Tampão

Estou dormindo com tampões de ouvido. É uma maravilha. Adotei esta prática porque, depois que a Malu nasceu, reduzi drasticamente o meu tempo de sono e a qualidade do mesmo. Para quem acordava 10 vezes durante a noite por qualquer barulhinho que fosse, despertar somente umas 2 ou 3 é uma vitória. Só não posso usar aqueles tipos com cordõezinhos para não correr o risco de me enforcar :) O que uso é um tecnicamente “descartável” que uma companhia aérea forneceu em uma viagem. Mas ele é muito bom, pois é feito de um tipo de esponja mais maciça que, quando comprimida, leva algum tempo para voltar até seu estado natural. Então, pressiono a ponta do “plug” e introduzo no ouvido. Lentamente o material vai se expandindo até tomar a forma de meu pavilhão auditivo.

É mais ou menos como este da foto, só que branco e totalmente cilíndrico – o que funciona melhor na hora que ele tenta voltar ao estado original, depois de pressionado, preenchendo as curvas de meu ouvido.

Viajar é bom para colocar os sons em dia


Hoje – Paralamas do Sucesso
O último CD dos Paralamas não pode ser considerado decepcionante. Não posso cobrar que o primeiro CD com novas composições após o acidente de Herbert Vianna tenha o mesmo nível dos anteriores. Então, posso dizer apenas que o disco é fraquíssimo, de uma forma que eu nunca imaginei que fosse. Realmente, parece que o destino não só levou só sua mulher como seu dom de compor. É uma pena ter que dizer isso. Paralamas é uma banda referencial pra mim. Sempre foi e sempre será. Herbert continua tocando muito bem guitarra e cantando muito mal, mas perder seu talento criativo é uma lástima para quem superou a maioria dos problemas e deu a volta por cima. É triste.


Pressure Chief – Cake
Ter um disco do Cake é como ter todos. Ao mesmo tempo é um alívio saber que sempre será bom, mesmo que pareça o mesmo de sempre. Aliás, por que tem que mudar?


O – Damian Rice
Sim, este é o disco que tem a musiquinha (ou musicão) do filme Closer. Foi uma grande descoberta. O cara é bom mesmo. O mais engraçado sobre “Blower’s Daughter” é a competição do mundo pop brasileiro em lançar uma versão nacional para ela. Em um dia, no rádio, ouvi Ana Carolina e Seu Jorge, cometerem juntos em um show, um veredadeiro assassinato: “É isso aíííí…”. Na nova novela das oito, não é que eu escuto a Simone – sim, aquela criatura insuportável de “Então, é Natal…” – cantando “Então, me diiiiz…”. Ah, pó’pará!


Billy Corgan – The Future Embrace
Este CD está mais para Zwan do que para Smashing Pumpkins. É pop. Bem pop. Mas isso não quer dizer ruim. Billy Corgan pode cantar mal, mas isso não aparece no CD. As músicas são competentes e ele sabe o que faz.


Cafe Tacuba – MTV Unplugged e Un Viaje
O Unplugged foi gravado há bastante tempo, logo após do excelente “Re”. Só lançaram agora, não me pergunte por quê. Minha versão tem um DVD junto do programa da MTV. Junto com ele, comprei o mais recente lançamento dos mexicanos. O quádruplo “Un Viaje”. São 3 discos ao vivo e um DVD em comemoração aos 15 anos de carreira da banda (só?). Bom, o fato que ouvir Cafe Tacuba pra mim é uma das coisas mais prazerosas no mundo da música atual. Eu devo ter um pé no méxico. Aquelas levadas de charango, violão; aqueles tempos 2×4 (acho que é isso), são muito excitantes. É como comer um taco com bastante pimenta e às vezes refrescar a língua com uma cerveja Sol com limão. As melodias são sublimes, as dinâmicas são como um mergulho de 30 segundos e um regresso à superfície. Não dá pra explicar. Tem que ouvir!

Bom, rádido e rasteiro:

MTV Acústico – Ultraje a Rigor. Bom pra ouvir uma vez e lembrar das músicas.

In Your Honor – Foo Fighters. Nem o CD elétrico nem o acúsitico, chegam aos pés dos lançamentos anteriores da banda. A melhor banda que Kurt Cobain não teve parece estar perdendo o prumo a cada disco. Mas não deixa de ser bom.

Jagged Little Pill Acoustic – Alanis Morissette. É o mesmo disco de 10 anos atrás. É o grande disco de 10 anos atrás. Vale a pena ter.

