Mas que mania…

Entre diversas coisas ruins que a gente sempre espera que nossos filhos não passem ou que não façam, algumas parecem tão bobas que geralmente nem chegam a ser preocupantes de fato. Mas são justamente essas que podem repercutir em (ou ser consequência de) outros aspectos da personalidade da pessoa, aí sim, bem mais graves.

Algumas das manias com desdobramentos ocultos que prefiro que minha filha não tenha:
– tirar a casca de pão de sanduíche;
– separar passas do arroz à grega, o pimentão do salpicão, a azeitona do pastel;
– deixar a borda da pizza no prato;
– estacionar o carro de ré no supermercado (pra quê, se é preciso guardar as compras no porta-malas?);
– não tomar leite, ou leite quente, ou leite gelado, ou café com leite;
– dizer que não gosta de comidas que nunca provou;
– cochichar na frente dos outros;
– valorizar somente os amigos que possam lhe dar algo em troca, que não só amizade;
– reclamar da vida sem parar, achar que é vítima do mundo.

Entre outros.

Brasil: Caos

As instituições de nosso País são essenciais para garantir os nossos direitos de cidadão. E isso é muito mais profundo do que possa parecer.

Quando os hospitais públicos (e todo o sistema) começaram a dar sinais de falência, passamos a freqüentar opções privadas e a contratar planos de saúde; quando a previdência social se mostrou incapaz de nos garantir uma aposentadoria digna, migramos para as ofertadas pelas grandes instituições financeiras; quando a segurança pública iniciou a ficar caótica, aumentamos nossos muros, compramos seguro contra roubo e contratamos seguranças para nosso comércio e, alguns, até, para suas próprias vidas; quando a educação pública começou a ficar impensável, colocamos nossos filhos em escolas particulares; quando descuidaram de nossas estradas ainda as venderam para a iniciativa privada e, agora, pagamos para andar nelas (mais uma vez); quando o transporte público começou a dar sinais de ineficiência, compramos mais carros e, muitas, muitas motos; enfim, quando nos demos conta que o imposto que pagamos ficou exorbitante, não estava sendo utilizado como deveria, era roubado na maioria, achamos que deveríamos passar a sonegar, a dar um jeitinho de minimizar a perda.

O brasileiro aceita tudo, não reclama, e sua passividade acaba virando mais que isso; em alguns casos vira falta de caráter. Agora, o nosso sistema aéreo, até então, motivo de orgulho da nação, começa a entrar em caos. O que iremos fazer? Andar só de ônibus. E o pior é que os mais prejudicados com isso são, novamente, quem não tem grana para pagar pelas alternativas, nem entendimento suficiente para questionar. Não se muda leis fingindo que elas não existem. Não se faz valer um direito, procurando outra forma de utilizá-lo. Só existe uma forma de mudar: é reivindicando. Vocês já pensaram como todos seríamos ricos se nosso país funcionasse de verdade? “Ricos” em todos os sentidos?

Sem Fio

Não sei se pode-se chamar tecnicamente de ruído de comunicação. Na verdade, é uma imperícia, falta de cuidado ou, talvez, até falta de atenção/respeito pelo que os outros dizem. Se bem que, às vezes, algumas pessoas não sabem nem como dizer claramente, mas precisamos cercar todas as possibilidades para ter certeza que estamos entendendo o que querem dizer. Também precisamos ter certeza que estamos sendo perfeitamente compreendidos. Comunicação é aquillo entendem do que falamos e não o que falamos.

Sabem telefone sem fio?

Pessoa 1: Tem algo de estranho com este morango. Pode ser que esteja estragado.
Pessoa 2: Ele disse que o morango está estragado.
Pessoa 3: Disseram que não gostam de morangos.
Pessoa 4: Odeiam morangos.
Pessoa 5: Se aparecer um morango na frente deles, a gente tá morto.

É assim que começam as guerras.

Futebol não se discute?

Tem gente que fala que gosto e religião não se discutem. É claro que se discutem. É óbvio. Trata-se de opiniões pessoais e não de sensações ou estabelecimentos científicos inquestionáveis. Se discute sem parar justamente porque é impossível que se chegue a alguma conclusão e alguém seja convencido do contrário. Não se deve, mas se discute.

