Plano de Dados na França

(Adendo em 04/01/17: este plano de dados não existe mais. Leia aqui a atualização deste post com a melhor opção atualizada.)

Precisei, procurei na Internet, achei, mas não tive informações completas. Por isso, depois de descobrir na prática, resolvi fazer um apanhado de dicas sobre como comprar, com o menor custo possível, um plano de dados para seu telefone celular na França — €19,90 por 30 dias, ilimitado. Se você já tem um cartão SIM da Orange, apenas €15.

Eu não precisava de plano de voz, apenas dados, porém, também é possível. Basta colocar mais crédito nas instruções que darei abaixo.

1. Antes de sair no Brasil, certifique-se que seu celular está desbloqueado para uso com outras operadoras. No caso da Vivo, basta ligar para *8486 e passar o número IMEI do seu aparelho. Na maioria deles, este número está localizado fisicamente debaixo da bateria. No iPhone, como não dá para abrí-lo, vá em “ajustes”/”geral”/”sobre” e procure pelo campo “IMEI”. Anote e diga ao atendente. Também, no caso do iPhone, para completar o desbloqueio, é necessário colocoar um cartão SIM de qualquer outra operadora, diferente da sua, e conectar o aparelho no iTunes do computador. Você verá uma mensagem confirmando o processo. Eu tive que comprar um microSIM da Claro, pois não conhecia ninguém com iPhone (leia-se “cartão microSIM”) de outra operadora para me emprestar.

2. Ao chegar na França, procure uma loja da Orange (empresa de telefonia móvel local). Em Paris, se vê uma a cada mil metros.

3. Compre um cartão pré-pago que sirva em seu celular. Se chama “carte SIM”. “Chip” é coisa de brasileiro. No caso de iPhone 4 ou 4S, é necessário o microSIM e, para o iPhone 5, o nanoSIM. Mas basta mostrar seu aparelho que o atendente saberá. O cartão custa €9,90 e já vem com €5 de créditos. Antes de inserir o cartão, desligue totalmente tanto os dados 3G quanto os serviços de localização (GPS), ou começarão a consumir seus créditos. Eles pedem para esperar uma noite para que seu “chip” comece a funcionar, para só depois adicionar mais créditos e habilitar a Internet.

4. Compre €10 de créditos. Ao fazer isso, o atendente lhe dará um papel com instruções de como introduzí-los no seu cartão. Eu nunca tinha usado um pré-pago, nem no Brasil, por isso, não sei se o processo de adicionar créditos é igual: basta digitar um código no aparelho que os créditos entram. Depois de feito, você terá €17 de créditos (€5 que vieram com seu SIM + €10 que você comprou + €2 que vieram de bônus ao comprar os €10 — pra mim foi assim).

5. Digitando “#123#” e “ligar”, você entra em um menu onde irá habilitar os serviços “Internet Max” e “Email”. O serviço de email serve para acessar servidores IMAP e POP da sua conta pessoal. Se não me engano, os passos são:
– “vos bons plans”;
– “internet”;
– “Internet Max;
– “suite”

… E confime. Idem para o email, substituindo o “Internet Max” por “email”.

O Internet Max consumirá €9 e o email €6. Eles dizem que os serviços levam 3 dias para começarem a funcionar. No meu caso, foram instantâneos. Não esqueça de voltar a habilitar os dados 3G e os serviços de localização ou não vai funcionar mesmo.

Convém desligar o wi-fi do celular quando sair pelas ruas de Paris. A Orange tem pontos de conexão wi-fi gratuitos por 2 horas na qual você precisa de cadastrar para usar. Porém, se você comprou o plano Internet Max 3G, ele identifica e troca o 3G pelo wi-fi desses pontos. Não sei o motivo. Mas tudo bem, até, se: (1) a velocidade fosse sempre boa e (2) aceitasse todos os clientes de serviços. Mas o wi-fi Orange, nesse caso, não permite, por exemplo, Instagram e Facebook. Então, convém deixar desligado.

