Pensando e Fazendo Merda – Manias e truques

VOLUME 2 – Lustrando a louça alheia

Por mais que você tenha um intestino britânico (em termos de pontualidade) como o meu, volta e meia uma emergência pode ocorrer e é preciso visitar a casinha de algum restaurante, aeroporto ou de amigos. O banheiro de nosso lar é um porto-seguro, mas contar só com ele é um luxo até para os mais organizados. Quando se está fora, nem sempre se consegue a concentração suficiente para fazer o que é necessário com desenvoltura e plenitude. Preocupações das mais diversas conturbam nossa mente motivadas pela sujeirada que estamos produzindo en rodeo ajeno.

Aqui vão umas dicas preciosas que vão tornar menos traumático o ato fora de nosso habitat.

Em locais onde te conhecem:
preparação – antes de mais nada, ao entrar no toilet, certifique-se de que há papel higiênico suficiente e que a porta pode ser trancada; existem locais em que a fechadura não funciona ou é daquelas em que se precisa dar um jeitinho;
respingos – cada vaso e cu diferem um do outro, seja pela inclinação da louça (que pode receber, ao invés da água, a massa pútrida diretamente sobre si, deixando marcas difíceis de sair) seja pela anatomia do seu próprio corpo (que pode despejar o dejeto em qualquer lugar do desconhecido receptáculo); por isso, aconselho que uma singela folha de papel higiênico seja, delicadamente, colocada sobre a água, avançando sobre alguns centímetros das paredes da cerâmica, para que receba seu presente sobre ela; isso irá garantir que não respingue na sua bunda (a conseqüência mais trágica do “tibúrcio”), nem que você deixe marcas na louça;
cheiro – você não quer “perfumar” o ambiente, claro; uma excelente técnica é, depois de finalizado, não levantar do assento para que o odor malígno não tenha liberdade de circular; puxe a descarga ainda com as nádegas coladas na tábua, mas tome extremo cuidado para que o turbilhão de água não as molhe; fique no tenteio, pronto para erguer-se ao primeiro sinal de alguma gota; só após realize a limpeza, mas nunca utilize-se de artifícios como desodorantes de ambientes; não há nada pior do que cheiro de bosta com bom-ar;
ruídos – abrir a torneira, o chuveiro ou puxar a descarga são os recursos mais conhecidos para que os pssss, pfffs e prprprprprpr sejam disfarçados.

Em locais onde não te conhecem:
– tirando a dica anterior da preparação, ignore todas as outras. Vá fundo. Cague com vigor. Cague tudo. Você não sabe quando terá um banheiro por perto novamente. Os outros que se fodam. Ninguém vai te ver de novo. Saia do banheiro com um sorriso de dever cumprido. Não precisa nem dar aquela fungadinha para fingir que não foi você o responsável. Liberte-se. Não tem nada melhor do que uma boa cagada.

Pensando e Falando Merda – Manias e truques

Sabem “O Pensador”, de Rodin? Há quem diga que ele está sentado, fazendo suas necessidades fisiológicas e pensando, é claro. É um convite a discorrer sobre um assunto que ninguém fala, mas todo mundo faz. Os Titãs já usaram o tema, em primeira vista escatológico, para fazer poesia. “Amor, eu quero te ver cagar”, é um dos versos de amor mais interessantes, sinceros que falam sobre a busca de uma intimidade total entre duas pessoam que se gostam.
A partir de hoje, este blog trará posts periódicos sobre a arte dessa outra escultura que acompanha o homem desde sempre.

VOLUME 1 – O papel higiênico

Pensar papel higiênico também é pensar o mundo, o ambiente que vivemos. Quanto mais eficientes formos no seu uso, mais responsáveis estaremos sendo com o futuro de nosso planeta. A escolha de um produto ideal requer raciocínio e exige atenção a alguns ítens básicos:

textura – não pode ser áspero que machuque, nem macio demais que não limpe;
resistência – não queremos que ele fure – nunca; por isso os de folha dupla levam vantagem;
preço – avalie o custo/benefício; papéis de folha simples podem ter valor mais baixo, mas se precisarem ser dobrados muitas vezes acabarão saindo mais caro;
perfume – definitivamente, sua maquininha de fazer popô não ficará mais aprazível com o uso de um com cheiro de pêssego; a teoria de que duas forças contrárias se anulam não pode ser considerada neste caso, pois cheiro bom e cheiro ruim não são vetores opostos; além disso, impossibilita seu uso para outras funções: quando se está com algum tipo de alergia ou problema respiratório, o que mais se deseja é não sentir nenhum aroma artificial desenvolvido para conotar limpeza na hora de assoar o nariz.