Gates Of Metal Fried Chicken Of Death – Massacration. Ouça lendo as letras. Diversão garantida. Metal de primeira qualidade (ou seja, muito engraçado), com todos os bordões clássicos de qualquer banda de metal, e letras ao melhor estilo Hermes e Renato.

Ããaa. Deve ter mais algum, mas eu esqueci.

Curitiba Rock Festival (5ª e última parte)

O melhor de vir em um show destes não é ficar analisando como cada músico está tocando sua parte; se estão sendo competentes ou não. Eu não caio mais nessa furada de achar que música deve ser avaliada como um espetáculo circense, onde ficamos impressionados, ou não, com as habilidades dos malabaristas, com a ousadia dos trapezistas e com a flexibilidade da contorcionista. Eu vim pra ver a bailarina, que se move ao ritmo suave de uma linda e triste música de amor. Eu vim para ver e ouvir os caras que fizeram as músicas mais geniais e simples que ajudaram a mudar a minha forma de assimilação musical. Às vezes nem tão simples assim, mas sempre na medida da necessidade de sua expressão. Eu estou extasiado.

Além de tirar fotos, estou gravando em vídeo, com a própria câmera digital, partes de cada música, para não me esquecer depois do set list e ter um registro da vibração do momento. Não vai dar para trocar de cartão no meio dessas pessoas ensandecidas, então, preciso aproveitar a memória ao máximo sem desperdiçar espaço, pois tudo tem que caber nos meus 256mb. Eu ainda pretendo fazer um vídeo integral de toda a Across The Sea, quando eles tocarem. Pra mim, é a melhor música. Mas começa El Scorcho e eu não me contenho: filmo ela inteira.

Antes de o baterista largar a guitarra e voltar a seu instrumento, eles fazem uma improvisação programada, ao estilo da que aparece no DVD, só que aqui, os outros 3 vão para os tambores fazer barulho. É, acho que eles estão se divertindo. É o tipo de coisa que só quem toca se diverte, mas foi legal.
De repente eles saem do palco. Será esta a hora que se costuma fingir que o show acabou para esperar pelos pedidos de bis?

“Weezer, Weezer!”

Uma movimentação estranha no mezanino abaixo do meu (na ala VIP). Será que a banda está saindo por aqui? Não. É Rivers que pega o violão e se dirige a um elevado onda há um microfone. A luz do canhão ilumina o cantor e eu só vejo silhueta. Ele toca e canta Island In The Sun em uma versão ainda mais pacata. “Hip, hip”.

A banda volta ao palco, mas antes de começarem o bis, Patrick, ainda no microfone, pergunta ao público se alguém sabe tocar, na guitarra, Undone – The Sweater Song. Todos presentes respondem que sim. E agora? Como saber que está falando a verdade? O baterista aponta para um e o chama para o subir ao palco. Dão-lhe um violão. A música começa mas, de onde eu estou, não consigo distinguir muito bem o som que ele faz. Só sei que ele parece meio perdido no início mas, depois, pega o jeito e faz até chinfra com os outros. Naturalmente, ele se perde um pouco, novamente, na única mudança de harmonia que a música tem. Mas e daí? Imagina eu ali! Ia dar branco total também. De fato, ele se sai superbem e, no final, ainda se joga no chão junto com Rivers e o baixista. Esse guri nunca vai esquecer disso na vida. Ele fica assistindo o resto do show da coxia.

Apesar dos seus álbuns estarem cada vez mais populares e se distanciando da banda que me conquistou nos dois primeiros CDs (azul e Pinkerton), as 3 canções escolhidas do Make Believe empolgam e me fazem gostar um pouco mais do disco.

O show acaba com Surf Wax America. Os dois primeiros álbuns do Weezer têm somente 10 faixas cada – menos de 40 minutos. Eu costumava gravar os dois em MD, para ouvir em viagens. Mas era preciso tirar duas músicas para caberem em um só disco (na época, não existiam os MDs de 80 minutos). Eu eliminava sempre Surf Wax (do blue) e Why Bother (do Pinkerton). Hoje eu aprendi a gostar muito delas. Serviu como uma reserva especial. Depois de ouvir tanto os álbuns, elas foram duas músicas a serem descobertas.

O show acaba sem que toquem Across The Sea. Só para que eu tenha que ir vê-los outra vez, caso venham novamente ao Brasil – ou que eu esteja viajando por outras bandas. São cerca de 3 horas da manhã e eu não colocava nada na boca desde 5 da tarde. Eu lembro de ter visto uma banca de comida. Vou comer um cachorro-quente que anunciam em uma plaquinha como “dog”. Por que “dog” e não “hot dog” ou “cachorro-quente”? Descubro. É porque é frio e sem sabor. Mas pensando bem, que cachorro maravilhoso.