WI-FI EM PARIS
Paris é cheia de pontos wi-fi gratuitos, mas não se empolgue. Quando você quiser mesmo, não vai ter. Existe uma conexão que você vai achar em muitos lugares, que é o Free Wi-fi. Mas “Free” é o nome de um provedor local. Como falei antes, a Orange também tem muitos pontos que dão direito a 2h diárias gratuítas, mediante cadastro. Basta colocar seu email que enviam uma senha. Nas duas vezes que acessei, bastou aproveitar a mesma conexão temporária inicial para navegar e usar demais serviços (incluindo Instagram e Facebook). Nem coloquei a senha que chegou por email. Não testei para ver se o limite de 2h diárias estava contando, mas acho que não, pois meu cadastro nem foi acesado.

Voilá! Salut! Ces’t bon!

Ninguém Sabe Nada de Câmbio

(29/12/13 — Nota do editor: o Governo anunciou que o IOF de todas as operações com cartões de débito no exterior passa a ser 6,38%, como a dos cartões de crédito. Leia aqui.)

Resolvi fazer este post devido à inexistência de artigos competentes na Internet sobre esse assunto. Então, lá vai o que eu aprendi em minhas investigações online e offline.

Você vai viajar para o exterior e precisa comprar a moeda do país de destino. O que vale mais a pena no quesito economia? Comprar espécie em uma casa de câmbio? Usar seu cartão de crédito? Usar o cartão de débito? Comprar um Travel Card?

Antes, algumas coisas devem ser compreendidas.
1. Não existe mais controle de câmbio no Brasil (desde 2005). Não existe dólar/euro oficial. Não existe dólar/euro turismo. O mercado é livre. Cada casa de câmbio ou banco emissor do seu cartão pratica a taxa de conversão que quiser.
2. Existe a taxa PTAX, do Banco Central, que é apenas uma simples média aritmética das consultas feitas aos dealers no mercado, entre 10h e 13h daquele dia. É um valor de referência, apenas. Ou seja, ninguém é obrigado a utilizá-la, como eu disse no item anterior.
3. Tem quem chame de “dólar comercial”, aquele usado pelas empresas de importação e exportação, e de “dólar turismo”, aquele que chega para o consumidor final em suas importações domésticas e custos de viagens. A única diferença é a quantidade de intermediários que existe entre um e outro, que faz o valor conhecido como “dólar turismo” ser maior que o “comercial”. Trocando em miúdos, o dólar e o euro são um só, o que varia são as condições de compra e venda e a quantidade de intermediários envolvidos. É como comprar leite direto do produtor ou ir a um supermercado. Porém, ninguém fala “leite comercial” e “leite turismo”.
4. Isso explica o fato de por que cada banco, cada estabelecimento que divulga a taxa de câmbio a seu cliente final, tem uma taxa diferente no mesmo dia. De novo: não há tabela. O mercado é livre.

Então, qual opção levar para sua viagem? Escolha.

CARTÃO DE CRÉDITO
É a mais arriscada em termos econômicos, pois o valor do câmbio será definido no dia do pagamento da fatura. Ela chega com o câmbio do banco de seu cartão no dia de sua emissão. Você paga com esse câmbio, mas depois, na fatura seguinte, é calculada a diferença para o dia que efetivamente a fatura foi paga. Te devolvem o que sobrou ou cobram o que faltou. Não esqueça que para compras no exterior com cartão de crédito há ainda a incidência de IOF/IOC que somam 6,38%. Recentemente, analisei diversas faturas das mais variadas bandeiras e bancos emissores de cartões de crédito e comparei o valor do dólar com a taxa PTAX do Banco Central do mesmo dia. A variação era absurda. Em alguns bancos chegava a 10%. No meu cartão, Mastercad Dotz Ibi (agora Bradesco), o câmbio era o melhor, apenas um ou dois centavos acima da PTAX. Ou seja, mesmo pagando os 6,38% ainda valia mais a pena do que comprar a moeda em casas de câmbio ou usar alguns cartões de débito.