Em busca da marca ideal já usei diversas, das mais bagaceiras (como a antiga Garoto) às mais reconhecidas (como Neve). Minha constatação é que o Neve é macio demais, mesmo os texturizados. Ainda que com duas folhas, a primeira, geralmente esfarela; minha marca preferida é o Mirafiori, que parece um misto de tecido com papel. Ele não custa mais caro que o Neve, tem à venda no Krolow, e sua espessura permite maior economia.

Uma técnica para ter melhor aproveitamento na dobradura é, antes da primeira passada, virar apenas os primeiros dez centímetros sobre o restante da tira e ir procedendo desta maneira a cada limpada. É claro que ao destacar uma seção do rolo esta não deve ser demasiadamente grande, para que não toque à água do vaso. Já falei neste blog que eu não coloco papel sujo no cesto do banheiro. Coloco no vaso. O motivo disso é que eu acredito que guardar merda no banheiro não é muito higiênico. Acho que na água o papel se desfaz mais rápido, poluindo menos o ambiente, do se que jogado em um lixão, sendo levado pelo vento.

Aqui, até onde a criatividade humana pode chegar em termos de papel higiênico:

Amigo Secreto. Socorro!

Em alguns lugares do País, chamam de amigo-oculto. Atualmente, a maior instituição do Natal, o amigo-secreto, é uma grande prova do consumismo, materialismo e impessoalidade. Contraditório, no mínimo. Tudo começou quando o hábito carinhoso de presentear os amigos e familiares de quem se gosta foi ficando cada vez mais caro e distante da realidade do brasileiro. Mesmo que um ou outro ainda tenha respaldo financeiro que o permita demonstrar, para o seus, todo o afeto que nutri através de uma lembrança de final de ano, o ato pode gerar constrangimento. Quem recebe pode não dispor da mesma condição. Foi, então, que alguém teve a brilhante ideia de criar um sistema em que cada participante é obrigado a comprar algo para alguém que não deseja presentear (que não gosta ou não tem intimidade para tal). Para dificultar e tornar o processo ainda menos sincero e destituído de qualquer sentimento, resolveram estipular valor para o regalo de cada um: “o presente tem que custar entre X e Y”. Convenhamos que, se já é difícil ter alguma ideia boa que agrade a quem não somos íntimos ou até mesmo àqueles com quem não vamos com a cara, imagine ter que enquadrar o achado em uma faixa de preço perversa e doentia.

Em uma empresa de nossa cidade, este ano, decidiram, novamente, fazer amigo-secreto, mas só que um pouco diferente. Para deixar o mercantilismo distante, resolveram que todos os presentes deveriam ser feitos de forma manual ao invés de, simplesmente, comprados. Assim, não houve limites mínimo nem máximo de preço. O que contava era a criatividade e a intenção. Algum mais bruto entrou em pânico — “não tenho habilidade manual alguma!” — certamente imaginando uma toalha de crochê ou um pano de prato bordado que teria que fazer. Mas a intenção era bem mais sutil que isso. Poderia ser uma música, um poema, até mesmo um pudim. De fato, na noite da entrega, todos foram surpreendidos pela imaginação de seu amigo-secreto. Um fez uma caixa com 3 CDs com canções compiladas; outro uma camiseta personalizada, feita com técnica mista (stencil, patchwork e termo-transferência); um mais inspirado, fez brigadeiros de maconha (estilo Weeds), vindos em uma grande caixa, dispostos em potes individuais com rótulos explicativos e um CD de músicas apropriadas para curtir a degustação. Questões morais e legais à parte, é inegável a mão de obra e imaginação do autor. Dizem que a erva fritando com a manteiga tomou conta dos corredores do edifício e os vizinhos quase chamaram a polícia.

Meu pai já sugeriu uma vez que o verdadeiro amigo-secreto não deveria ser feito através de sorteio e nem mesmo revelado quem comprou o presente. Cada um escolheria um companheiro para presentear. Todos os pacotes seriam colocados em uma pilha com o nome dos destinatários. Depois, os pacotes distribuídos. Sem dúvida, alguns não ganhariam nada e outros levariam mais de um, de acordo com a simpatia e amabilidade que cultivaram durante o ano. Nada mais justo, não é mesmo? O certo é que os contemplados iriam embora pra casa imaginando quem teria feito tal agrado. Quem gostaria tanto deles a ponto de escolhê-los entre tantos. Nunca se descobriria.