“I’ve got your letter. You’ve got my song.”

My Name Is Jonas (azul)
Tired of Sex (Pinkerton)
Don’t Let Go (verde)
In The Garage (azul)
This Is Such A Pity (Make Believe)
Big Me (Foo Fighters)
Perfect Situation (Make Believe)
Why Bother? (Pinkerton)
El Scorcho (Pinkerton)
Say It Ain’t So (azul)
We Are All On Drugs (Make Believe)
Good Life (Pinkerton)
Beverly Hills (Make Believe)
Buddy Holly (azul)
Photograph (verde)

Island in The Sun (verde)
Undone – The Sweater Song (azul)
Hash Pipe (verde)
Surf Wax America (azul)

Curitiba Rock Festival (parte 4)

As luzes se apagam. O alvoroço é tanto que mal se percebe os acordes iniciais de My Name Is Jonas. É claro que seria esta a música escolhida para abertura. A Freezer também abre os shows com ela (eheheh). Ela inicia o disco azul; é a música que começa a carreira do Weezer.

É nitidamente visível que o nível de partipação e satisfação cresceu exponencialmente. Chego à conclusão que, realmente, todos estão aqui só para ver Weezer: “Curitiba Weezer Festival”. Não vejo ninguém que não esteja pulando feito um louco e cantando toda a letra. Esta pode não ser a maior banda do mundo, mas o grau de devoção e satisfação dos fãs em estarem aqui, tendo esta oportunidade, são gigantescos. Para mim e para toda a platéia, é, sim, a melhor banda do mundo.

Começa a segunda canção. Brian Bell, o guitarrista, toca a introdução de Tired of Sex, que abre o Pinkerton, no teclado. Vou confessar que eu achava que o som daquilo era de guitarra, pois realmente tem uma boa dose de distorção naquele som. A escolha da música como segunda é justa; justíssima; ela é puro vigor. Mais que isso: começo a perceber que todas ganham mais força ao vivo, como geralmente tem que ser, mas como, em muitos shows cercados por um manto mítico, costumam vacilar e revelar uma banda fraca e sem coesão. Definitivamente, este não é o caso. Weezer não me desaponta. Aliás, aponta, e muito bem afiado.

O show segue com cada vez mais surpresas, como a cover de Big Me, do Foo Fighters – com quem o Weezer tem excursionado pelos EUA. Quem canta In The Garage (o hino do nerd roqueiro) é o baixista Scott Schriner, a cara do Elvis Costello. Em This Is Such A Thing, uma das únicas 3 canções do último álbum (Make Beleive) que eles tocam (graças a Deus), Brian fica nos teclados para o arranjo newordístico e o roadie 1 – sim, aquele que se esmerou tanto em consertar a guitarra que tinha mais umas 4 iguais de reserva – pega o instrumento e manda ver. Ele participa em diversas outras músicas, seja quando Brian ou Rivers assumem os teclados ou, simplesmente quando o vocalista prefere só cantar. Não sei por quê, mas isso me sensibilizou. O sonho de todo roadie é tocar com a banda para a qual trabalha. Aqui, isso é feito de uma forma tão normal, sem as apresentações geralmente usuais que, se feitas, poderiam ser interpretadas como uma tentativa forçada de demonstração de coleguismo e humanismo. Bom, coisas da minha cabeça. O fato é que acaba me passando justamente esta imagem da banda: uma banda legal, sem estrelismos e com um marketing que não inventa nada, apenas explora a verdade de cada um; o que eles realmente são.

Patrick Wilson, o batera simpático, troca de lugar com Rivers, empunha a guitarra e assume os vocais, enquanto o maior compositor do rock contemporâneo senta na bateria. Eles tocam Photograph (do verde). Cuomo usa as baquetas de forma esquisita, transparecendo total falta de intimidade com o instrumento, mas não desanda o ritmo nem comete deslizes. É o melhor show da minha vida e ainda não está nem na metade.

Curitiba Rock Festival (parte 3)

O palco começa a ser totalmente desmontado para dar lugar a Mr. Cuomo e seus comparsas. De onde estou, consigo ver perfeitamente a movimentação da equipe norte-americana e dos candangos brasileiros. Eles estão trocando tudo mesmo. Saem todos os monitores tradicionais que ocupavam completamente a boca do palco e deixam apenas um, no meio, certamente para Rivers. Eles deverão usar monitores auriculares e talvez o vocalista não goste, ou talvez esse último esteja sendo mantido como um backup, para caso de mal-funcionamento dos fones. Pode servir também para reforço do retorno do vocal, já que guitarras e baixo também são amplificadas em cima do palco e podem dificultar até mesmo a audição do que sai dos fonezinhos.
Só há dois roadies de instrumentos: um está cuidando das guitarras e outro dos teclados, baixo e bateria. Ambos têm suas lanterninhas que usam mesmo com a claridade sendo suficiente. Uma guitarra Gibson apresenta problemas na chave (a pingolinha aquela) e o roadie tem que abrí-la para soldar alguma coisa lá dentro. Espero que não cause atrasos. Ele já está nessa há uns 20 minutos e a galera começa a esboçar impaciência: “Weezer, Weezer!”.

