Meu sogro não é de Pelotas. Não conhece nada aqui. Está nos visitando por um mês. É um “italionon” de 82 anos e marca-passo. Após o almoço, pediu para deixar-lhe no Centro quando eu fosse trabalhar. Precisava ir à Caixa Federal da XV e cortar o cabelo. Depois, queria dar uma volta, caminhando sozinho, conhecer o lugar. Anotei o endereço do trabalho, os números dos telefones e dei para colocar no bolso. Pedi que mostrasse seu aparelho celular. Peguei, testei, aumentei o volume da campainha ao máximo e devolvi. Ao largá-lo na esquina do Aquário, indiquei: “a agência é pra lá”. Fui embora.
No meio da tarde, apareceu de volta com cabelo cortado e um livro novo do Augusto Cury — autor que gosta. Deu tudo certo.
À noite, jantando uma bela sopa, que ele mesmo fez, contou onde foi cortar o cabelo. Alguém indicou o Mercado Público sem saber que está em reforma. Foi até lá em vão, mas acabou encontrando o local provisório — aquele buraco fétido na quadra da Khautz pela Andrade.
— É… É um lugar meio feio, improvisado, escuro — falou. Mas cortaram meu cabelo.
Minha sogra, logo se manifestou:
— E se fosse um esconderijo de maconha?
— Ah! Pombas! A senhora sempre pensa o pior!
Quase engasgamos com a sopa.