Esquecera de algo muito importante. A pouco começaria o show. Tinha que resolver urgente. Abandonou o lanche e saiu em disparada. Era responsável pelos efeitos sonoros e vídeos no telão. Tudo era computadorizado; entrariam automáticos. Mas uma coisa não lembrara de fazer. Lapso, falha, bobagem, porém, seria vergonhoso. Precisava chegar logo ao backstage e corrigir! Cerca de 300 metros até a lona de espetáculos, só que a feira estava lotada – era fim de semana. Se não conseguisse, daria tudo errado. Nunca o perdoariam. Tropeçou no carpete do corredor principal. Quase caiu. A moça bonita do estande de tapetes riu. Não ruborizou por pura falta de tempo. Seguiu no trote.
Todo o show era perfeito. Toda noite, irrepreensível. Os músicos, dos mais talentosos. Os bailarinos, elogiadíssimos. O melhor iluminador estava na trupe. O engenheiro de som era de renome. Já tinha feito mesa até para o Jethro Tull, na década de 70. Um novato falharia? Alguém que ganhara chance na equipe por indicação de um amigo em comum com artista? Muitos apostaram silenciosamente que sim.
Esquivou-se do casal, pulou sobre a lixeira, esbarrou na senhora de bengala – “perdão”. Correu tudo que pode. De longe viu que as luzes apagaram. Ouviu o público gritar excitado. Começou. “Corre!”. Driblou os fotógrafos. Mostrou a credencial ao segurança. Avistou o computador. Esticou o braço em direção ao mouse como o Homem Elástico. Mas antes de alcançá-lo, escutou das caixas de som, rasgando-lhe o coração e os tímpanos da plateia: “as definições de vírus foram atualizadas”.
Amaldiçoou todo e qualquer freeware e pôs-se a chorar.
AhahahHAHAHHAHhhahah