Enquanto isso, o roadie 2 cola a pedaleira do baixista com silver tape no chão e testa dois baixos Fender. Há um careca que parece supervisionar as coisas e cuidar de detalhes diversos. Ele quer saber o que um cara com uma câmera de vídeo faz em cima do palco, no canto, esperando o show começar. O cinegrafista é contratado pelo Festival, mas é claro que, ali, não vão deixar ele ficar. Parece tudo ultraprofissional, mesmo não sendo o Weezer um exemplo de superbanda megalomaníaca. As coisas têm de funcionar, afinal de contas. Isto significa respeito po quem pagou ingresso e veio de longe, para vê-los. O gerentão também conta, apontando o dedo, quantos fotógrafos estão no fosso. Devem ter estipulado um número máximo em contrato e parece que ele vai ser rígido em fazer cumprir as exigências.

“Weezer, Weezer!”.

Tem um cara, que passeia pelo palco de vez em quando que só pode ser o Karl, do Karl’s Corner, do site oficial da banda. Não sei exatamente qual é a dele, mas deve ser amigo de longa data do Weezer. É ele que mantém o site e, no DVD, é o autor de 90% do material de vídeo, editor, diretor – enfim, fez tudo. Ele é o típico americanóide: bermudão, alto, desengonçado. É ele, sim.

“Weezer, Weezer!” Toca Pixies no som, o pessoal canta junto e se acalma um pouco.

O roadie 1 acaba o conserto da Gibson e começa a colar os set lists, é claro, com muita silver tape. Tem um violão no meio das guitarras. Não que não tenha violão em várias músicas deles, mas será que irão tocar Butterfly? Será que vão usar o flying W tradicional de seus shows? Não parece. Além de ter o logo do Festival no fundo, não há recursos na casa para esconder cenograficamente um aparato daqueles. Mas seria muito legal ver aquele luminoso ao vivo.

Curitiba Rock Festival (parte 2)

O lugar é pequeno. Um pouco maior do que o Teatro Avenida, palco dos shows da minha adolescência. Não reconheço a banda que está se apresentando. A maioria do pessoal está na rua. Olho para cima e vejo dois níveis de mezanino circundando a platéia. Muito parecido com a antiga casa de shows que me referi (mas que só tinha um nível). Vou subir para checar. Escolho o lado direito. O primeiro andar parece uma ala VIP; tem segurança na entrada, baldes de champagne e sofás pretos espalhados. É ali que está a equipe da MTV.

Vejo um escadinha que leva ao segundo patamar – vou por aqui – o acesso estava livre; ninguém me abordou. Duas ou três pessoas só. Que maravilha! Me dei! Lembrei imediatamente de um dos melhores shows que já vi, no Avenida, no mesmo ângulo de visão: Titãs, Õ Blesq Blom. Só que agora, até cadeira tem. Vou me sentar e esperar  o show principal.

Confiro o programa para identificar pelas fotos qual é a banda que está tocando. Três mulheres e um cara… Só pode ser essa tal de Biônica. Como é que uma banda pode se autocontentar com tão pouco? Horrível. “Horrorível”, como diria o Fofão. O público inerte; nem aplaudem. Sem dúvida, ninguém veio aqui pra ver este troço. A vocalista tenta parecer com o David Bowie. Que bom que acabou.

A mudança de palco é rápida e entra (deixa eu conferir no programa… Não tem foto, mas, pela ordem, esta deve ser…) a Cidadão Instigado. E realmene é, pois diz que eles são do Ceará e, para minha grata surpresa, fazem um som psicodélico, nordestino e experimental, com grande criatividade, competência e boas composições. A banda toda manda muito bem e o baterista parece o sósia do Marcos Mignon que aprece no Covernation (enfim, parece com Marcos Mignon, é claro).

