Cascas de Feridas — Oficina do Carpinejar

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Neste fim de semana, participei da Oficina de Crônicas de Fabrício Carpinejar, em Pelotas. Foi muito bacana. O cara é fera e fez com que muitos de nós quebrássemos alguns paradigmas pessoais.

Abaixo, publico o exercício do primeiro dia. Tivemos 10 minutos para escrever sobre um de nossos defeitos. Após a última linha, coloco o final alternativo sugerido pelo “professor” e, sem dúvida, melhor que o meu.

Arranco todas as casquinhas. Sim, casquinhas. Daquelas de ferida. Não resisto. E olha que tenho muitas. Até as fabrico só para poder cavoucá-las. Minha matéria-prima preferida são picadas de mosquitos. Dão uma coceira enorme. E o melhor é que sou alérgico. Isso facilita o processo. Quando recentes, aproveito a unha mais saliente e faço uma fenda. Fica parecendo uma bundinha. Depois, faço outra e vira uma marca em xis. Mais um outro xis envesado e tenho um asterisco. Nossa, como é bom! Ela fica vermelha. E pulsa. Como pulsa, meu Deus! Quando alivia, começo tudo de novo. Dezenas de vezes.

Com esse processo metódico e paciente, toda picada de mosquito no meu corpo vira uma casquinha de ferida. Quando acontece, posso arrancar em ritual sádico. E sabe o que é melhor? Elas voltam! Sempre voltam!

Tenho uma grande cultura de casquinhas que mantêm sob controle meus instintos mais primitivos.”

Final alternativo:
Durmo de janela aberta.”

Boa Companhia

Sou boa companhia de viagem.

Não tusso, não fungo e não espirro (muito). Não faço barulho para engolir líquidos nem sólidos. Não soluço. Não ronco de lado; eu durmo de lado. Não me engasgo com comida. Não me engasgo com saliva.

Acordo antes. Tomo banho rápido, porém dois por dia. Não deixo toalha em cima da cama. Só sujo um prato. Faço comida. Tiro a mesa. Bebo água.

Caminho 10km sem problemas. Não preciso ir ao banheiro frequentemente. Meu intestino é um relógio. Acompanho passeios, espero em lojas e carrego sacolas. Não reclamo de nada. De quase nada.

Não fico morrendo de fome se não como de três em três horas; nem de cinco em cinco, se necessário. Gosto de tudo, inclusive de provar novidades. Tomo qualquer tipo de leite, do desnatado ao integral. Uso açúcar ou adoçante — o que tiver.

Converso, mas pouco. Não grito. Sou discreto. Eu não encho o saco; mal respiro.

Pensando bem, talvez eu seja um péssimo companheiro de viagem.

Autoauto

Autopeças: peças de si mesmas.
Autoescola: o mesmo que autodidata.
Autoestrada: o caminho é o próprio destino.
Autódromo: local onde se corre para si mesmo.
Autopista: migalhas de pão pelo caminho.
Autoesporte: levantamento de si mesmo; levitação.
Autoshow: caras e bocas em frente ao espelho.
Autoshopping: vendo-me e compro-me.
Autocenter: egoista.
Autopark: bunda.
Autolocadora: free lancer.
Automodelo: quem experimenta suas roupas.

Automóvel: movido por si próprio; carro.
Auto-peças: peças de automóvel
Auto-escola: escola de automóvel
Auto-estrada: estrada de automóvel

Free Shops — Grandes Engana-trouxas

Me sinto assim em um free shop

Desde 1986, o governo uruguaio começou a instituir, em algumas cidades fronteiriças com o Brasil, zonas de duty free shops, ou seja, comércio livre de impostos. Primeiro foram Chuy e Rivera, depois Rio Branco, Aceguá e Artigas. Estas áreas são exclusivas para consumo de turistas e proibidas para os uruguaios — pelo menos isso é o que diz na lei do país.

Desde então, os locais começaram a virar frisson entre os brasileiros, por alguns motivos:

– oferta itens importados não encontrados naquela época no Brasil, devido a restrições de mercado;
– preços convidativos;
– qualidade de produtos primários nos quais o Uruguai detém excelência, como derivados de leite (queijo, doce de leite etc), por exemplo.