Ontem, quando o Brasil ganhou da Argentina por 3×0, pela Copa América, eu percebi por que todo mundo discute sobre futebol — apesar, também, de nunca ninguém convencer o outro ou chegarem a um consenso: por mais que se estude, crie-se táticas, analise-se e critique-se, futebol não faz o menor sentido. Por isso, vai ter sempre gente para discutí-lo.

Olhem o que aconteceu nesta Copa América:

-> Argentina ganhou do México por 3×0 -> México ganhou do Brasil por 2×0 -> Brasil ganhou da Argentina por 3×0 -> …

Ou seja, a cobra comendo o seu próprio rabo. É por isso que eu não gosto de futebol.

Discutir religião?

Não sou nenhum tipo de teólogo, sociólogo, antropólogo ou sabe-se-lá-o-quê-ólogo para estudar as relações entre homem e suas crenças. Mas além da verdade absoluta de que a religião é o ópio do povo, algumas questões interessantes permeiam minha mente sobre esse tipo de comportamento humano, mais especificamente no que diz respeito às igrejas de massa.

As pessoas vão em busca de algo para si e nada mais — são mesquinhas. Isso se verifica quando vemos alguém pedindo a “Deus”, por exemplo, que o seu time de futebol vença um jogo, que não chova no fim de semana ou que alguém de idade, da sua família, não morra. Ora, se o seu time ganhar o outro vai perder. Se não chover para você passear no fim de semana talvez a agricultura seja prejudicada. Se seu ente não morrer, quem irá morrer no seu lugar? Ele viverá pra sempre? Todo mundo não pode viver para sempre. É uma dança das cadeiras. Se esse “Deus” para quem se reza realmente existisse, no ato, um raio fulminante cairia na cabeça de quem teve a cara de pau de pedir coisas assim.

Para alcançar o que procuram (salvação, lugar no céu, alívio a suas dores, sensação de consciência limpa) estão dispostas a qualquer tarefa, qualquer sacrifício, quaisquer gestos que sejam solicitados, menos o de não atrapalharem a vida alheia, terem respeito pelas opiniões divergentes as suas, comportarem-se como verdadeiros cidadãos em uma sociedade. Aí é que se percebe que ética e moral não andam tão lado a lado com religião como prega-se hipocritamente. Consciência não se lava com água-benta nem com sabonete de arruda.

São cegos seguidores — daí a perfeição do termo “rebanho” — já que não questionam nem desenvolvem raciocínio próprio e lógico sobre o que está sendo transmitido. Só seguem o pastor. Na maioria, são incapazes de interpretar, por si mesmos, os escritos que regem sua doutrina — são guiados pela visão de um sacerdote ou clero (nos significados genéricos dos termos) que muitas vezes divergem entre si em suas opiniões e pontos de vista. Ou seja, acreditam em uma verdade de ocasião.

Rezam sem saber o que estão dizendo (antigamente as missas até eram em latim), balbuciando palavras, não raramente, fora de seu vocabulário. Se seus murmúrios acalmam, condicionam ou unem as pessoas em torno de uma energia revigorante, é porque funcionam como mantras, pois ninguém presta atenção de fato no que fala.

Eu não sei se sou ateu. Às vezes me pego conversando em silêncio com alguém. Pode ser uma pequena chama de algum tipo de fé dentro de mim. Pode ser minha própria consciência. Mas não peço nada para mim. Não peço isso a ninguém, muito menos a esse eu-mesmo que me habita. Quando tenho vontade de pedir, não o faço; agradeço pelas coisas boas que tenho; peço pelo não-sofrimento gratuito dos outros, mas não tenho coragem de fazer o mesmo em meu nome. Será que acho que não mereço? Será que acho que outros são mais merecedores do que eu? Essa é a minha crença — acredito nas pessoas. Talvez isso seja minha cegueira, meu guia, minha incompreensão; minha religião, meu ópio.