CARTÃO PRÉ-PAGO — TRAVEL CARD
É uma opção conservadora. Você escolhe o quanto vai gastar e compra antecipadamente a moeda. Nada de surpresas depois. Essa modalidade, no meu banco — o Banrisul — tem o custo da emissão do cartão (R$ 15,00). É cobrado também o IOC de 0,38%. Sem falar que o câmbio é o mais próximo do PTAX entre as demais opções. Dia 24 de agosto, o euro fechou em R$ 2,53 na PTAX e eu comprei a R$ 2,62 no Banrisul. Em casas de câmbio fica em torno de R$2,70 pra cima. O cartão pré-pago é também a melhor forma de alguém lhe mandar dinheiro para lhe socorrer em uma viagem ao exterior. Basta deixar uma procuração para a pessoa que ela poderá depositar valores no seu cartão, com os mesmos 0,38% de IOC. Outra vantagem é que você pode sacar o dinheiro em caixas eletrônicos pagando uma taxa de €2,50 por saque. É aceito nos mesmo locais do seu cartão de crédito. Ou seja, você não vai ficar na mão. Se, ao final da viagem, sobrarem créditos, você pode sacar tudo e trazer de volta ou resgatar aqui, na volta, com uma pequena variação de câmbio (2 centavos, segundo a taxa do meu banco no dia).

DINHEIRO
É sempre bom levar algo em espécie. Seja para mostrar à imigração que você tem onde cair morto no país deles, seja para quebrar algum galho logo na chegada. Porém, já sabe que as taxas são as piores. Por outro lado, dependendo do câmbio do banco do seu cartão e do da casa de câmbio, pode valer mais a pena, pois não tem o IOF/IOC. Mas nunca esqueça: dinheiro pode ser perdido ou roubado. Se acontecer isso com cartão, basta cancelar.

O bom mesmo é nunca ir viajar com apenas uma opção. Assim, qualquer problema que der, você estará resguardado.

UMA DÚVIDA QUE NINGUÉM SABE RESPONDER
Todas as compras em cartão de crédito no exterior são convertidas para dólar, não importa a moeda em que ela é feita. Você pode fazer como eu, e pesquisar se o câmbio de dólar para real do seu cartão costuma ser bom ou ruim. Mas e como saber o câmbio de euro para dólar, de iene para dólar, de libra para dólar, de pesos para dólar? A fatura do seu cartão não informa. Ninguém sabe te informar. Se você ligar para o 0800 do seu cartão eles irão lhe dar a resposta mais fajuta do mundo:

— É utilizado o câmbio do dia, senhor.
— Sim, mas qual é o câmbio do dia de euro para dólar?
— É o valor utilizado no dia, senhor.
— Sim… Mas qual é? Por exemplo, qual é o câmbio de euro para dólar de hoje?
— Senhor, não temos acesso a isso agora, mas será convertido automaticamente na emissão de sua fatura.

E você pode ficar horas no 0800 que a conversinha não vai ir além disso. Pode mandar chamar o gerente, o superior, o presidente da companhia. Não vão te responder. Ou seja, é um baita engodo. Fazem uma transação cambial sem te informar sob quais parâmetros ela é feita. Para saber, só comprando algo pelo cartão e pagando pra ver. Talvez seja aí que os cartões que praticam os melhores câmbios de dólar para real, tirem o prejuízo: no câmbio de euro para dólar.

O que eu quero dizer com tudo isso é: se você quer economizar, não adianta só optar por uma modalidade sem IOC, sem IOF, sem os dois! O câmbio também tem que ser levado em consideração. E o câmbio é o mercado quem dita.

Ninguém sabe nada de câmbio. Se você souber mais que eu, por favor, me corrija, mas só o faça se tiver certeza, por favor. : )

Bagagens

Esteiras de aeroportos me instigam. Trezentas malas — a maioria preta e da mesma marca. Cento e cinquenta passageiros na dúvida sobre qual é a sua. Alguns colocam fitinha colorida no zíper, outros adesivam para diferenciarem o que é seu. Um tipo menos apegado às coisas materiais pintou suas iniciais em letras garrafais com tinha branca (provavelmente Liquid Paper).

Cada valise tem sua personalidade (ou a de seu dono) que a distingue. Tem as que deslizam explodindo de tão cheias, com os fechos arregaçados; outras mirradinhas, típicas de quem não tinha uma menor ou pretende trazer muita coisa na volta. Tem aquelas de couro, gigantes, antigas, de avô, que deitadas trancam na borda da esteira e de pé não param, de tão finas. Tem sempre uma caixa de papelão, de alguém aproveitando uma promoção para fazer sua mudança, ou um saco todo estropiado, que não entendo como deixam passar no check-in.

