Estou Me Sentindo Uma Diva

O box do meu banheiro tem quatro sabonetes. Três deles eu uso, em cada banho. Mas isso nunca foi assim. Olha como começou.

SABONETE 1 – O bom e velho Phebo que sempre usei. Ótimo para quem tem pele oleosa, como eu.

SABONETE 2 – Quando a Alice (minha filha número 2) ficou uns dias no hospital, resolvi comprar um sabonete antibacteiano. Assim, evitaria levar maus elementos para casa. A partir daí, decidi sempre ter um desse tipo. Uma vez por semana, tomava uma banho só com ele, para tirar o grosso da sujeira “viva”. Até aí, tudo bem.

SABONETE 3 – Ainda por causa das crianças, sempre temos um sabonete neutro. Em ocasião de uma micose, o médico receitou que eu o usasse no local durante o tratamento. Sem grandes problemas.

SABONETE 4 – É o da minha mulher. Esse eu não uso. E ela só usa este.

Com todas as minhas manias e problemas em escolher entre uma coisa e outra, uso o Phebo (1) para o rosto e para o geral. Uso o antibacteriano (2) para os locais mais, digamos, sujos – todo dia. Uso o neutro (3) para locais eventualmente sensíveis.

Foi assim eu virei uma bicha dermoaflita. Alguém me dá um tapa na cara?

Só Quero Escolher Minhas Laranjas

Encontrar conhecidos no supermercado é constrangedor. Pelo simples fato de que você não topa com a pessoa apenas uma vez só. Principalmente, se vocês tomaram decisões diferentes no começo do trajeto. O mais trágico é quando se cruzam em todos os corredores. Alguns dão “oi” na primeira vez, um sorrisinho na segunda, depois fazem uma piadinha na gôndola da cerveja, do tipo “o pessoal na sua casa manda ver, hein?”. Por aí vai, até fingirem que não se conhecem no último corredor.

Mas pior mesmo é quando o caso é com aquele chato do seu vizinho. A cada passada de carrinhos ele lembra de um assunto diferente: são as árvores do seu pátio que jogam folhas nas calhas dele, os cachorros que usam seus canteiros como banheiro ou sobre o vizinho em comum que ele cisma em falar mal e jura que é mais chato do que ele mesmo. Nesses casos, aconselho que você faça hora na gôndola da maionese, fingindo que olha a tabela nutricional com atenção, para ver se descompassa o sincronismo.

Quando for para o caixa, é bom voltar ao início da loja para ver se fica bem longe. Se tiver sorte, ele não terá tido a mesma ideia que você: “Ah-rá, te achei!”

Chocolate

Algumas vezes me deparo com duas barras de chocolate. Se forem iguais, ou se me agradarem da mesma maneira, ingresso em um grande dilema: preciso decidir qual abrir.

“Já sei! Vou comer a que a data de validade estiver mais próxima. Assim, a segunda corre menos risco de estar velha quando bater a próxima larica.” Verifico, mas as datas são iguais.

Tento usar a razão para me definir. Como estou sozinho, escolher a com menos calorias é prudente. A mais engordante ficaria para uma possível divisão com alguém. “Mas as tabelas nutricionais são idênticas. Droga!”

Penso mais um pouco e crio novo critério de desempate: “Comerei a de pior embalagem, deixando a mais bonitinha dentro da cristaleira, de onde ornará minha cozinha”. Me dou conta que a cristaleira fica dentro do armário. Nem eu nem ninguém irá enxergar.

Imagino, então, quem poderá me visitar e qual delas gostará mais. Tanto faz. “Qual há mais tempo não como?” Não lembro. “Qual parece ter a embalagem mais vulnerável a possíveis formigas?” Equivalem.

Quando estou quase desistindo — o que seria até uma boa para a manutenção do meu peso —, uma luz brilha sobre minha cabeça: “Ordem alfabética! A solução para a maioria dos dilemas do mundo. É isso!” Prestes a desempacotar o Diamante Negro em detrimento do Shot, sou traído por meu cérebro doentio: “Por que não a ordem alfabética inversa?”