Porém o tempo foi passando. Os itens importados já estão disponíveis no nosso país. Os donos dos free shops foram enricando, tomando conta do mercado e adotando estratégias muito inteligentes para faturar mais, como todo bom negócio deve ter. Antenados na demanda dos brasileiros, o preço das mercadorias varia também em dólar de acordo com os valores dos produtos encontrados no Brasil e não apenas conforme os custos que têm. Assim, mantém-se o maior preço possível sem gerar desinteresse dos brasileiros.

Hoje os grandes free shops concentram-se na mão de duas ou três pessoas. Todos possuem os mesmos itens (quando variam, variam em todos). Por exemplo, uma marca de mostarda que tem em um está em todos, e assim por diante. As únicas coisas que ainda valem a pena comprar nesses locais são os produtos primários de origem uruguaia, alguns tipos de bebidas importadas e alguns itens de beleza feminina. Fora isso, praticamente todo o resto é um GIGANTE engana-trouxas.

Ontem estive em Rio Branco e resolvi listar alguns exemplos dos motivos que me fazem achar os free shops uma grande balela.

1. Se você vai em busca de uma marca famosa de roupas para ostentar no peito, você é um imbecil. Continue indo comprar, pois você merece. Hoje o Brasil está muito bem servido de roupas de qualidade, sejam nacionais ou importadas com preços similares ou menores do que os praticados lá.

2. As pessoas se confudem e, por pequenos lapsos de raciocínio, encaram as etiquetas com preço em dólar como se fossem valores em reais. É psicológico.

3. Um pacote de Kit Kat custa 17 dólares? “Como? Eu li bem? Tem Kit Kat no Guanabara a preço de Bis!” É assim como todas as “comidinhas”. Faça a conta.

4. Azeite! Compra-se azeites extravirgens ótimos como Gallo e Borges no supermercado por 10 reais a garrafa de meio litro. Em Rio Branco, 10 dólares a garrafa de um litro. Bullshit!

5. Uma garrafinha de alumínio por 34 dólares? “Como?” 68 reais?”

6. Um copo com bico para criança por 15 dólares? “Tem um ótimo no Big por 19,9 reais!”

7. Um barril Heikenen de 5 litros (excelente, por sinal), tá R$ 59 no Nacional e no Neutral US$ 25. “Vou comprar fora do país para economizar 9 reais?”

8. Há cinco anos atrás comprei lá uma calça Levis por 80 dólares. Há dois anos, por 110 dólares. Hoje, está 245 reais. “Nem a pau, Juvenal!” Nos Estados Unidos, os modelos variam de 30 a 60 dólares, no varejo. Imagino o preço que os free shops compram no atacado.

9. Os preços não representam vantagem que pague sua gasolina e, convenhamos, não é um local bom para passear, a não ser que o seu estilo seja consumista-desenfreado. Ou seja, nem o programa justifica.

10. Você vai voltar cheio de merda supérflua de que não precisa.

11. Ontem, o dólar em todas as lojas estava 1,94 (o de referência do Banco Central, 1,88). Se você usar cartão de crédito internacional terá uma cotação melhor que a deles, porém gastará 6,38% de IOF, o que acaba significando mais.

Coloque isso tudo na balança:

– preço nem sempre melhores;
– risco de pegar uma estrada;
– probabilidade de você ser parado na aduana;
– deixar dinheiro fora do país, em comerciantes de fora da sua cidade, para marcas estrangeiras, que não geram impostos no seu país (nem no Uruguai);
– correr o risco de ser visto em um free shop e ser reconhecido como um “semelhante”.

Decidi: tô fora!

Como Organizar Sua Geladeira

20120314-211726.jpgMe irrita muito uma geladeira bagunçada. Entenda como “bagunçada” espaços mal utilizados e perdidos, coisas no lugar errado, falta de provisões de itens diários, incompreensão de seu funcionamento e do consumo de energia. Não reclamo nem pela bagunça por si só — cada relaxado que cuide das suas coisas. O problema é o tempo que se gasta com a porta aberta procurando as coisas ou tendo que reorganizar tudo a cada volta do supermercado. Geladeira aberta é desperdício de energia e risco para os alimentos que ela conserva.