E assim vão os passageiros, se acotovelando para conseguirem um lugar na margem desse rio de bagagens. Alguns pegam o que não é seu, mas logo percebem o erro. Tem os que reconhecem a sua pelo tato. Sim! O dono desenvolve uma afeição tal pela mala que vira uma questão de pele — uma relação de anos. Enfim, mesmo com tanta semelhança, as cento e cinquenta pessoas conseguem encontrar seus pertences sem traumas e, praticamente, dispensando a conferência dos recibos na saída para o saguão.

Tem gente mais afeiçoada por sua mala do que pelos seus próprios filhos. Se crianças de menos de cinco anos pudessem ser despachadas como bagagem, teríamos maiores problemas de identificação: “Não é esta. A minha usava brinco!“; “O meu não estava sangrando. Quero um novo!“; “Tem certeza que a sua era uma menina, senhora?“, “Que eu me lembre, sim. Bom, de rosa eu sei que estava, pelo menos.

Ah, bagagens…

(Crônica resgatada e re-editada de minha coluna Vertebral, do Jornal Noite & Cia.)

Imagina o SUS da Jamaica

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Exame de urina do mundo perfeito

Não teve uma vez em que estivemos em Palmas e tenhamos deixado de dar uma passadinha no hospital. Calma. Nenhuma tragédia. Uma vez a mãe da Stela estava desidratada e ficou uma noite no soro. Outra ela estava internada mesmo, por problema de saúde. Noutra a Malu bateu com o dente na testa do primo. Há dois anos e meio, a Alice teve uma febrinha e levamos na Unimed. Desta vez, fomos com a Alice à Unimed novamente.

Ela estava sentindo uma dorzinha para fazer xixi e resolvemos ir ao pediatra de plantão. Uma hora para ser atendido mesmo ser não criança alguma na fila — explica! Se o plano particular do Brasil é assim, imagino o SUS do Paraguay. Entramos no consultório e, sem nem um boa-tarde, o médico me solta em portuñol tocantinense: “¿que pasa?“. Lembrei novamente do Paraguay. Alice achou divertidíssimo e ficou imitando ele falar. Perguntou “¿Toma baño de água corriente ou de bañera? (dizem — “dizem” — que eles não têm chuveiro no Paraguay). “Chuveiro!”, respondemos, “mas tem tomado banho de piscina”, para não dizermos “de lago também”. Mal olhou para a cara da criança, quanto mais a examinou, e deu o veredito (quer dizer, o diagnóstico): “¡infección urinária!“. “E não precisa fazer exame de urina?” — somos curiosos. “¡No!“. Tá bão, então. Receitou um antibiótico.

A dorzinha para urinar tinha passado, mas chegando em casa resolvemos ligar para nosso herói, doutor Chiucheta, em Pelotas. “Claro que tem que fazer exame de urina, antibiograma com cultura!” Não tínhamos prescrição. Poderíamos pagar particular e resolver o caso, mas decidimos voltar à Unimed no dia seguinte para outra consulta e pedir para o paraguaio prescrever.

Depois de uma hora e meia de espera, agora sim com bastante gente aguardando, fomos atendidos por outro plantonista. Eu cantei a pedra pra Stela, dizendo que ele não aceitaria cumprir com uma solicitação de um colega e indicar o exame. É o orgulho médico. E, mesmo se aceitasse, sugeriria uma análise diferente. Dito e feito. Pediu um exame simples e não de cultura. Se desse alguma coisa, aí sim, pediria o segundo. A Stela ainda perguntou se não poderíamos fazer os dois ao mesmo tempo. Ele deu a maior engambelada da história da medicina contemporânea. Disse que não era possível com uma única amostra, porque o de cultura se faz com coletor esterilizado e o simples não. “Cuma?!” Eu dividiria a amostra e cuspiria dentro da do simples se fosse preciso.

Mesmo a Alice não sentindo mais dor, autorizamos os exames, um pelo plano e o outro particular, com a mesma amostra, claro. O prazo é de 3 dias para ficarem prontos. Hoje é segunda e viajaremos na quarta. Mesmo a atendente insistindo e discutindo que de segunda à quarta são três dias — e que daria tempo — a gente vai pedir para alguém pegar na quinta e nos enviar, porque o pessoal da Unimed também não consegue mandar email.

Restaurantes (Padarias) de Palmas — Roma

Coelho me levou para tomar café da manhã em uma padaria chamada Roma. Provável inspiração em “quem tem boca vai a Roma”.

