir o calor reconfortante da minha cama, mesmo que não consiga permanecer quieto sob o edredom. Quero sentir o alívio de uma dor superinsuportável passar para somente uma insuportável — “ai, que bom…”. Quero um beijo carinhoso.
Quero sentir o queimar se movimentar lentamente do rim à bexiga. Quero andar pela casa vigorosamente, para fazer a pedra descer, acompanhado de minha filha de três anos que imita soldado atrás de mim, dá risada e, agora, menos preocupada, me faz tirar um sorriso não sei de onde.
Quero tomar muita água, encher o copo muitas vezes, ir ao banheiro outras tantas — “sai, desgraçada!”. Quero urinar sangue. Quero um reike amoroso e um cafuné inocente. Quero ficar bom, mas só duas horas de dor até que não é tanto. Ao lado de minha filha que dorme, quero conversar com minha mulher sobre a vida, fazer planos para o futuro me sentindo renascido. Quero acordar no dia seguinte com uma voz de criança perguntando “melhorou, papai?”. Quero uma pedra no rim todo dia 27, pelo menos.
Tive, ontem, minha quarta cólica renal. A segunda do lado direito. E foi maravilhoso.
“afudê” taí o segredo ;)
Que baita texto, Cuca. Melhorou 1394873% o meu dia.
Puxa, este número todo aí é capaz de quebrar um pequeno país. Eehehe. Obrigado. :)
Eu tive 3 cólicas renais com a mesma pedra. Conta? Contando ou não, tive um tratamento bem parecido com o teu – depois que voltei do hospital. :) Abraço
Quero a sorte de um amor tranquilo assim.