Pela ordem, a próxima, e última atração antes do Weezer, será Acabou La Tequila. Sempre ouvi falar deles mas nunca ouvi o som. Achei que era algo mais swingado com metais, mas acabo descobrindo que sempre confundi o nome deles com o do Funk Como Le Gusta (espanhol, sabe como é, tudo a mesma coisa – eheheh). O baixista é aquele que saiu da formação original do Los Hermanos (aliás, alguém, algum dia, soube por quê?). A banda toca com três guitarristas (nunca confie em uma banda que precisa de três guitarristas – tocar assim significa mais uma preferência pelo embolamento sonoro do que propriamente um benefício de nuanças harmonicas ou melódicas). De fato, acho que o terceiro tá ali por amizade. Essa sim seria uma boa justificativa. O cara é dos Autoramas e antigo Little Quail. Não me pergunte o nome que esqueci. Não creio que seja ingrediente também dessa marguerita sem tequila, sem sal e azeda. Ah! O guitarrista da esquerda é o Kassin, que consta nos créditos como produtor dos últimos álbuns do Los Hermanos. No DVD dos barbudos, ele aprece durante as gravações sem fazer absolutamente nada. Convenhamos: quem ousaria produzir quem sabe exatamente o que está fazendo? Tá bem, tá bem, não conheço o cara suficiente para falar mais nada contundete. Quem sabe o cara também não tem uma amizade muito grande com todo mundo; é o melhor amigo do mundo… ? Vai saber. O que eu sei é que Bloco do Eu Sozinho e Ventura têm falhas de mixagem que não passariam pelos ouvidos atentos, por exemplo, do Osório. :) De repente, o vocalista grita: “este é o nosso hit”. A música é totalmene desconhecida pra mim. Olha lá! Tem um cara na platéia cantando!

Curitiba Rock Festival (parte 1)

Está anunciado no site oficial que, hoje (24/9), os portões do Curitiba Rock Festival se abrirão às 19h. Eu não tenho interesse nem idade mais para agüentar 7 bandas desconhecidas que irão tocar antes. Cada banda não deve tocar mais de 30 minutos. Com mais 15 de intervalo entre elas e considerando um atraso inicial de meia hora, acho que iniciará mesmo pelas 12:45. O jornal local fez a prova dos nove e sugeriu 1 hora da  manhã. Pretendo chegar lá às 10:30 pra garantir.

A banda brasileira Hurtmold cancelou sua apresentação em protesto a não permissão da passagem de som. A organização disse que em nenhuma outra edição do festival houve passagem de som devido ao grande número de atrações e que houve uma falha de comunicação, pois isso já estava estabelecido previamente. Bom, eu acho que um festival que tem pretensão de ser levado a sério possui condições suficientes de passar o som de todas as bandas. Isso é o mínimo de organização que se espera. Mas acho também que essa tal de Hurtmold não deve gostar ou conhecer o Weezer, pois tocar no mesmo festival que os caras já deveria desbancar qualquer pretensão de igualdade de condições. Eu tocaria com a minha banda até de braço quebrado.

Eu estou prestes a ver e a ouvir, ao vivo, a banda que eu mais gostei em toda a minha vida. Estou numa cidade desconhecida, vou ao show sozinho e não sei o que eu vou encontrar. Li no site que eles não permitirão a entrada de câmeras fotográficas profissionais. Espero que não considerem a minha Leica digital, com design retrô, um equipamento nem perto de fazer alguém ganhar a vida com ele. Espero também que o segurança que vai me revistar não seja fã do Sebastião Salgado. Caso contrário, corro o risco dele achar a minha câmera mais sofisticada do que a do “Tião”.

Pra mim o show já seria perfeito se eles tocassem só as músicas do disco Pinkerton. Estou torcendo que as novidades pop dos últimos três álbuns sejam deixadas em segundo plano.

Tomara que tenha banca de camisetas oficiais. To louco por uma, ou duas, com o “flying ‘w'”. Vou chegar lá e, antes de mais nada fazer um reconhecimento de terreno para não perder nenhuma oportunidade capitalista. Vou tentar ficar bem posicionado, mas fora da zona do fedor.

São 10h e estou chegando no Curitiba Master Hall (sim, foi transferido da Pedreira Paulo Leminski para cá). Eu havia comprado ingresso para os dois dias pois custava apenas 15% a mais do que para um só. Minha intenção era vender o do dia 25, o que tornaria meu passe mais econômico. Estou quase na porta quando um cambista me aborda: “quer comprar ingresso?”. “Não, quero vender.” Fecho negócio e entro.

O segurança me revista, pede para eu abrir minha bolsa. Falo que é minha câmera dentro do case. Ele nem olha. Poderia ter entrado até com a mini DV. Pego um program e faço meu reconhecimento de terreno do lado externo.

Tendas de camisetas, modinhas, CDs, comida e só. Não tinha nada que me agradasse. Resolvo entrar.