Neve em Pelotas

Hoje nevou em Pelotas. Logo após ao meio-dia. Talvez não em todas as partes da cidade, mas, é certo, em muitas delas. Tá bom, tá bom! A neve nem chegou a tocar a superfície, mas, sem dúvida, existia a uns 200 metros de altura. Se Pelotas fosse menos úmida e mais alta teríamos o chão branco, como um merengue de sobremesa para nosso almoço de quarta. Olhei pela janela e lá caiam “pingos” espessos e leves, quase retilíneos, em velocidade reduzida e vindos de diferentes direções. Eram quase flocos. Com um pouco mais de “sorte” e menos densidade, a elite pelotense teria motivo europeu para tirar seus sobretudos do armário e, como verdadeiros pseudoparisienses que são, agiriam com normalidade e desdém pelo fenômeno meteorológico do qual fingiriam ser habitués. É claro que la societé pelotense mal sabe que em Paris neva (quase) tanto quanto em Gramado. Mas como nada disso aconteceu de fato, vamos pelo menos ficar com a imaginação, para poder falar mal de alguém, nem que seja um alguém-coletivo, que vangloria-se nos vidros traseiros de seus carros, de frequentar Punta de Leste. Vive la différence!

Clientes pacientes

Consultórios médicos sempre me intrigaram.

Já repararam como alguns “doutores” se sentem super-heróis ou pop stars inacessíveis? Falo especificamente do momento em que eles cruzam atrasados, pela sala de espera, para o primeiro atendimento. A maioria nunca cumprimenta. Passa reto. Quando o “próximo” entra em seu consultório, finge que está vendo a pessoa pela primeira vez (provavelmente, até está, mesmo) e é todo simpatia. Faz parte da magia.

E a pontualidade? Médico sempre atrasa. A gente marca hora mas nunca é atendido quando combinado. É incrível que as secretárias — que, no geral, ficam anos com o mesmo médico — não tenham a mínima idéia da média do tempo que ele leva em consulta normal ou revisão, nem do quanto seu chefe costuma atrasar sua chegada diariamente. Se tivessem, usariam a agenda de forma mais inteligente. Se você tem hora no final do período, pode estar certo que esperará muito para ser atendido. Mas muito mesmo. É aconselhável ligar antes ir para não perder tempo. Assim como ser um azulzinho, às vezes tenho vontade também de ser secretária de médico. :)

E os propagandistas de laboratórios farmacêuticos? Por que não é exigido que marquem hora? Passam na frente de todo mundo. E nem doentes estão. Claro que isso não acontece nos consultórios psiquiátricos, onde você é um pouco mais cliente do que paciente, pois cobra-se por hora e, aí, time is money. Lá os propagandistas não são atendidos fora de hora.

Há algumas semanas, fui consultar com um conhecido dermatologista. Meu horário era às 14:20. Já havia marcado no começo do dia para evitar contratempos. Cheguei às 14:19, como um perfeito e legítimo chato virginiano. Adivinha? “O doutor está atrasado. Tem 4 na sua frente.” “Mas como?”, indaguei. “A que horas ele começou a atender de tarde?” “A uma e meia.” “E ainda tem quatro na minha frente?” “Pois é. Sabe como é… O pessoal dos laboratórios tem preferência.” Meu sangue ferveu. “Ah, é? Tem preferência? Deve ser porque eles trazem brindes, né?”, ironizei. “Antes fosse… Hoje em dia é uma dificuldade arrancar uma canetinha que seja deles”, disse simplória a secretária. Tive que rir.

Garçon…

Por favor, uma água. Sem gás. Sem gelo. Sem limão. Sem açúcar. Sem ser diet. Sem sal. Sem pimenta. Sem alface. Sem cebola. Sem bacon. Sem ovo. Sem maionese. Sem borda recheada. Sem azeitona. Sem camisinha. Sem pintura metálica. Sem vaga na garagem. Sem abas. Sem cara de nojo. Sem reclamação. Sem má vontade. Sem glúten. Sem demora. Sem erros. Só uma porra duma água! Sem cuspe. Só água!

Você não comenta em um blog, quando:

1. você não tem nada a falar sobre o assunto – é claro;
2. você não quer que a pessoa saiba que você é visitante assíduo;
3. você estava indo comentar, mas a pessoa que o fez, antes de você, disse exatamente o que você diria;
4. você estava indo comentar, mas a pessoa que o fez, antes de você, escreveu algo tão constrangedor, que nunca seria escrito por alguém de bom-senso, que comentar a seguir dela denunciaria que você leu o que ela disse. É embaraçoso demais. Não dá nem pra fingir que não leu. Você prefere fingir que passou batido pelo post e seus comentários;
5. você sabe que tudo o que poderia ser dito só geraria conflito desnecessário e ainda te achariam um chato. Releve.