Vamos direto aos pontos.

1. ESPAÇOS
Já perceberam que há diversas alturas de prateleiras e tamanhos de compartimentos? Eles devem ser aproveitados de forma inteligente. Onde colocar uma garrafa PET de 2 litros se no lugar projetado a elas está um vidro de maionese? Procure usar os espaços com algo que os preencha com exatidão. Assim, sempre haverá lugar para as coisas maiores. Antigamente, se dizia que era melhor não guardar garrafas na porta, pois pesavam e a empenavam. Bom, meu vô já morreu e não tem ninguém mais pra dizer isso. E quero crer que a tecnologia de hoje nos proporciona dobradiças mais resistentes.

2. PROVISÕES INTELIGENTES
Você tem que ter água sempre gelada (por exemplo) suficiente para as pessoas que moram em sua casa. Uma só garrafa, de qualquer tamanho, nunca será suficiente, mesmo que você more sozinho. Calcule a sede do pessoal e tenha sempre duas ou mais, para não faltar. Explico. Faça uma fila de garrafas, para seus monstros não tomarem de duas ao mesmo tempo. Ao acabar uma, reabasteça e passe-a para o final da fila. Também nunca encha uma garrafa antes do fim, a não ser que for passar ela pra trás. Isso serve para todos os itens que necessitam de reserva de acordo com volume de consumo.

3. MANTENDO A TEMPERATURA
Ao voltar do supermercado ou da feira, desempacote tudo antes de começar a colocá-los no lugar. Agrupe os que vão pra geladeira e guarde-os todos de uma vez. Se for usar as gavetas de legumes etc., tire-as fora e feche a porta. Organize e recoloque-as depois. Geladeira aberta aumenta a temperatura muito rápido, gasta mais energia e prejudica a conservação dos alimentos. A minha geladeira tem um display externo que mostra a temperatura. Deixo sempre em 4ºC e fico apavorado quando, mesmo com esses cuidados, ele chega a mostrar 10ºC ou 11ºC. Dependendo da estação do ano, leva horas até voltar ao ideal.

4. ALIMENTOS QUENTES
Sua mãe diz para esperar esfriar antes de refrigerar. Depois que inventaram a faculdade de nutrição, passaram a ensinar o contrário; que você deve guardar mesmo quente, para que o alimento não inicie prematuramente sua putrefação. Eu sou contra. Colocar algo quente na geladeira pode ser bom para o alimento em questão, mas não para os demais que lá estão. Lembro sempre do meu display de temperatura indo às alturas.

5. O OVO
Alguém disse pra não guardar ovos na porta, pois ali a temperatura oscila mais. Ah, por favor! Como é que em um espaço de cerca de um metro cúbico vai ter tanta variação de temperatura? Só pelo deslocamento de ar que fechar e abrir a geladeira cria, o equilíbrio térmico é rapidamente alcançado. Entre a parte superior e inferior sim, pode haver significativa diferença, devido à maior densidade do ar frio. A porta é perfeita para os ovos, tem até os buraquinhos que imitam o cu da galinha. Tem gente que guarda ovos fora da geladeira! Também, ninguém vai querer os mesmos ovos por mais de duas semanas.

6. DESCONGELANDO ALIMENTOS
A melhor forma é tirando-os do freezer e colocando na geladeira. Leva mais tempo, claro, mas com um pouco de previsão, você consegue. Além de ser melhor para a qualidade do descongelamento e da conservação do alimento, tem uma vantagem que poucos se dão conta. O produto congelado ajuda a manter a temperatura baixa na geladeira e a economizar energia. Tchã-nam!

Não é difícil se você praticar. Sua conta de luz também agradece.

A Milenar Arte de Temperar o Ar Condicionado

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Quem fez segundo grau, passou no vestibular ou é bom observador sabe: o ar quente sobe e o frio desce — não confunda com a música Bom-chi-bom-chi-bom-bom-bom. Como a maioria dos condicionadores de ar são usados para resfriar, instalam-se próximo ao teto. O aparelho não tem condições físicas, em um primeiro momento, de resfriar o espaço acima dele. Todo o ar frio que lança no ambiente cai e assume o lugar do ar quente que sobe. Aos poucos, a diferença de temperatura entre o ar novo (frio) e o antigo (quente) vai reduzindo e o espaço entrando em equilíbrio térmico. Ao provocar essa circulação de ar forçada, garantimos menor gasto de energia, melhores conforto e rendimento.

