— Sala 3, 20h, “O Segredo de Sarah”, por favor.
— Uma entrada só, senhor?
— Sim. Uma só.
— O senhor não vai… ? É… Não vai… ?
— “Não vai” o quê, moça?
— Não vai querer?
— “Querer” o quê, menina?
— Aquilo?
— “Aquilo”?
— É… “Aquilo”!
— Desculpa. Não estou entendendo.
— Aquilo que muitas pessoas que vêm ao cinema pedem.
— Pipoca?
— Não, senhor…
— Coca-cola?
— Não.
— Você está me oferendo drogas, senhorita?
— Não! Claro que não, senhor… Deusolivre. Sou de igreja…
— Ah, entendi… Por isso esse mistério todo. Não está acostumada com papos objetivos, né?
— Senhor…
— Vamos logo, minha filha. Me dá o ingresso logo que a sessão vai começar.
— Sim, mas eu preciso saber…
— Ah, não… Tudo de novo?
— Senhor, quantos anos o senhor tem?
— 59.
— É?
— Tá duvidando?
— Claro que não, senhor. É que parece que o senhor tem mais.
— Parece mesmo?
— Um pouco mais, só. Bem pouquinho.
— Tipo, quanto?
— Ah, tipo, assim… Ã… Tipo, assim… 60.
— Deu mesmo para perceber, é?
— Ué? Mas o senhor não disse que tem 59?
— Na verdade, fiz 60 semana passada…
— Então, senhor… Não vai querer?
— Não! Eu não vou querer pagar meia entrada! Não vou querer! Merda!