É comum, na entrada do supermercado, entidades assistenciais entregarem folhetos pedindo doações de alimentos. Sábado, recebi mais um, amarelo. Dei alguns passos e levei aos olhos para ler. Estava em branco, dos dois lados. “Uau!” O que aquilo queria dizer? Comecei a viajar.
Que eu devia fazer um exame de consciência e agir da melhor forma possível com relação ao mundo, minha cidadania etc.? Que legal. Uma ação de inspiração artística com função reflexiva. Que nível de eficiência poderia ter?
Que se tratava de uma instituição de deficientes visuais, ludibriada pelo pessoal da gráfica ao receber seus impressos em branco? Mas quem teria a coragem de enganar um ceguinho?
Que, como a ação em supermercados é sempre para arrecadação de alimentos, não é necessário mais imprimir o apelo, basta repetir o gesto? Futuramente, nem folhetos mais seriam necessários, apenas a presença dos voluntários.
Na saída, reparei no calhamaço de onde eram distribuídos. Não estavam em branco, não. Tratava-se de material do Banco de Alimentos, com a arte tradicional. O que recebi, em branco, estava perdido entre os demais.
Poxa! Que decepção.