Nada demais para relatar senão pela atendente simpática e engraçada. Mas vamos aos fatos. O café se serve de garrafas térmicas dispostas no buffet. Uma tem café preto, outra leite e a terceira chocolate quente. Servi café e leite. Pedi um misto de queijo e presunto (quase cometi “uma torrada, por favor”). Quando a atendente trouxe à mesa, pedi açúcar, sem saber que o café já estava adoçado na térmica (WTF?). Sorte que o Coelho havia provado e me alertou. Vale dizer que nosso sotaque gaúcho é tão denunciante quanto o deles, e a calanga, que já deveria estar me achando esquisito, provavelmente realizou que todos gaúchos tomavam café mais doce que doce de batata-doce.

Para anotar o consumo na comanda, olhou para dentro da minha xícara e perguntou: “é leite ou café?”. Imaginei que deveriam ter preços distintos, deduzi a impossibilidade de calcular o percentual de cada um na mistura e questionei: “vocês, aqui, não tomam café com leite?”. Ela surpreendeu na resposta: “Ô! Tem gente que toma até suco com chocolate quente!”

Acabei sem saber, afinal, quanto custa uma xícara meio café/meio leite, até porque o Coelho me fez uma cortesia. Acho que voltatei à Roma (com crase, pois trata-se da Padaria) para experimentar o suco com achocolatado.

Viagem econômica a Porto Alegre

Já ensinei neste blog como abrir uma caixinha de leite, escrever “súper”, “ano-novo” e “ano novo”, “tele-entrega”, se comportar em uma rótula, fazer um bife, evacuar em banheiro alheio… Hoje, vocês aprenderão como economizar grana da gasolina ao ir e voltar de Porto Alegre.
O combustível na capital é cerca de 15% mais barato do que em Pelotas. Com meu carro, um Corsa Sedan 1.4, consigo ir, dar umas bandas e voltar com exato um tanque de gasolina. Portanto, me certifico que ao sair tenha, precisos, 3/5 de tanque cheio. Isso é suficiente para a viagem de ida e para o itinerário rotineiro em Porto Alegre. Entro na reserva com o ponteiro quase grudado no fundo. Na hora de voltar, abasteço completo. Pronto! Minha jornada foi realizada apenas com combustível de lá. A economia é suficiente para pagar duas entradas de cinema.
ATENÇÃO: antes de seguir esta dica incrível e genial, certifique-se do consumo, capacidade do tanque e combustível que seu carro está usando. No mais, você precisa ser uma pessoa fria, calculista e entender que, quando o ponteiro chega na reserva ainda dá para rodar mais cerca de 50km.

Restaurantes de Palmas – Pizzaria Dom Vergílio

Estou de férias. Estou em Palmas, Tocantins. Pra quem não sabe, é uma cidade planejada, com menos de 20 anos de fundação, e que está em franco crescimento. É capital do estado e atrai imigrantes de todo o Brasil. Mais de 50% é maranhense. Chamam de “gaúcho” qualquer um que venha de São Paulo pra baixo.

(clique para ampliar)

Dom Vergílio é uma pizzaria grande, cujo dono é gaúcho. Ele fez questão de trazer toda mão-de-obra do Sul. Aliás, material humano de qualidade é o que há de mais escasso por aqui. Quem faz meia-boca é dono do pedaço. Quem faz direitinho, enriquece. Já é minha terceira vez na Dom Vergílio. Voltei porque gostei. O local é feito para faturar alto, com giro rápido de clientes. Creio que atenda, simultaneamente, a umas 150 pessoas. A organização do atendimento é exemplar, dividida em recepcionistas, tiradores de pedidos, garçons que trazem as pizzas e outros as bebidas. Nossa solicitação é anotada em um PDA e, antes mesmo de finalizada, as bebidas já estão chegando. Informatização que reduz falhas, agiliza o processo e faz as eventuais filas na porta andarem rápido. Há de se faturar.