Weezer em Curitiba

Todo mundo sabe da minha devoção pelo Weezer, principalmente pelo álbum Pinkerton. Dia 24 de setembro, eles tocam no Curitiba Rock Festival (que acontece dias 24 e 25). Eu, a Stela e a Malu estaremos na cidade para vê-los e visitar amigos. Claro, que só eu vou ao show. Não há confirmação ainda se eles tocarão em outras cidades do Brasil, como Porto Alegre, por exemplo, mas já garantimos nossa passagem antecipadamente, pois é bem mais barato assim. Se, pelo menos, 50% do show for dedicado ao melhor disco do mundo, eu serei o cara mais feliz do mundo.

Raquelzinha no Paraguay (parte 2)

(continuação do post anterior)

O homem estava com a cabeça baixa, contando o dinheiro. Eu cheguei perto. Ele nem me olhou. Comecei a falar. Ele não levantou a cabeça: “sou a Raquel. O senhor prometeu me devolver o dinheiro. Eu vim buscar.” Ele parou de contar o dinheiro. Não olhou na minha cara. Respirou fundo. Pensei que ele fosse tirar uma arma de baixo do balcão, como acontece nos filmes. Mas não. Ele voltou a contar o dinheiro. Separou um montinho e me entregou. Apesar de eu estar bem perto, ele pediu para uma das funcionárias cor-de-rosa fazer a entrega: “dá pra ela.” E, novamente, ficou mudo. A menina me deu o dinheiro e eu fui embora. O Seu Muhamed era legal. Pelo menos pareceu legal comigo. Era quase como se fosse meu “amigo”. Agora, eu podia ir embora, ou quase.
Além de toda a minha função, eu tinha ido para o Paraguay com uma encomenda de uma amiga – trazer a câmera mais barata que eu encontrasse para ela dar aos filhos. Comprei uma por 99 dólares e voltei pro ônibus. Só que ainda não iríamos embora. O ônibus precisava esperar até a hora combinada para partir. Aos poucos, os passageiros retornavam com suas sacolas e iam sabendo do meu feito: “O quê? A Raquel conseguiu o dinheiro de volta? Eu nunca vi isso acontecer em 20 anos que trabalho nisso.” A hora marcada chegou, mas duas pessoas ainda não tinham voltado. Não interessava, era preciso partir, como o combinado. Jogaram as malas deles para fora do ônibus para pegarem depois no estacionamento. É assim que eles fazem. Quem pensa que os problemas tinham acabado se enganou. Estavam apenas começando.
A volta, para quem traz muamba, é sempre mais tensa do que a ida. Na ida, o perigo é de assalto. Na volta, a apreensão da mercadoria é que preocupa. Aquela era a maior compra do ano deles. Todos eram camelôs e estavam com o dinheiro ganho do Natal. A cada carro que ultrapassava, a cada posto policial, o perigo era iminente. Eu estava tranqüila, afinal, não tinha comprado nada de valor nos “hermanos”; pelo contrário, tinha vendido! Eu só tinha dinheiro e ninguém assalta um ônibus na volta, porque não há grana alguma. Foi quando me dei conta: eu era a única a ter dinheiro; a única que teria como, sob pressão dos viajantes, oferecer uma, digamos, “gentileza” aos policiais no caso de uma batida. “Ah, não! Perder o meu dinheiro, não!”
E não é que mandaram parar o ônibus, bem na última barreira? Eram cerca de 2 da madrugada e nós já estávamos no Rio Grande do Sul. “Desce todo mundo do ônibus!”, gritou o policial. O pessoal da excursão já era todo meu amigo e me alertaram para esconder a camerazinha. Iriam revistar primeiro as mulheres. Então, eu dei a câmera para o motorista. O manual, coloquei dentro de um banco rasgado. Em troca do favor do gentil condutor, depois da revista feminina, enchi meus braços de relógios, as calças de placas de computadores e a mochila de controles de videogames, além de colocar a camerazinha da minha amiga na calcinha. Ninguém iria procurar ali. As revistas continuaram. Tiraram as sacolas do ônibus, averiguaram todo o veículo e acharam o manual que eu tinha escondido. O oficial perguntou em voz alta: “onde está a câmera desse manual?”. Todo mundo sabia que a câmera era minha. Raciocinei o mais rápido que eu conseguia e inventei uma história: disse que havia levado para consertar e que os manuais eu não tinha devolvido. Eles não acreditaram. Pediram para ver a minha mochila. Me seguraram pelo braço e descobriram os relógios e os controles de videogame na bolsa. Eu jurei pra eles que eu não era contrabandista; que eu era jornalista. Pediram para ver meu registro, mas eu não tinha. Encontraram uns remédios que eu tomo sob prescrição médica na minha bolsa e pediram a receita. Eu também não tinha. “Você sabia que tráfico internacional de medicamentos é pior que contrabando?”. “Ai, meu Deus!”. Eu tava ferrada. Expliquei direitinho, fiz cara de choro, implorei e disse que eu não era camelô. Fiquei dizendo isso o tempo todo. E parece que funcionou, pois eles acreditaram em mim. Não sei como, mas eu consegui. E nem precisei usar o meu dinheiro (é claro que eu nem faria isso). Ainda salvei as placas de computador do motorista. Mas deram cota zero para todo o mundo e apreenderam o ônibus. Coitado do pessoal.
Eu estava em uma cidade desconhecida, mas lembrei que tinha um amigo que morava lá e liguei pra ele. Ele era da aeronáutica e foi me buscar de uniforme. “Que vergonha!”. Parecia que eu estava acorbertada por gente graúda. Ele me emprestou dinheiro para a passagem, pois eu só tinha dólares, e voltei pra minha cidade de ônibus de linha. Eu estava há 3 dias sem dormir e comer direito. Ah, e sem tomar banho, também. Pobre da câmera da minha amiga.
No final das contas, resolvi comprar o equipamento que eu queria de São Paulo. Paguei três vezes mais, mas não me arrependi. O trabalho que fiz para essa grande empresa foi incrível; uma das experiências mais importantes da minha vida, depois da viagem ao Paraguay, é claro.