Acho que o mundo não está preparado para isso.

Balas 7 Belo

Depois que pararam de embrulhar as balas 7 Belo com papel, por debaixo da embalagem principal, nunca mais o sabor foi o mesmo. O gostinho estava justamente naquele invólucro que, por mais que tentássemos tirar, nunca saia todo. Eu desistia. Dizia assim: “Mãe, não consigo tirar tudo!”. Ela respondia: “Não tem problema, meu filho. Um pouquinho de papel não vai te fazer mal”. E lá estava eu, no cinema, enchendo a barriga de 7 Belo com papel. Quando me aplicava para retirar todo ele, a unha ficava cheia de bala. Era impossível comer só a massa rosa. Mas tinha um gostinho especial; um gostinho de infância. Hoje, o produto vem embrulhado com um plástico ou algo semelhante, o que fez com que perdesse totalmente o charme e o sabor. As vendas devem ter despencado — óbvio que despencaram! — e as crianças de hoje em dia vão ficar sem saber o que é uma verdadeira bala 7 Belo. Ah, bons tempos que não voltam mais.

Mas que mania…

Entre diversas coisas ruins que a gente sempre espera que nossos filhos não passem ou que não façam, algumas parecem tão bobas que geralmente nem chegam a ser preocupantes de fato. Mas são justamente essas que podem repercutir em (ou ser consequência de) outros aspectos da personalidade da pessoa, aí sim, bem mais graves.

Algumas das manias com desdobramentos ocultos que prefiro que minha filha não tenha:
– tirar a casca de pão de sanduíche;
– separar passas do arroz à grega, o pimentão do salpicão, a azeitona do pastel;
– deixar a borda da pizza no prato;
– estacionar o carro de ré no supermercado (pra quê, se é preciso guardar as compras no porta-malas?);
– não tomar leite, ou leite quente, ou leite gelado, ou café com leite;
– dizer que não gosta de comidas que nunca provou;
– cochichar na frente dos outros;
– valorizar somente os amigos que possam lhe dar algo em troca, que não só amizade;
– reclamar da vida sem parar, achar que é vítima do mundo.

Entre outros.

Futebol não se discute?

Tem gente que fala que gosto e religião não se discutem. É claro que se discutem. É óbvio. Trata-se de opiniões pessoais e não de sensações ou estabelecimentos científicos inquestionáveis. Se discute sem parar justamente porque é impossível que se chegue a alguma conclusão e alguém seja convencido do contrário. Não se deve, mas se discute.

Ontem, quando o Brasil ganhou da Argentina por 3×0, pela Copa América, eu percebi por que todo mundo discute sobre futebol — apesar, também, de nunca ninguém convencer o outro ou chegarem a um consenso: por mais que se estude, crie-se táticas, analise-se e critique-se, futebol não faz o menor sentido. Por isso, vai ter sempre gente para discutí-lo.

Olhem o que aconteceu nesta Copa América:

-> Argentina ganhou do México por 3×0 -> México ganhou do Brasil por 2×0 -> Brasil ganhou da Argentina por 3×0 -> …

Ou seja, a cobra comendo o seu próprio rabo. É por isso que eu não gosto de futebol.

Ceroulão (parte 2)

Já falei sobre ceroulão neste blog. Mas agora vou dar a dica de como tirar o melhor proveito dele nestes dias de temperaturas zeradas.

Ordem para vestir as roupas (visualizem em vocês, não em mim):

1. cueca;
2. camiseta por fora da cueca;
3. soquete fino;
4. ceroulão por cima do soquete fino e da camiseta;
5. camisa de manga comprida por fora do ceroulão;
6. soquete grosso e comprido por cima do ceroulão;
7. calça por cima da camiseta de manga comprida;
8. blusão de lã por fora da calça (é claro);
9. jaqueta comprida por cima de tudo.

Eu nunca pensei que fosse usar ceroulão. Sempre me vesti precariamente, sentindo aquele friozinho o tempo todo. Só que a gente vai ficando velho e com mais frio, eu acho. Vi uma matéria, uma vez, sobre mortes em Londres no inverno. Os cientistas descobriram que as pessoas, mesmo morrendo por doenças do coração, por exemplo, estavam, na verdade, morrendo de frio, pois, como eu, sempre estavam com aquele friozinho constante. O frio compromete a saúde de várias formas. É, me convenci que o frio mata.