As pizzas são muito boas, tirando algumas atrocidades do vasto cardápio, como a de strogonoff, coberta de batata palha. Tem quem peça. Os ingredientes são de ótima qualidade. O sabor 6 Queijos traz realmente 6 tipos dos bons, nem precisava tanto; poderiam, ser só 4. A massa é deliciosa e fina, mas dá pra reduzir. Raro, os tomates secos são fartos. Os tamanhos oferecidos são “médio”, “grande” e “big”. Não me pergunte qual a diferença entre o “grande” e o “big”. Talvez o “big” venha com catchup. Não deveria ser “bigger”, ou simplesmente “maior”, “súper”, “família”?. Acho que é para não oferecerem um tamanho “pequeno”. O dono deve ter lido algum livrinho do Sebrae.

Chamei o o tirador de pedidos (o cara com o PDA) e perguntei que sucos tinham. “Todos, menos de maracujá.” “Uau! Como assim ‘todos’?” Secamente, “todos”. Perguntei, “inclusive de uva?”.

Lembrei-me de um episódio engraçado. Certa vez, em Recife, em um daqueles resorts 5 estrelas – não sei como fui parar lá e não tenho a mínima previsão de regressar – perguntei sobre sucos. A resposta foi a mesma, “todos”. Pedi um de uva. O garçom todo atencioso e desapontado, começou a balançar a cabeça lenta e negativamente. Desistiu no meio e decidiu resolver meu problema: “podemos providenciar para o senhor”. “Natural?”, perguntei. “Sem dúvida”. Me senti um rei, até chegar o copo. Colocaram os cachos no liquidificador e serviram uma gosma verde, com fragmento de sementes e galhos. Eu deveria imaginar que um suco de uva improvisado não seria feito do modo lento e tradicional, fervendo a fruta, filtrando com um pano, etc. Palmas não é no Nordeste, mas visualizei que com tantas frutas diferentes, uva deveria ser pouco popular também por aqui, na região Norte. Engano.

“Uva?”, já anotando meu desejo. “Não, obrigado. Era só para testar. Traz um de limão mesmo. Sem açúcar.” “Limonada tradicional ou suiça?”. Mas, ah! O cara tava falando sério mesmo quando disse “todos”. Depois de servido, resolvi tirar a prova derradeira: “amigo, tem de carambola?” “Só um minuto que vou verificar, senhor.” Não voltou mais. Achei um cardápio para confeerir. Não tinha. Ah, também não são tantos assim. São só 23 naturais.

Turbulência

Maldita companhia aérea. Só pode ter sido um equívoco no check-in, é claro. E não conferi. Colocaram eu, minha mulher e minha filha de 3 anos na mesma letra e não no mesmo número de poltronas: 8E, 9E e 10E. Ou seja, um bem atrás do outro; no meio, só para piorar. Graças a um simpático senhor, trocamos para que as duas sentassem uma ao lado da outra. Fiquei entre uma senhora que fazia palavras-cruzadas compulsivamente (na 10F) e uma mulher do-tipo-esquisita (na 10D). “Personagem do Chico Anysio cujo bordão é ‘jovem é outro papo’, cinco letras: ‘Jovem’.

“Do-tipo-esquisita”, nesse caso, significa que ela usa All Star de cano baixo, camiseta preta de banda (que não ousei verificar qual, para não olhar fixamente para os peitos da passageira) e calça surrada. Ah, e a barriga de fora. Algo meio indecente para uma não-tão-jovem, de seus 40 anos, um tanto quanto fora de forma. Ela começa a ler uma Superinteressante e eu a minha Rolling Stone. Percebo que, como eu, tem o hábito de folhar de trás pra frente. “Tá bem…” Dá risadas esporádicas, provavelmente, por causa do característico estilinho bem-humorado do texto. Depois de uns 20 minutos de leitura, ambos guardam suas revistas nos respectivos bolsões das poltronas da frente, sincronizados. Em alguns segundos, ela me aborda: “vamos trocar?” É claro que sim. “Eu tenho esta Super em casa, mas ainda não li tudo.” Ela diz: “eu só leio a Super, a Rolling Stone e a Vida Simples”. “Eu não leio a Vida Simples, mas minha mulher lê.” Leio de tabela. Dá vontade de dizer que meu banheiro é lotado dessas três revistas, mais a Veja, e perguntar se ela também cultiva essa mania info-intestinal. Do outro lado, “gás involuntário emitido pelo intestino (culto), cinco letras: flato.”