Raquelzinha no Paraguay (parte 1)

A Raquelzinha é um quadro. Recentemente, ela se meteu em uma aventura bastante pitoresca. Resolvi escrever a história, através do depoimento dela, para enviarmos ao quadro Retrato Falado do Fantástico. Publico aqui ela na íntegra. É grande, mas pitoresca.

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Meu nome é Raquel, tenho 25 anos, moro em Pelotas, Rio Grande do Sul. Sou formada em Comunicação Social nas habilitações Jornalismo e Publicidade & Propaganda. Trabalho em uma agência como produtora gráfica, mas minha maior paixão é a fotografia. Já participei e/ou desenvolvi diversos projetos e exposições. No final de 2004, uma grande empresa, de expressão nacional e internacional, me contratou como fotógrafa para registrar os aspectos sociais, econômicos e ambientais de 17 cidades do sul do meu Estado. O meu equipamento fotográfico profissional, até então, era convencional (a base de filme 35mm), só que para aceitar a proposta com a agilidade exigida, eu precisaria adquirir um equipamento digital. E é, aí, que começa a minha aventura.
O preço do equipamento que eu pretendia comprar, no Brasil, era 3 vezes maior do que no Paraguay e consumiria quase todo o dinheiro que eu havia cobrado pelo trabalho. Não pensei duas vezes em pedir um favor ao amigo de um amigo de um amigo que estava indo para lá – ele só faria isso só para uma amiga de um amigo de um amigo. “É claro” que não era nada profissional ou ilegal. Era algo quase íntimo. Digamos, um favor comissionado. Mal sabia eu que meus problemas já estavam iniciando.
Já que o equipamento era profissional – algo bem específico – resolvi fazer uma pesquisa de preços nas lojas paraguaias por telefone. Achei o lugar que tinha o que eu queria, negociei o preço e mandei ele ir, especificamente, lá. A loja não fazia parte das que ele freqüentava habitualmente e, para piorar as coisas, estávamos perto do Natal – época de grande movimento comercial na fronteira e período em que a fiscalização é redobrada. Mesmo assim, cinco dias depois, nosso “amigo” volta, são e salvo, com a minha câmera. Paguei o combinado e fui pra casa. Eu estava algariadíssima, como uma criança que ganha um novo brinquedo. Mal podia esperar para chegar, carregar a bateria e começar a fotografar tudo. Só que o que aconteceu foi um pouquinho diferente disso. A primeira foto que eu bati saiu com um risco. O sensor da máquina estava com defeito. Eu bem que tinha sido avisada sobre os possíveis inconveniente de se comprar do Paraguay. É claro que o amigo do amigo do amigo, a essa altura, não era mais amigo de ninguém e não se responsabilizou pelo produto defeituoso – afinal, eu tinha dado o endereço de onde ele deveria comprar e ele seguiu a risca o meu pedido e tratava-se de um favor. Mais do que imediatamente, liguei para a loja, falei com o dono – chamaremos ele aqui de Seu Muhamed. Eu combinei que mandaria o equipamento de volta e ele devolveria meu dinheiro. Pelo menos essa troca, o “amigo” concordou em fazer em sua breve próxima viagem. Só que, alguns dias depois, quando ele retornou, me apresentou, ao invés do dinheiro, uma outra máquina. “Bom”, pensei eu, “se estiver funcionando desta vez, caso encerrado”. E ela estava, só que ao analisá-la com maior atenção, descobri uma etiqueta de conserto, feito no Brasil. Ou seja, além de usado, o equipamento era recauchutado. Eu não queria. Paguei por novo, quero um novo. O “amigo” disse que não quiseram devolver o dinheiro e que ele foi obrigado a trazer outra câmera: “ninguém devolve dinheiro no Paraguay!”, exclamou com veemência. Foi aí que ele me falou que, se tivesse que levar o equipamento em sua próxima viagem, não se responsabilizaria por uma apreensão na fronteira – “muy amigo”. As coisas estavam se complicando. O Natal já tinha passado. Eu estava perdendo tempo e dinheiro. Precisava resolver sozinha a situação.