Vestindo a Camiseta

Eu nunca usaria uma camiseta escrito “Eu visto a camiseta”. É uma expressão tão batida que quase nem escrevi aqui. Mas o significado compartilho totalmente. Cerca de 90% de minhas camisetas são lisas. A maioria é escura (como preta, azul marinho…). Eu não compro, nem visto nada que não me represente, que eu não tenha a intenção de dizer. Tem gente que usa estampas que nem imagina o significado. Algum publicitário-otário (mais otário do que eu) irá chamar isso um dia de “tee-door”. Compreendo que adolescente, em fase de autoafirmação, tenha orgulho de exibir em seu tórax marcas de surfware, frases em inglês inteligível, imagens abstratas que não entendem (com viés artístico, tudo bem). Normal. Também tive esta idade. Agora, uma peruete portar essas maxi-bolsas escrito “I Love Colcci” é um pouco demais. Não tem nada melhor para amar? Ou para exclamar que ama?

Algumas de minhas camisetas que lembro (algumas da Threadless, outras da Banca de Camisetas) e que se referem a algo:

– “Stop destroying our planet. It´s where I keep all my stuff”;
– “Ajoelhe-se diante Zod”;
– “CD kills K7”;
– “Why are you so farway from me?” (desenhada pela Ana Margarites, com trecho da letra de minha música preferida de minha banda preferida, Weezer);
– “Sheakespeare hates your emo poems” (não, Weezer não é emo);
– com a tela do Space Invaders, do Atari;
– seleção francesa de futebol (comprei depois que venceu merecidamente o Brasil na Copa de sei lá quando);
– seleção holandesa (adoro essa camiseta retrô deles, é quase um manifesto aos uniformes “espaciais” das outras seleções na Copa anterior);
– seleção brasileira.

E, é claro, as de bandas:

– Titãs, com “A Expressão de um Homem Urrando” de Leonardo Da Vinci, capa do cabeça Dinossauro;
– Titãs, uma de turnê;
– Police, do show no Rio;
– Ramones;
– Dave Matthews Band;
– Weezer (2).

Quero ter (fazer):
– com a falha Guru Meditation do Amiga;
– com a frase “Estou guardando lugar na fila”.

Eu Não Quero Uma Ferrari

Nem um Porsche, nem um Lamborghini. Mesmo de graça. Não é nem só pelo valor do IPVA, do seguro ou da visibilidade exagerada. Também não quero um New Beetle, nem um Fiat Cinquecento, nem um Mini Cooper. Mesmo que tivesse dinheiro para tal investimento, depois que se cresce, os sonhos de criança mostram-se ainda mais improváveis. As necessidades de ser um pai de família inviabilizam determinadas coisas. Eu preciso de um porta-malas grande e de um banco de trás espaçoso. Cheguei à conclusão que alguns carros são lindos, mas me contento em apenas olhar; admirar os dos outros. Sem nenhuma inveja ou frustração. São coisas que não me servem. Se colocarmos na mesa as possibilidades financeiras e as opções disponíveis que atendam minhas necessidades, sobram dois ou três modelos. É por isso que eu tenho um Corsa Sedan.

(que baita mentira)

Todo Homem que se Preza

Todo homem que se preza tem um cortador de unhas. Só seu. E tem orgulho. Compara com os dos amigos. Gaba-se. Cortará suas garras, semanalmente, 52 vezes por ano, aproximadamente.

A melhor forma de configurar uma tradição, é ganhá-lo de seu pai.  Mesmo que não seja o dele. Mas, certo, há de ser melhor. Maior, pelo menos. Além de mais imponente. Daí veio o meu.

Não se compra um cortador de unhas. Ele vem. De uma forma ou de outra, você o reconhecerá só de olhar. Será aquele que tentar te matar; que é preciso domar para que não fira sua pele nem avance demais o corte. Você não se conectará a ele por USB, nem pelo cabelo, como em Avatar, mas pelas cutículas molhadas, salientes e inchadas pelo banho.

Homem que é homem não usa o alicate de sua mulher. Ela é que recorrerá ao seu, pedinte, quando desprevenida.

Todo homem que se preza tem um cortador de unhas. Só um. E o terá até sua morte.

O Pior Sotaque do Mundo

A língua é um dos maiores patrimônios de um povo. Ela e suas diferentes nuanças e subdivisões. O jeito como nos expressamos, as palavras que criamos e que transformamos são parte do que somos. Esse processo ajuda cada sociedade e microssociedade a tornar-se única. Todo mundo está careca de saber. Porém, os diferentes acentos linguísticos são também causa de desavenças interculturais e preconceitos. Inclusive meus.

Não tenho dúvida alguma que o sotaque mais detestável do mundo é o do gaúcho. Mais precisamente do porto-alegrense. Mais precisamente ainda do “magrão” porto-alegrense. Lembrando que o termo “magrão” é mais uma das expressões típicas de nossa cultura e que ninguém reconhece nos demais cantos do país. Mas não é isso que me dá nos nervos.