Certamente, ela não lê Veja. Deve achar uma ferramenta capitalista de manipulação da massa semi-intelectualizada. Deixo pra lá. Ela vê uma foto do Axl Rose e me pergunta: “o quê? Este aqui é o Axl Rose?”. “É. Ou o que restou dele, depois de 15 anos gravando o Chinese Democracy.” Do meu lado direito, “ouro, elemento químico, duas letras: Au.”

O comandante avisa: “senhores passageiros, por favor, apertem os cintos, pois entraremos em uma área de instabilidade.” Mal dá para respirar e o avião começa a pinotear de um lado para o outro de uma forma que eu jamais experimentei. De repente, uma grande queda. A aeronave perde altitude de forma brusca. Uns três segundos que parecem uma vida e, no mínimo, calculo, uns 300 metros. É suficiente para, no reflexo, me agarrar na poltrona da frente e sentir aquele frio na barriga, comum nos parques de diversões. Sensação inédita para mim em um meio de transporte. Minha filha não demonstra reação. Tudo na paz. Na 10F, a senhora esboça um singelo “ai”“interjeição que caracteriza dor, duas letras”. Mas foi um susto tranquilo. Realizei que nunca vi um avião cair por problemas meteorológicos. “Normal”, penso. Já conheci um comissário que bateu com as costas no teto do avião em uma situação mais forte do que essa. Eu falo gracinha para a do-tipo-esquisita: “no desembarque irão cobrar o adicional por emoção”. “Aquele que gosta de aparecer, oito letras: saliente.”

Tensão superada, minha filha olha pra trás. “Muito louco o teu brinco!”, elogia minha companheira de viagem. Só para constar, é um brinco extremamente convencional; de criança. Ela se encanta com a menina, abre sua bolsa e começa a dar tudo que encontra pela frente: passadores, elásticos de cabelo — uns 15 elásticos de cabelo!

“Tá, eu não devia te contar, mas tenho um amigo que trabalha no tráfego aéreo de Brasília…” e me narra uma parte da transcrição do conteúdo da caixa de voz do Legacy envolvido no acidente que não vi publicada por nenhum jornal. Não cabe reproduzir aqui. “Objetivo do futebol, três letras: gol.”

Depois do pouso, ela surrupia a revista da companhia e diz que o filho adora Beach Boys: “Tem uma matéria com o fundador da banda aqui!” Nessa hora, a senhora da 10F já acabou todas as palavras-cruzadas e faz, absorta, a última marcação no jogo dos sete erros. Ah, um Coquetel tem o seu valor!

Decifrei o Lost (de novo)

O Mito da Caverna, de Platão, explica tudo. Comparem os passageiros do avião com os que vivem na caverna. Compare os Outros com os que vivem na luz. Compare os passageiros que têm mais contato com os Outros, com os que estão cegos pela nova luz. Compare os passageiros lutando com os que matariam para não deixarem seus companheiros serem ofuscados pela nova luz.

Está tudo aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna

O Primeiro

Algumas vezes, quando estou andando por um local mais ou menos remoto, penso que sou a única pessoa que pisou naqueles centímetros de terra. Não me refiro ao fato de ninguém ter estado lá, mas de não terem tocado o solo exatamente no mesmo local que eu. Viagem. É uma mania. Às vezes penso coisas assim. Claro que não se compara ao sentimento de alpinistas, mergulhadores ou astronautas. Esses, sim, são verdadeiros aventureiros que passeiam por locais realmente inexplorados. Talvez seja minha veia desbravadora pedindo para eu mandar tudo às favas (leia-se: “à merda”) e partir rumo à liberdade. Não. Acho que não. Não sou assim, definitivamente.

Mas nesse pensamento que me visita com frequência tão grande quanto a de minhas excursões exploratórias — ou seja, de cinco em cinco anos —, recentemente quebrei um de meus recordes imaginários. Só que dessa vez, tenho uma forte intuição que fiz algo inédito.

Saí de Pelotas às 4h da madrugada, em uma das noites mais frias do ano. A sensação térmica no sul do sul do Brasil estava na casa das dezenas de graus negativos. Depois de escalas e conexões em Porto Alegre, Campinas e Brasília, cheguei em Palmas (Tocantins) com uma temperatura, até agradável, mas acima aos 30ºC. Tive certeza absoluta que, dessa vez, eu era o único: o primeiro ser humano a usar ceroulão em Palmas.