Fui eu para o Paraguay. Peguei o primeiro ônibus que estava saindo. Era uma excursão cheia de “amigos”. Na viagem anterior, haviam sido assaltados na ida e o motorista baleado. Não é preciso dizer que o clima da viagem era muito tenso. Tinha uma velha atrás de mim que não parava de falar no assalto; rezava a cada freada do ônibus. Outro, do meu lado, não acreditou no que eu iria fazer e reforçou o que o “muy amigo” tinha me dito: “ninguém devolve dinheiro do Paraguay”. Além disso, eu não conhecia nada do lado de lá da fronteira. Combinei, então, com o dono da excursão, que ele me levaria na loja do Seu Muhamed. Para o meu desespero, mais um problema inesperado aconteceu: o homem começou a ter uma crise de visícula. Era tão forte que o ônibus precisava parar em todos os postos de pedágio para ele ser sedado. Não era difícil imaginar o estado dele quando chegamos ao Paraguay? Dormia feito uma pedra e eu não conseguia acordá-lo. Sacudia de um lado, sacudia do outro, gritava e nada. O alarme do relógio dele não parava de tocar e ele não ouvia, também. Todo mundo já tinha saído do ônibus rumo a suas compras e eu, ali, cutucando o homem para que despertasse de seu sono induzido. Finalmente – eu sou bastante insistente –, consegui. Pegamos a perua, com mais umas 30 pessoas e atravessamos a Ponte da – vejam só – “Amizade”.
Ainda eram 6 horas da manhã, mas a visão que tive ao chegar do outro lado da ponte era, no mínimo, dantesca. Muita poeira no ar; milhares de pessoas se acotovelando, com caixas, sacolas. Gente tomando tererê e cuspindo no chão; cuspindo nas outras pessoas. Parecia uma cena do filme Mad Max. Eu me sentia lá – o mundo acabou e aquilo era uma das poucas civilizações remanescentes, lutando pelo pouco de água que sobrara, ou pior, por equipamentos eletrônicos e luzinhas de Natal. Onde eu fui me meter?
Andamos, andamos, nos perdemos, nos achamos, nos perdemos. Até que, ao encontrar a loja, apesar de todas as outras já estarem abertas, as portas estavam fechadas. Parece que o Seu Muhamed tinha dormido tarde na noite anterior. Eu fiquei torcendo que, pelo menos, tivesse dormido bem. Na frente da loja, além de alguns clientes que aguardavam, estavam umas moças de uniforme cor-de-rosa, batom cor-de-rosa, tiara cor-de-rosa e meia calça cor-de-rosa. Eram funcionárias da loja. Eu realmente acreditei que estava no futuro – um futuro decadente, pobre, sujo, mas, ao mesmo tempo, tecnológico. De repente, uma poeira (maior ainda) levantou no horizonte. A multidão começou a abrir caminho. Eu vi um carro. Um BMW, um Mercedes, um Audi, sei lá. Um desses carrões pretos que o pessoal da máfia usa. A porta se abriu e Seu Muhamed desembarcou. A loja se abriu e ele entrou. Ele parecia o Osama Bin Laden. Todos foram atrás, inclusive eu. Uma das funcionárias cor-de-rosa me atendee. Expliquei a situação e ela me pediu a nota fiscal. Mas eu não tinha nota. Onde se viu nota fiscal no Paraguay? Ela me disse que, então, a devolução do dinheiro era impossível. Não me dei por vencida e falei: “quero ver o Seu Muhamed!”. Com ar irônico, ela apontou para o caixa e disse: “é ele, boa sorte”.
(continua acima…)