Era uma vez um vendedor de cestos de vime. Ele vivia viajando, de vila em vila, com sua charrete cheia de produtos. Certo dia, quando atravessava uma ponte sobre um pequeno córrego, ouviu uma voz lhe chamando: “olá?”. O vendedor ordenou que seu cavalo parasse, olhou para um lado, olhou para o outro mas não viu ninguém. Resolveu prosseguir viagem, mas antes que chacoalhasse as rédeas de seu animal, ouviu outra vez o chamado: “olá?”. O homem ficou pasmo. De onde viria aquela voz? Parecia estar tão perto, mas não via ninguém. Parecia vir de baixo da ponte e, então, resolveu debruçar-se sobre ela e averiguar se, ali, algum sem-afazeres estaria escondido, querendo rir do seu infortúnio. Mais uma vez, não encontrou nada. Começou a ficar temeroso. Seria um mau espírito que proferira aquele chamado? Não. Certamente que não, pois o som era suave. A não ser que a alma penada estivesse tentando aparentar coisa que não era. Definitivamente, não. Até porque não acreditava em coisas do outro mundo. Só que, de repente, quando se levantava da ponte para retornar sua viagem, avistou um pequeno peixe no rio. Era um bichinho amarelo, com a cabeça para fora d’água. “Posição estranha para um peixe”, pensou, e logo ouviu ele falar: “olá?”. “Santo Deus!”, exclamou. “É o peixe que está falando!”. “Olá?” Indagou novamente o bichinho. “Quantas vezes mais precisarei chamar?”. O vendedor, apesar de perplexo com aquela situação surreal, resolveu, mesmo incauto, responder:
– Olá! Você fala?
– Não. É uma alucinação – falou irônico.
– Engraçadinho. Então, me diga, o que você deseja?
– Eu gostaria de pedir para o seu cavalo fazer menos barulho com suas patas. Estou tentando dormir.
– Ah, por favor. Eu tenho trabalho para fazer; cidades a visitar; cestos a vender. Você interrompeu minha viagem para isso?
– Não, claro que não. Não vê que estou a ludibriar de sua perplexidade.
– Então, fale logo, que preciso prosseguir.
– Vou lhe fazer três perguntas, se você acertar duas, pode seguir viagem. Mas se errar duas, sua jornada se encerrará por aqui.
– A-rá-rá – riu o viajante – Até parece que um peixinho irá me deter.
– Você tem medo das minhas perguntas?
– Não. Muito menos da sua ameaça.
– Então, aceite o meu desafio.
– Está aceito. Mas seja breve que meu tempo urge e já está anoitecendo.
O peixe deu um mergulho e voltou à superfície com a primeira pergunta:
– Qual o seu nome?
– Hein? Esta é a pergunta? Você acha que eu não sei o meu nome?
– Apenas responda, por favor.
– João, O Vendedor. Não vai dizer que eu errei, não é?
– Não. Parabéns. Você acertou a primeira pergunta.
– Vamos logo para a segunda, preciso acertar para prosseguir viagem.
O peixe mergulhou novamente e voltou com a segunda questão:
– Qual o nome da próxima cidade em sua rota?
– Si…
O vendedor, abriu a boca para responder mas hesitou. Sabia que o nome iniciava com “Si”, mas não se lembrava se era “Sinar”, “Sigrer” ou “Siletus”.
– E agora, meu Deus? Como fui esquecer?
– Fale logo, homem, não estás com pressa? – indagou o peixe.
– Ã… Ã… Sinepe. Disse.
– É, meu amigo. Você errou. A cidade é Sinate. Você não sabe nem pra onde está indo?
– Claro que sei.
– Errou novamente – disse o peixe. Você não deveria ser tão apressado em responder. Essa era a terceira pergunta…
– Mas você nem mergulhou…
De repente, o peixe deu um pulo para fora do córrego, sua boca ficou gigantesca e ele engoliu, de uma só vez, vendedor, charrete, cavalo e cestos. O peixe reduziu de tamanho e mergulhou novamente no lago. Cinco minutos depois, outro vendedor de cestos atravessava a mesma ponte, quando ouviu lhe chamarem: “Olá?”
Sei que sou suspeita, mas, de verdade, adorei o teu texto. O teu pai tem razão, deverias fazer a Oficina de Criação Literária. Darias um golpe até na professora. La fontaine que se cuide.
Menos, mãe. :)