DICA 1 — Não seja ansioso
Na refrigeração, deixe as paletas SEMPRE viradas para cima. Mesmo que esteja morrendo de calor e com vontade de receber vento gelado no pescoço, tenha calma. Pode acreditar: além de não fazer bem pra você, o ambiente será mais rapidamente resfriado, e de forma homogênea, se o frio for lançado pra cima. Na sala da minha casa, mesmo instalando no alto e posicionando as paletas para cima, o vento frio era jogado na cara de quem sentava no sofá. Mandei fazer uma lâmina (tipo bandeja) de acrílico transparente e fixei-a sob o aparelho, de forma a não permitir que o ar viesse em minha direção. Deu muito certo.

DICA 2 — Não confunda frio com vento
Os aparelhos de ar condicionado têm controle de temperatura e de potência do ar. Essa última serve apenas para lançá-lo mais longe e não tem nada a ver com a temperatura. Só é útil em ambientes muito compridos. Se você exagerar no vento em um lugar pequeno, vai jogar o ar frio no extremo oposto da sala, causando desconforto em quem está lá e não resolvendo o calor de quem está posicionado mais abaixo do ar-condicionado. Quem gosta de vento, use um ventilador.

DICA 3 — Não adianta colocar em 18ºC
O que todos querem com um ar-condicionado é que o ambiente fique agradável, e isso se consegue (depende do gosto) entre 23ºC e 25ºC. Eu prefiro 24ºC. Não vai acelerar em nada o processo, muito menos compensar o subdimensionamento do seu aparelho ao seu espaço, colocar no 18ºC. A grosso modo, o funcionamento de um split é assim: você coloca na temperatura que deseja e, quanto atingir, ele mantém automaticamente. O ar que sai é sempre da mesma temperatura! Colocar abaixo do pretendido só fará a máquina trabalhar sem parar até alcançá-la. E se ela não tiver os BTUs suficientes para o seu ambiente, não irá atingir NUNCA e não parará NUNCA de trabalhar.

DICA 4 — Dimensione corretamente (ou pra mais)
Não adianta tentar economizar comprando um aparelho menor do que o necessário. A conta de luz cobra isso de volta, e rápido! E mais, prefira um modelo inverter, que pode economizar até 60% de energia. Escolha marcas top! Qualquer outra solução é tapar o sol com a peneira.

DICA 5 — Para quem for tão chato quanto eu
“Ar-condicionado”, quando se referir ao aparelho condicionador de ar. “Ar condicionado”, quando estiver falando do ar que foi condicionado.

Anonymus Gourmet — Os Ataques Continuam

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A série de ataques do grupo conhecido como Anonymous continua, agora na televisão, sob a forma atentado gastronômico. Um integrante dos rebeldes, conhecido como Anonymus (sic) Gourmet, vem, sistematicamente, agindo contra o sistema alimentar global. Todo sábado, pela manhã, na RBS TV, quase sempre com auxílio de sua arma preferida — o liquidificador —, o rebelde propaga seus ideais desconstrutivistas.

Mas não é apenas contra a SOPA que o militante protesta. Hoje, foi contra o RISOTO (de camarão). Apesar de insistir que os espectadores não precisavam usar arroz arbório, mas um arroz “normal” (eu não sabia que o arbório era anormal), acabou valendo-se da tal variedade, que é mais indicada ao prato. Ao invés de colocar água aos poucos, secando e umedecendo diversas vezes, mexendo sempre, Gourmet cobriu os gãos com água, cozinhando como se fosse um prato convencional de arroz branco.

Depois de cozido, deixou de lado para preparar o camarão. Todo mundo que conhece o vero risotto italiano sabe que isso não se faz pois, depois que o arbório esfria, vira uma pedra. Porém, na hora de misturar o arroz com o camarão, acrescentou um copo de requeijão e um pote de nata. Ou seja, para tentar simular o efeito de um risoto bem feito, colocu 400g de gordura láctea em apenas duas xícaras de arroz.

