Ela era desligada, ele chato. Estavam namorando há cinco dias. Foram almoçar juntos pela primeira vez. Serviram-se no buffet, pesaram os pratos e sentaram. Ele reparou em como ela comia. Não resistiu.
— Ã…
— Quê?
— É que…
— Fala.
— Ah, nada. Nada. Deixa assim.
— Agora fala, né?
— Não… Era uma besteira. Esquece.
— Sabe que eu sou curiosa?
— Sei. Sei, tô sabendo. (risos)
— Então? Não vai falar?
— É que eu pensei, mas achei melhor não falar. Porque, realmente, é algo, assim, sem importância.
— Mas eu vou morrer se você não contar. Tá sabendo?
— Eu sou muito de falar sem pensar… Dessa vez eu só pensei. Se fosse algo importante eu falava.
— Sei…
— Às vezes, a gente fala e a outra pessoa entende aquilo como algo ruim. Eu não quero que você pense a coisa errada.
— Olha, vou ser sincera também.
— Por favor.
— Não me importa o que você fala. Importa o que você pensa.
— É?
— Claro. Se eu estou com alguém é pelo o que ele é, e não somente pelo que ele parece ser.
— Faz sentido.
— Então, se você pensou algo que se eu soubesse me faria brigar com você, é porque o que você pensa não é o que eu gostaria que pensasse; não é o que eu espero de um namorado.
— Acho que você está complicando uma coisa simples.
— Melhor complicar agora do que depois, não acha?
— É?
— É.
— Quer que eu complique também?
— Quero.
— Então, agora, vou falar.
— Pode falar.
— É que você usa a faca para colocar a comida no garfo.
— E daí?
— E é todo tempo!
— Tá. E daí?
— Daí que faca é pra cortar, não para colocar o máximo de comida possível no garfo!
— A Glória Kalil diz que pode.
— Ah… Duvido.
— Diz, sim. Eu vi no Fantástico.
— Ah, viu, é?
— Vi.
— Então, tá bom. Mas eu não gosto.
— É porque você é cheio de manias!
— Muito prazer. Este sou eu.
— Muito prazer. Esta sou eu. E até mais ver.
— Isso é um tchau?
— Não. Um adeus.
— Quer saber mais?
— Hf?
— Você come feio pra caralho!
— Grosso!
Fui ensinado a comer de boca fechada. Vai ver era por isso. Só não consegui entender se relação terminou por causa da Glória Kalil, do Fantástico ou pelo fato de eles não terem feito nada naquele domingo. Talvez os 3. Quem pensa muito não namora. É muito complicado.