Sabe quando você está quase dormindo, indo e vindo, até que seu último pensamento, seu último pulso de consciência, é peça principal de uma complexa e estimulante teoria que só se revela estapafúrdia quando você desperta segundos depois? Exemplo: você está pensando na sua chave que ficou sobre a mesa; pega superficialmente no sono e imagina que, se essa chave estivesse sob a roda de um carro, mudaria de cor e seria perfeita para flambar um abacaxi; aí, você desperta e, apesar de sacar que tratava-se de um absurdo total, não consegue lembrar de quase nada; em seguida esquece de todos os detalhes e conexões pseudológicas e… Puf, se foi.
Talvez você tenha se identificado com essa minha sensação quase sonâmbula, talvez não. Mas foi ela que resgatei ao ver o último episódio de Lost. E foi por dois motivos. O primeiro é que essa pode ter sido uma das inspirações dos roteiristas ao criar a cruzada interior de cada personagem (ou só do Jack, enfim) e das trançadas malhas que sua imaginação o levou a tecer no pré-morte – como no meu pré-sono. O segundo motivo é que, assim como pelo meu sonolento devaneio, me senti totalmente ludibriado. A promessa dos produtores de que tudo seria explicado não foi cumprida. E, cá entre nós, foi uma solução preguiçosa e óbvia demais para resolver o emaranhado de situações absurdas que criaram. Isso sem falar que o grand finale não foi nada mais do que a teoria inicial, levantada por qualquer babaca antes mesmo de ver o primeiro capítulo, ao ler apenas a sinopse da série ou os releases lançados para a imprensa.
Não me arrependi de ver Lost por seis anos. O último capítulo (18) representa apenas cerca de 0,75% da série. Os outros 99,25% foram entretenimento da mais alta qualidade. Mas é que fica um retrogosto complicado de assimilar.
Concretizou a deixa do Stephen King sobre terminar com o olho do Jack.
Tá bem. Preguiçoso fui eu em não tentar resolver todo esse enredo de uma forma mais interessante.