Sei que Anonymus Gourmet é um personagem de José Antônio Pinheiro Machado, que tenta levar a simplicidade de preparo à mesa dos gaúchos. Acho surpreendente a capacidade que ele tem de ser fiel ao conceito por tanto tempo. Mas o programa peca no que tange a responsabilidade cultural. Acaba sendo um desserviço. Para quem já fez um suco de goiaba passando uma goiabada no liquidificador e disse que se deve colocar amido de milho a deixar reduzir o molho de tomate pois o sabor evapora, “desserviço” é elogio.

Ainda: se alguém souber em que língua está escrito “Anonymus”, por favor me diga.

Que Colher Você Quer?

Vejo muita gente que não sabe distinguir colheres pelo nome. Sei que não é tarefa fácil, claro. Então, resolvi fazer um guia prático e ajudar essas almas aflitas.

– Colher de café: a pequeninha, usada para mexer cafezinho.
– Colher de chá; a pequena, usada para mexer chá.
– Colher de sobremesa: a média, usada para comer sobremesa.
– Colher de sopa: a grande, usada para comer (ou tomar) sopa.
– Colher de arroz: a grandona, usada para servir arroz.
– Concha: só tem este nome porque já existe uma colher de sopa, usada para servir sopa.

Se você tiver alguma dúvida, pode perguntar que eu respondo, com prazer e alguns palavrões.

Jogando Par-ou-ímpar com Sérgio Chapelin

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Eu nunca vejo. Sério. Mas só as chamadas já me deixam nervoso. Sistematicamente, o Globo Repórter alterna os temas saúde e natureza em suas edições. Culpa do Sérgio Chapelin. Só pode.

Como é que um programa, com 38 anos de idade, se permite cair em uma mediocridade e monotonia de pautas tão absurda? É sempre a mesma coisa. Penso nisso há anos, cada vez que anunciam o próximo programa. Cheguei a desenvolver a seguinte teoria (que suponho ser usada pelos produtores para traçar eternamente a rotina de pautas):

– nas sextas pares, falam de natureza;
– nas sextas ímpares, de saúde;
– quando o mês tem 31 dias, o que faz com que sua última sexta seja da mesma paridade da primeira do próximo — por consequência, causaria uma repetição de temas — trocam a abordagem para algo inesperado, como construção civil, viagens, economia e nem lembro mais o quê.

Só pode ser coisa do Chapelin.

Óbvio que trata-se de estratégia comercial para atingir um público que não sai da casa à noite e sem opção melhor que lhe agrade para assistir: faixa etária elevada, dorme relativamente cedo, interessado pelos assuntos “doença” e “coisas-bonitas-desse-mundão-de-meu-Deus”. Ou seja, o Sérgio Chapelin. Aflitivo.

Deve ser mal de Sérgios, pois o programa do Groisman também não costuma apresentar temas novos, mas pelo menos tem música ao vivo. Tá certo, estou ficando muito chato; velho demais para o Altas Horas e ainda novo para o Globo Repórter.

Os Chatos Salvarão o Mundo

O mundo precisa de mais chatos. Não estou falando dos monótonos. Me refiro àqueles que enchem o saco.

O chato tem muito mais chances de ser incorruptível, obstinado, persistente. Ele não desiste nunca; não desvirtua. Você conhece algum chato inseguro? É preciso confiança e otimismo para ser chato. O chato é caxias, metódico, segue regras e gosta de criá-las.

Todo chato tem ideologia. Frente a quem não tem, é uma grande vantagem. O chato tem potencial incrível para ser um grande líder.

Só há três problemas: ninguém o suporta, poucos o levam a sério e, se fosse de fato brilhante, não seria tão chato; teria melhor estratégia e autocrítica. Autocrítica falha pode ser o começo da hipocrisia. Mas, se não fosse tão chato, talvez perdesse as demais qualidades.

Só o chato pode salvar o mundo, mas o mundo não quer ser salvo por ele. O mundo prefere o Super-homem.