O que me incomoda não é o acento natural do porto-alegrense (que espalha-se como peste no interior do estado), mas a forçação-de-barra para deixá-lo mais jovial; a cantada arrastada na tentativa de ser mais aprazível, mais delicado, carinhoso.  E não são só os “magrões” que se valem do recurso. Olhem alguém comum dando entrevista na TV. Sempre exagera no arrastado, nos “nés”, nos “nés” arrastados. Arrrrgggg! Esses vícios só fazem piorar a já má impressão. Fico com vergonha alheia, (ou seria só “vergonha”) porque também sou gaúcho, também tenho sotaque, mas não faço parte desse grupo. Aos olhos de fora, todos falamos igual. Mas não falamos! Eu sou diferente! Eu juro.

Viagem econômica a Porto Alegre

Já ensinei neste blog como abrir uma caixinha de leite, escrever “súper”, “ano-novo” e “ano novo”, “tele-entrega”, se comportar em uma rótula, fazer um bife, evacuar em banheiro alheio… Hoje, vocês aprenderão como economizar grana da gasolina ao ir e voltar de Porto Alegre.
O combustível na capital é cerca de 15% mais barato do que em Pelotas. Com meu carro, um Corsa Sedan 1.4, consigo ir, dar umas bandas e voltar com exato um tanque de gasolina. Portanto, me certifico que ao sair tenha, precisos, 3/5 de tanque cheio. Isso é suficiente para a viagem de ida e para o itinerário rotineiro em Porto Alegre. Entro na reserva com o ponteiro quase grudado no fundo. Na hora de voltar, abasteço completo. Pronto! Minha jornada foi realizada apenas com combustível de lá. A economia é suficiente para pagar duas entradas de cinema.
ATENÇÃO: antes de seguir esta dica incrível e genial, certifique-se do consumo, capacidade do tanque e combustível que seu carro está usando. No mais, você precisa ser uma pessoa fria, calculista e entender que, quando o ponteiro chega na reserva ainda dá para rodar mais cerca de 50km.

Um Feliz Ano Novo, Sem Hífen

Por que as pessoas acham que “Ano-novo” sempre leva hífen?

– “Feliz Ano-novo!”, escrevem.

Por quê? Se é o mesmo que dizer “feliz novo ano”. Então seria também “feliz novo-ano”? Na minha humilde opinião, só leva hífen quando nos referimos à festa: “onde vais passar o Ano-novo?” Obviamente, a pergunta não faz referência ao local onde se irá passar o ano que chega, mas ao da comemoração da virada. Neste caso, um substantivo e um adjetivo se unem para formar um siginificado diferente do que têm seperados, por isso o tracinho.

O Bestial Futebol

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Aqui no sul, todo mundo só fala neste final de Campeonato Brasileiro de Futebol. O Internacional pode ser campeão se houver uma combinação de resultados que inclui a vitória do Grêmio sobre o Flamengo no próximo jogo. Como manda a ridícula tradição desse esporte, os torcedores preferem a desgraça de seu rival do que a vitória de seu time.

Tanto os fanáticos tricolores quanto a esquadra gremista e seus dirigentes não escondem a intenção de perder propositalmente a partida contra o rubro-negro para prejudicar seu conterrâneo e desafeto colorado. Agora me diga: como a CBF, a FIFA, a mãe de cada jogador, o bispo, Deus — ou sei lá a quem mais cada um deles deve satisfação ética, legal, espiritual, ou moral — permitem que tamanha antidesportividade e falta de vergonha na cara aconteça sem punição? Não é o esporte que ajuda a formar o caráter do jovem, a construir uma nação patriota? Não é o esporte que une pessoas e povos em torno de disputas saudáveis; que inspira os homens a ultrapassarem seus próprios limites? Não é o esporte que nos ensinou a máxima “o que importa é competir”?

A disputa entre torcidas em tom de brincadeira é saudável. Cultivar a raiva e a falta de escrúpulos e de espírito esportivo é desprezível. Se esse tipo de conduta é condenável em outros níveis, como no profissional (quando se sabota um concorrente) e no social (quando se prejudica outra pessoa) para obter-se qualquer tipo de benefício, por que é tolerável no âmbito esportivo?

É por essas e outras que eu não acompanho futebol. Prefiro Mario Kart.