O Primeiro

Algumas vezes, quando estou andando por um local mais ou menos remoto, penso que sou a única pessoa que pisou naqueles centímetros de terra. Não me refiro ao fato de ninguém ter estado lá, mas de não terem tocado o solo exatamente no mesmo local que eu. Viagem. É uma mania. Às vezes penso coisas assim. Claro que não se compara ao sentimento de alpinistas, mergulhadores ou astronautas. Esses, sim, são verdadeiros aventureiros que passeiam por locais realmente inexplorados. Talvez seja minha veia desbravadora pedindo para eu mandar tudo às favas (leia-se: “à merda”) e partir rumo à liberdade. Não. Acho que não. Não sou assim, definitivamente.

Mas nesse pensamento que me visita com frequência tão grande quanto a de minhas excursões exploratórias — ou seja, de cinco em cinco anos —, recentemente quebrei um de meus recordes imaginários. Só que dessa vez, tenho uma forte intuição que fiz algo inédito.

Saí de Pelotas às 4h da madrugada, em uma das noites mais frias do ano. A sensação térmica no sul do sul do Brasil estava na casa das dezenas de graus negativos. Depois de escalas e conexões em Porto Alegre, Campinas e Brasília, cheguei em Palmas (Tocantins) com uma temperatura, até agradável, mas acima aos 30ºC. Tive certeza absoluta que, dessa vez, eu era o único: o primeiro ser humano a usar ceroulão em Palmas.

Clientes pacientes

Consultórios médicos sempre me intrigaram.

Já repararam como alguns “doutores” se sentem super-heróis ou pop stars inacessíveis? Falo especificamente do momento em que eles cruzam atrasados, pela sala de espera, para o primeiro atendimento. A maioria nunca cumprimenta. Passa reto. Quando o “próximo” entra em seu consultório, finge que está vendo a pessoa pela primeira vez (provavelmente, até está, mesmo) e é todo simpatia. Faz parte da magia.

E a pontualidade? Médico sempre atrasa. A gente marca hora mas nunca é atendido quando combinado. É incrível que as secretárias — que, no geral, ficam anos com o mesmo médico — não tenham a mínima idéia da média do tempo que ele leva em consulta normal ou revisão, nem do quanto seu chefe costuma atrasar sua chegada diariamente. Se tivessem, usariam a agenda de forma mais inteligente. Se você tem hora no final do período, pode estar certo que esperará muito para ser atendido. Mas muito mesmo. É aconselhável ligar antes ir para não perder tempo. Assim como ser um azulzinho, às vezes tenho vontade também de ser secretária de médico. :)

E os propagandistas de laboratórios farmacêuticos? Por que não é exigido que marquem hora? Passam na frente de todo mundo. E nem doentes estão. Claro que isso não acontece nos consultórios psiquiátricos, onde você é um pouco mais cliente do que paciente, pois cobra-se por hora e, aí, time is money. Lá os propagandistas não são atendidos fora de hora.

Há algumas semanas, fui consultar com um conhecido dermatologista. Meu horário era às 14:20. Já havia marcado no começo do dia para evitar contratempos. Cheguei às 14:19, como um perfeito e legítimo chato virginiano. Adivinha? “O doutor está atrasado. Tem 4 na sua frente.” “Mas como?”, indaguei. “A que horas ele começou a atender de tarde?” “A uma e meia.” “E ainda tem quatro na minha frente?” “Pois é. Sabe como é… O pessoal dos laboratórios tem preferência.” Meu sangue ferveu. “Ah, é? Tem preferência? Deve ser porque eles trazem brindes, né?”, ironizei. “Antes fosse… Hoje em dia é uma dificuldade arrancar uma canetinha que seja deles”, disse simplória a secretária. Tive que rir.

Garçon…

Por favor, uma água. Sem gás. Sem gelo. Sem limão. Sem açúcar. Sem ser diet. Sem sal. Sem pimenta. Sem alface. Sem cebola. Sem bacon. Sem ovo. Sem maionese. Sem borda recheada. Sem azeitona. Sem camisinha. Sem pintura metálica. Sem vaga na garagem. Sem abas. Sem cara de nojo. Sem reclamação. Sem má vontade. Sem glúten. Sem demora. Sem erros. Só uma porra duma água! Sem cuspe. Só água!